(COMEÇA A SER PREOCUPANTE A NECESSIDADE DE CADA UM DE NÓS DEFENDER O QUE É SEU ATRAVÉS DA ACÇÃO DIRECTA)
Sou empresário na cidade já desde os idos anos de 1982. Antes de o ser, e apenas para se entender que subi a corda a pulso, fui empregado 15 anos por conta de outrem, quase sempre no comércio tradicional na Baixa de Coimbra.
Actualmente, tenho uma loja nesta zona histórica há cerca de 14 anos. Com uma área média de cerca de 100 m2, tem um mínimo de segurança, isto é, tem alarme e tem grades de ferro, que, à noite, ficam corridas.
Até há um ano atrás, nunca provei o sabor amargo de ter sido assaltado com violência. Para quem felizmente nunca foi, e para se entender melhor, é assim como quem come laranjas completamente verdes. Fica uma acidez na boca que perdura durante vários dias, como se tratasse muito além de uma ressaca etílica. Devo dizer, que ao longo desta quase década e meia na Baixa, e sobretudo nos últimos cinco anos, já fui separado forçosamente de vários objectos de valor durante o dia, sobretudo da porta principal do estabelecimento, onde coloco artigos para chamar a atenção de quem passa. Alguns, de grande volume, levaram sumiço como areia no deserto em dia de tempestade. Não deixa de ser curioso que, até há uma dezena de anos atrás, chegava a esquecer-me de pequenas peças penduradas nas colunas da fachada do edifício. No dia seguinte, lá estavam elas amarfanhadas mas em sentido, apesar de terem dormido uma noite ao relento.
Então, no ano passado, depois de uma insegurança que alastrou a toda a cidade e de vários comerciantes estabelecidos nesta zona histórica, durante a noite, terem sido escolhidos como alvos, alguns deles várias vezes, como se tratasse de uma roleta russa, através de intrusão, calhou-me a vez a mim. Tive um prejuízo de cerca de três mil euros em objectos que me foram roubados. Passados meses recebi o extracto de sentença de arquivamento.
Em Maio deste ano, cerca das 23 horas, mais uma vez fui visitado pelo(s) amigo(s) do alheio. Só que desta vez com mais violência do que a anterior. Foi quebrada a grossa porta de vidro-rochedo e forçada a grade de ferro, que aparentemente guarda o acesso ao estabelecimento. Saliente-se, a título de curiosidade, que o assaltante passou por um espaço na grade de 18 centímetros. Mais uma vez, e quase com o mesmo modus operandi, a lesão patrimonial foi muito para além de 1500euros. Como da vez anterior este roubo foi comunicado à PSP. Porém, desta vez, pensava eu, erradamente, o assaltante tinha deixado a marca de sangue na pedra lajeada e dentro do estabelecimento. Tinha-se cortado e, assim sendo, seria fácil chegar ao seu ADN. “Você anda a ver muito a série televisiva “CSI”, disse-me um agente de Segurança Pública quando o interroguei acerca daquela prova sanguínea. “Homem, acorde, isso é na América. Aqui, como cada exame de informação genética custa mil euros, o Ministério Público, nos assaltos de lana caprina, pura e simplesmente, não os autoriza para não se gastar dinheiro”.
A noite passada, de 16 de Outubro, exactamente às 00.39.42, a hora registada pelo alarme da Securitas, mais uma vez recebi uma visita indesejada. Quando cheguei à loja, passados vinte minutos, quase ao mesmo tempo da PSP, deparámo-nos com um cenário dantesco, infelizmente já meu conhecido. Para além da grade de ferro forçada, a porta estava feita em mil pedaços por um paralelepípedo. Dentro do estabelecimento, para além da caixa-registadora violada e sem umas centenas de moedas, várias coisas tinham sido remexidas. Com a pressa, para além da gaveta da máquina, alguns níqueis ficaram espalhados pelo chão como testemunhas mudas duma violência que cada vez mais é comum. Uma espécie de carjaking contra a pequena loja de bairro. Entre o que foi roubado e os prejuízos directos rondará os mil euros.
Como agora o alarme é da “Securitas Direct”, como quem diz, quando a intrusão é ilegal, se não for comunicada uma senha convencionada, o sistema, depois de uma ordem dada da central, fotografa o intruso. Como tinha a foto do ladrão, pensei, desta vez é que vai ser apanhado. Pois sim! Mais uma vez continuo à espera de resultados práticos, por parte da PSP, que me permita reaver o que me foi surripiado. “Pode ser, pode ser”, reflectem os agentes daquela polícia, tentando acertar no personagem e, ao mesmo tempo, animar-me. Se calhar condoídos com o meu estado de espírito. Pelo meio, lá vão dizendo, “a gente faz o melhor que pode, arriscamos a vida, prendemo-los e, no dia seguinte, estão cá fora. Você não ouve as notícias? O que podemos fazer? Actualmente, Coimbra tem quinhentos energúmenos referenciados pela PSP, cujo “trabalho” diário é assaltar pessoas e bens. Esta noite foi um pandemónio. Eles precisam de arranjar para a “dose”…então, aqui na Baixa, como não mora quase ninguém, estão à-vontade. É só pegar num pedregulho, apontar ao vidro da montra, entrar, servir-se, e sair sem pressas, que os poucos velhotes, que ainda moram aqui, não os incomodam”.
Comecei este texto com uma vontade louca de responsabilizar o presidente da Câmara de Coimbra, por, enquanto responsável municipal, no exercício de funções de política de protecção Civil, duma forma negligente e omissa, não pugnar pelo policiamento da PSP, durante a noite, na Baixa da cidade.
Queria dizer-lhe que se outros são os causadores, a nível nacional, da morte das cidades, a nível local, nesta cidade de Coimbra, por falta de políticas concertadas de revitalização e de segurança, ele é o coveiro que enterra, para além desta zona monumental, uma classe profissional que são os comerciantes.
Mas…fico-me por aqui. Estou cansado…
3 comentários:
Um abraço de solidariedade.
Ontem os assaltos em Coimbra foram muitos tanto quanto sei.
Muito obrigado pelo gesto solidário.
Um grande abraço.
Você que espera? É só bicheza nessa cidade. Quando passeio pela baixa é só malta esquisitódide. Parece uma Arca de Noé,mas de pessoas.
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