Esta noite, a hora indeterminada,
energúmenos assaltaram a montra da Valise, na Rua Adelino Veiga. Com calma
–para quê ter pressa, se não há polícia durante a noite e os vizinhos, para
além de idosos, contam-se pelos dedos?-
desmontaram uma barra da grade protectora e entraram no espaço reservado
a exposição. Ali, no sossego dos anjos, sem afogo, que a vida é curta para quem
stressa, retiraram um vidro da calha sem o partir –finalmente estamos perante
ladrões conscienciosos, valha-nos isso ao menos- e, como se estivessem no
supermercado, de entre um variado sortido, escolheram umas trinta carteiras de
senhora e cerca de uma dezenas de porta-moedas. Supondo, presume-se que seria
para umas prendas em atraso pelo Dia Internacional da Mulher. Ou, se calhar,
como o anúncio na montra noticiava últimos dias a 70%, quem sabe se, apesar
desta redução, ainda acharam caro?
Se este caso não fosse demasiado
sério, poderíamos especular que só lá faltou o cartãozinho: “desculpe o
incómodo. Procurámos ser breves!”
Ao contrário do que se possa
pensar, até é de admirar a Baixa estar tão calma na criminalidade contra bens
patrimoniais. Quem quiser constatar a escuridão que por aqui vai, basta vir à
noite, se tiver coragem, é claro. Sobre este assunto, como maluquinho, há um
ano que ando a mandar comunicações para a Câmara Municipal e para a EDP. Ninguém
quer saber. Nem a mandá-los para o raio que os parta. Nada os sensibiliza. A Baixa para estes senhores não conta para nada.
Aos pequenos empresários, para se
desmotivarem cada vez mais, já não falta nada. Quando é que as autoridades,
nomeadamente o Governo através do Ministério da Administração Interna, como
lhes compete, olham para quem trabalha? Que futuro resta a quem arrisca tudo,
dando emprego a tantas famílias, sem segurança? Valerá a pena continuar a remar
neste oceano de infinito e sem terra à vista?
Os assaltos estão aí. Basta abrir
o jornal. São lojas, cafés, habitações, armazéns. Sem políticas sociais que
valham, interroga-se: o que querem fazer deste pobre país?
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