terça-feira, 21 de outubro de 2008
A INCOMPREENSÃO DA ARTE OU A INSENSIBILIDAE HUMANA
O Luís Cortês é um músico invisual que normalmente tem lugar cativo no Largo das Olarias, junto à Loja do Cidadão. Em Agosto, deste ano, já aqui escrevi, neste blogue, a história deste original cautautor, de voz melodiosa, em que, para além de escrever e musicar as suas próprias criações, no seu teclado, toca e canta canções de Roberto Carlos, Jorge Palma, Quim Barreiros, Tony Carreira e outros. Tal como escrevi nessa altura, é um gosto ouvi-lo. Facilmente, embrenhados nos nossos pensamentos, damos por nós a estancar ao som da sua música. Quando paramos à sua frente, reparamos que, mesmo tendo o braço esquerdo decepado, toca como um verdadeiro mestre a quem a sorte não deu possibilidades de aprofundar a sua vocação.
O que me levou novamente a trazer este facto à colação foi o facto de, hoje , no Diário de Coimbra, na página 4, com o título “Do teclado que anima ao barulho que incomoda”, escrever que ontem, na Rua Adelino Veiga, onde está, neste momento, a desempenhar o seu meio de sustento, “um agente da PSP lhe pediu para baixar o volume do teclado. Um telefonema a queixar-se dos decibéis elevados motivou a deslocação da autoridade, que, sem problemas, solucionou a reclamação. Para uns, a música estava alta. Para outros, o som não era incomodativo”.
Continuando a citar o jornal, “Luís Cortês (…) queixa-se da actuação das autoridades, nomeadamente da Polícia Municipal (PM). “Tenho licença, que tirei na Câmara, válida até 31 de Dezembro deste ano, mas sou, sempre ou quase sempre, importunado. Muitas vezes, ao sábado, estou aqui a tocar, vem a PM e diz que não posso ter o cestinho onde as pessoas deixam esmola, porque dizem que é mendicidade”, criticou.
Vamos por partes. Primeiro, a mendicidade não é proibida –por acaso, acho que o deveria ser, mas não é. Além de mais, em toda a Baixa assistimos a todo o tipo de “descarada” mendicidade com recurso a utilização de crianças de tenra idade –e esta sim é proibida-, no entanto, a PM passa ao largo e, fazendo de conta que não vê, pouco se importa. Nesta omissão, sou testemunha diária, tal como outros comerciantes.
Segundo, o Luís Cortês é de facto um artista, na verdadeira acepção da palavra. E se alguns residentes ou comerciantes não vêm a alegria que este homem, e outros, dão à cidade praticamente de borla, imprimindo uma sonoridade musical a becos e vielas já de si, para além da crise actual, geneticamente, muito tristes, o mínimo que se exige a quem fiscaliza e manda cumprir a lei é que tenha sensibilidade. E aqui não estou a defender a deficiência física do Luís Cortês, nem a sua necessidade de trabalhar. Estou a ser objectivo e a pugnar por algo que é positivo. A cidade, a Baixa, com as suas ruas quase desertas e tristonhas, de pouca gente ensimesmada nos seus problemas, precisa destes músicos. Será que ninguém vê? A Câmara Municipal deveria pagar a estes agentes, PSP E PM, uma viagem a Paris e, concretamente, aos corredores do Metro -por onde passou Jorge Palma-, para, in loco, apreciarem a música ali desenvolvida com o respeito do "Maitre" e de quem passa para tomar o trem.
Sem dúvida que às polícias cabe-lhes harmonizar os interesses dos residentes, dos comerciantes e destes artistas. Mas, para além de um queixume ou outro, sem o tornar despiciendo, é preciso sensibilidade, que habitualmente estes agentes não têm. O seu comportamento, o seu agir, é o de máquinas criadas para multar, levando tudo à frente, no estrito cumprimento da lei, como fanáticos de uma qualquer seita a pregar a palavra do “seu” Deus.
Haja alguém, de bom senso, que os mande pregar para outra freguesia. Se não for pedir muito, já agora, para uma freguesia o mais longe possível…talvez para a China.
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