(Imagem da Web)
Embora haja cadeiras vazias, o
homem está em pé na grande sala da administração pública. De vez em quando,
saído do visor de atendimento por número sequencial sai um “clique” a querer
indicar que está um funcionário à espera do próximo cliente. Reparei que, para além do seu olhar parado e fixo, de uma
das suas mãos um bastão branco com uma argola na ponta toca o chão. É invisual.
Se ninguém anuncia o número no visor como é que ele pode saber quando chegará a
sua vez? Começo por me questionar.
Chama-se Armindo Claro, tem 41
anos de idade e é completamente cego. Enquanto espero a minha vez, meto conversa
com o Claro. Como é que consegue saber quando chega a sua vez para ser
atendido? Já que nenhum empregado, alto e bom som, sublinha os números de
atendimento? Interrogo. Responde o Armindo: “Ora bem, normalmente tenho
prioridade. Está previsto na lei. Embora, diga-se, às vezes as pessoas não
entendem porque tenho necessidade de lhes passar à frente e reclamam. Aqui,
nesta repartição pública, apesar de não ter um segurança, sempre fui bem
atendido. Mas, de facto, já que você fala nisso e os visores são mudos,
deveriam ter mais atenção a situações como a minha, de invisual. A
administração, no mínimo, deveria ter aqui alguém para nos encaminhar. Esquecem
as nossas limitações. Olhe, por exemplo, eu recuso-me liminarmente a enviar o
IRS pela Internet.”
Fomos interrompidos por um
funcionário que saiu de dentro balcão. Depois de o cumprimentar com simpatia, colocando-lhe
a mão no braço, exclamou: “vamos lá então para o primeiro-andar, senhor
Armindo?”. E ambos foram engolidos pelo lance de escadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário