sexta-feira, 8 de março de 2013

EDITORIAL: DIA INTERNACIONAL DA MULHER



 Hoje, 8 de Março, é o Dia Internacional da Mulher. Nas ruas estreitas, aqui e ali, viam-se algumas pessoas a vender cravos furtivamente. Tentei travar conversa. Debalde. Havia medo nestas pessoas. “Não leve a mal”, disseram, “mas não podemos aparecer. Você sabe como isto está agora. Mesmo para tentarmos angariar uma dúzia de euros, temos de andar a fugir. Parece que nos querem empurrar para o roubo.”
Com a promessa de não mostrar o rosto, lá consegui tirar uma foto. Disseram-me que estavam desempregados e, vendendo um cravo a 1 euro, era uma forma de ganhar algum dinheiro.
Em reflexão, o que gostaria de pedir é que, por um momento, se pensasse se estaremos a caminhar no sentido correcto, dentro do espírito e da dignidade do trabalho. É certo que, no limite, até poderemos pensar que estes indivíduos, em concorrência desleal uma vez que não pagam impostos, estão a competir com uma pequena loja de flores que, tal como outro qualquer ramo, está num sufoco financeiro. Mas será mesmo assim? Será que estes pequeníssimos vendedores de minudências fazem sombra a alguém? Será que pelo seu interesse pessoal, ainda que egoísta, não estarão a alegrar, a perfumar as ruas e, sobretudo a lembrar o transeunte que, embora o devamos fazer todos os dias, hoje muito particularmente devemos oferecer uma flor ao nosso amor? Ainda digo mais, com esta prestação pública, ao recordar a simbologia, estão a empurrar quem caminha na calçada para uma qualquer loja de rosas. Aliás, foi o que se passou comigo. Se não me tivesse cruzado com estas pessoas, apesar de saber, não teria dado importância à data. É certo que acabei por adquirir um cravo a estes vendedores ilegais e fui a uma loja tradicional e comprei uma outra mais bem apresentada. Mas, uma coisa sei, se não visse estas pessoas na Baixa, não teria oferecido uma flor à minha mulher. Curiosamente, na pequena loja de flores onde fui, numa destas ruas estreitas, a proprietária foi-me dizendo que, apesar da crise, felizmente, até vendeu mais ou menos. “A mulher continua a ser a projecção dos olhos do homem”, enfatizou a sorrir.
Entendo perfeitamente que neste momento grave das finanças públicas todos os cidadãos activos –os reformados tenho muita dúvida- devem ser chamados a contribuir para pagamento da dívida. Ou seja, se o princípio está correcto, a forma é que está errada. Para tudo na vida são necessários parâmetros. O que quero dizer é que, genericamente, não se pode mandar alguém apanhar pedras sem explicar o tipo, o peso, o volume e o fim a que se destinam. Se assim não acontecer, poderemos ter de volta pedras de um grama, em forma de brilhantes, rochas de um quilo e outras de várias arrobas. Para complicar e lançar a confusão, só no fim se fica a saber que o destino das pedras seria a construção de um muro. Passando a metáfora, e voltando aos pequeníssimos vendedores de rua, é necessário alterar as condições de acesso ao trabalho. Tendo atenção às diferenças, não se pode classificar todos os mercadores por igual. As novas regras fiscais, obrigando todos a passar factura. São algo de absurdo. Por exemplo, para uma vendedeira de couves do Mercado Municipal, que nunca passou um cheque e mal sabe ler, esta obrigação é maquiavélica, discriminadora, destruidora e atentatória à sua dignidade de pessoa que sempre trabalhou e utiliza o labor como terapia da sua vida difícil. Então, pela impossibilidade de cumprir, só tem dois caminhos: ou desiste ou continua a vender ilegalmente.
Este emaranhado fiscal está a mandar para o charco milhares de portugueses de meia-idade que, perante as novas tecnologias, são disfuncionais. Só tecnocratas, que não sabem nada do que se passa nas ruas, podem legislar desta maneira. Para muitos milhares de portugueses, sobretudo da geração de 1950, o direito ao trabalho é muito mais do que um rendimento, é a razão directa para uma existência feliz. Num Estado de Direito não pode ser admissível uma insensibilidade como a que estamos a assistir.
Como disse em cima, se o princípio está correcto, que é o dever de todos os que auferirem rendimentos do trabalho concorrerem para a salvação da Pátria, é também obrigação do Estado criar leis simples, justas e que convençam, eficazes e acessíveis a todos. E como? Poderemos interrogar? Muito simples. Optar pelo imposto único. Com justeza e equidade, dividir por escalões todos quantos trabalham por conta própria. A cada empresário, grande ou pequeno, sem excepção, consoante o grau de escala em que se insere, caberá um imposto a liquidar após o final do ano em exercício. Não serão admitidos prejuízos e todos têm de contribuir. Se não der lucro que encerre. Se na sua legítima liberdade quer prosseguir na actividade liquida o imposto e continua. Como estamos a caminhar actualmente, em que se assiste a um confisco e se desmotiva a criação de riqueza, se nada se alterar depressa, vai morrer gente. E não escrevo sobre os sucessivos suicídios que todos os dias nos tocam e são noticiados como mortes naturais. Sem que nos apercebamos, poderemos estar a marchar para o terrorismo e para imitação de atentados iguais ao Médio Oriente. Se uma pessoa que tenciona suicidar-se e nada tem a perder o que lhe custa rodear-se de explosivos e levar consigo umas dezenas? Estou a ser alarmista? Pode ser. Mas os números de mortes por motu proprio não mentem. Eles estão à vista de todos. A relativa paz social conquistada nos últimos 60 anos na Europa pode estar em risco. Tomai cuidado com quem não tem nada a perder!

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