sábado, 11 de outubro de 2008

O QUE TENHO A VER COM AQUILO QUE O MEU VIZINHO FAZ?



(IMAGEM RETIRADA DO BLOGUE "MOURAMORTA")
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Este recorte antigo de jornal fez-me lembrar e escrever sobre os casamentos homossexuais. Como se sabe, ontem, na Assembleia da República, foi chumbado o projecto do Bloco de Esquerda e de Os Verdes.
Um dos princípios que deve estar subjacente à política é a contínua construção de uma vida material melhor e, ao mesmo tempo, a criação de condições que, através de uma igualdade de representação, dignifique a pessoa perante a lei. Não se pede que, numa obsessão legislativa, o Estado, através da invasão da vida privada, tudo queira regular e, muito menos, os afectos.
Eu tenho 52 anos. Sou de um tempo em que a manifestação da sexualidade era proibida. Um simples beijo em público era repreendido com coima. Em criança, o simples pensamento de se poder ser confundido com o homossexual era aterrador. Ainda que possa parecer estúpido, muitos suicídios se consumaram por esta incompreensão da intolerante sociedade de 1960/70.
Deveria ser tempo de todos pensarmos que o que se passa no quintal do meu vizinho, desde que, directamente não me toque em prejuízo, nada tenho a ver com isso. Isto de acharmos que a sociedade deve ser uma virgem imaculada, cheia de virtudes, é o mesmo que querermos acreditar no Pai Natal. Para que serve este espírito de “bom chefe de família”, se, até os Romanos que o instituíram há mais de dois mil anos eram, nas virtudes, tão ou mais corruptos do que nós? E, para mais, poderemos questionar o que é um bom chefe de família? Públicas virtudes com vícios privados? É isso?
Talvez fosse altura de se entender que, tal como na natureza, tudo na vida humana é dinâmico, inclusive os costumes. A família não é mais o quadro com a moldura a que nos habituámos. E, quanto a mim, ainda bem. Se há algo que detesto é a hipocrisia.
Há três anos, juntamente com a minha mulher, estivemos em Espanha, mais propriamente em Sevilha. Numa esplanada repleta de pessoas, reparámos em dois casais de homossexuais que, com o maior dos à-vontades se beijavam em público. Das restantes pessoas, aparentemente, ninguém ligou nada à cena de amor praticada pelos dois "casais" de homens.
Não estou armado em bom samaritano, no sentido de dizer o contrário daquilo que penso, nada disso! Acho, tenho a certeza, de que cada um deve usar a sua liberdade de modo a que esta contribua para a sua felicidade e não o contrário.
Como trabalho em artes, ao longo das décadas, habituei-me a ter por clientes, entre outros, muitos homossexuais, homens e mulheres. Pois posso garantir que são pessoas com uma sensibilidade à flor da pele. São diferentes entre iguais? Certamente que o serão, para melhor. A história está repleta de grandes artistas homos, cujas criações foram importantíssimas para a humanidade.
Então a pergunta que surge, porquê continuar a discriminar estas pessoas em função de um egoísmo defensor de uma moral hipócrita e antiquada?
Às vezes chegamos a ser cruéis com o nosso próximo, como se a sua felicidade nos incomodasse. Chegamos a ser melhores para os animais que para as pessoas nossas semelhantes. Ontem, o JN noticiava que, na região de Coimbra, os bombeiros de Brasfemes tinham salvo uma gata, a Nana de seu nome, que tinha ficado presa num tubo de escoamento de águas pluviais. Bonito, sem dúvida. Mas este gesto de altruísmo deveria perpassar em dobro para as pessoas. Acontece que, a meu ver, não é assim.
O Governo, do partido Socialista, perdeu uma boa oportunidade de acabar com esta polémica. O arrastar no tempo não vai, como milagre da virgem, tornar as pessoas mais compreensivas, tolerantes, e aceitar a (diferente) sexualidade do próximo. Nem vai erradicar o voyeurismo, e a mania, de cada um se imiscuir na vida do outro.

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