segunda-feira, 11 de março de 2013

O PESQUISADOR DE OURO



 Era uma tarde destas, acinzentada em que, como norma entre o negro carregado e a cinza , passámos a ser contemplados sem poder reclamar. Estava de cócoras, de olhos fixos na pequena ranhura que divide as pedras lajeadas da Praça do Comércio. Chamou-me a atenção como reiteradamente, com um fino arame, tentava retirar qualquer coisa do rego escoador de águas pluviais.
Chama-se Mário Santos. É natural da Covilhã e está na Baixa há cerca de seis meses. Está desempregado e recebe o Rendimento Social de Inserção. “Mal chega para comer", diz-me. "Muitas vezes passo fome. Por isso mesmo ando sempre a olhar para o chão e mais particularmente para estas ranhuras entre as pedras. Olhe ali! -e aponta para o fundo cheio de lixo- está a ver a moeda de euro? Já aqui apanhei várias peças em ouro, anéis, brincos, etc. A última rendeu-me 180 euros. A necessidade aguça o engenho. Não é assim que se diz?”. E ensaia um presumível sorriso no rosto duro marcado pelas intempéries da vida. 

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