terça-feira, 31 de julho de 2012
HOJE O DIA MUNDIAL DO ORGASMO

Segundo informação recolhida no Facebook, "O Dia Mundial do Orgasmo foi informalmente criado em Inglaterra no dia 31 de julho -hoje, portanto- por redes de sex shops".
Pessoalmente nada tenho contra, antes pelo contrário, até acho giro. Porém há um senão, é preciso haver equilíbrio nesta questão. Ou seja, há que criar outros dias universais, como por exemplo: "Dia Mundial da Parvoíce"; "Dia Mundial" do Pedinte": "Dia Mundial do Cravanço"; "Dia Mundial do Cinco Contra Um"; "Dia Mundial do Vendedor Ambulante"; "Dia Mundial do Arrumador de Automóveis; "Dia Mundial da Prostituta" e tantos outros. Haja equidade, porra!
segunda-feira, 30 de julho de 2012
SAIBA O QUE VAI MUDAR NA NOVA LEI DO ARRENDAMENTO, EM NOVEMBRO...

O Presidente da República já promulgou a nova Lei do Arrendamento Urbano, que entrará em vigor em Novembro. Veja aqui, num excelente trabalho da Renascença...
UMA IMAGEM POR ACASO...
É o Celso Fonseca. Chamei-lhe aqui o "Homem Colorido". É um passageiro de cores matizadas que, como rima em verso alegre, dá cor a todos estes becos e ruelas...
QUANDO OS BURROS RIEM
(Imagem da Web)
O senhor “Zé da Burra” hoje
estava feliz. Feliz, não! Felicíssimo! Fui dar com ele e o seu jumento a darem saltos
de riso de gargalhar, os dois, ali na Praça 8 de Maio. Aquele escoicinhar de
bestas ouvia-se em todo o largo. Por momentos até dei graças a Deus o facto de
hoje não haver reunião da Assembleia Municipal. Ai!, palavra de honra, se
houvesse plenário, seria mais que certo aquele barulho interromper os trabalhos
dos deputados –bom, quer dizer, só se fosse algum pedido de Referendo para a
Reforma Administrativa agendado pelo Bloco de Esquerda, que isso até dava jeito
às restantes bancadas e ninguém se iria
chatear com aquele martelar na calçada dos dois animais. É claro que vocês não
sabem, nem têm de saber, mas eu tenho uma intuição levada da breca –só eu é que
o afirmo, mais ninguém, mas também não tem importância nenhuma- e quando vi os
dois burros, salvo seja, e que me desculpe o senhor “Zé”, a desmancharem-se todos
ali em frente ao paço do senhor Barbosa de Melo –que é o Regedor, e com este
não se brinca, haja respeitinho-, como Sherlock de ouvido à escuta, disse logo
para os meus botões: alto e pára o baile, que ali há coice, ou melhor, coisa!
Como sou um descarado do caraças –palavra,
juro por esta chuva que hoje nos borrifou-, tratei de interromper o bailado e
fui falar com o engenheiro hortícola e a fazer doutoramento ali nos campos do
Mondego.
Está bem, está! Mas ele dava-me lá
alguma atenção? É o dás! Ria, ria que parecia coisa má. Por momentos, eu seja
ceguinho, até pensei que estavam os dois possessos, homem e burro. Sei lá,
comecei logo a imaginar coisas. Quem me diz a mim que não fosse o espírito do
falecido Mendes Silva, incarnado nos dois “asnos”, a rir-se das obras do
projecto do Metro Ligeiro de Superfície? Claro que, como não tinha a certeza, nem
avancei para o tema porque se tivesse, ai, nem quero pensar!, eu arrumava-o
logo ali com um directo aos queixos, salvo seja. Perguntava-lhe ali mesmo para
o arrumar: “olhe lá ó seu asinino, você pode lá rir-se desta comédia em vários
actos se, afinal, até mandou levantar os carris do eléctrico aqui na Baixa e na
cidade? E mais, quem me diz a mim que não foi você, sua alma penada, que andou a
atentar o governo anterior para seguir as suas passadas?
Mas eu não tinha a certeza, e,
antes que levasse algum coice, tratei de guardar os pensamentos só para mim.
Mas mesmo assim avancei, que vocês não me conhecem, mas eu sou assim tipo do
major lá de cima, do Norte: “quantos são… quantos são?”
Para ter mesmo a atenção que
necessitava, enchendo o peito de ar tive mesmo de pôr a labita em cima do
senhor “Zé”. E ele parou mesmo, que eu quando me irrito não sou para brincadeiras.
Eu seja cão se não é mentira!
O raio do burro, que parecia
mesmo um estropício de uma besta, é que não parava de bater os cascos no chão e
continuava na galhofa e a “arreganhar a taxa”. Houve momentos que até me
pareceram que ele esfregava a barriga com uma das patas. Que coisa esquisita!! Comecei
então a conversar com o engenheiro técnico das couves.
-Diga-me lá, senhor “Zé”, a que
se deve esta algazarra toda? Saiu-lhe o Euromilhões, por acaso?
-Ahahahahhahah! Ahahahahh! ( e o
senhor engenheiro não parava de se rir)
-(Comecei-me a passar)… Mas que
merda é esta, senhor agricultor? Já não há respeito pela imprensa, é?
-(Até que homem, calculo, deveria
ter caído em si, puxou de um papel do
bolso). Está a ver esta senha? É da Caixa Geral de Depósitos –e apontou para o
edifício em frente. Para além do
Logótipo e do balcão, está toda escrita em inglês –e mostrou-ma…
- Ahahahh…ahahhahhh…ahahhahah…ahahahahh…ahahhhah
(ai nosso Senhor Jesus Cristo que eu não consigo parar de me rir!!!)…ahahahhahahah….ahahahhahahh…ahahhahahah!
AMANHÃ, NO CAFÉ SANTA CRUZ, 11H15...
(IMAGEM DA WEB)
Ex.mo Senhor
Director / Chefe de Redacção
Data: 2012-07-30
Ex.mos Senhores.
Pelo presente solicitamos a V.
Ex.a a divulgação do texto abaixo indicado:
Ideais do Centro, conferencia
imprensa, terça 31, 11h e 15m, Coimbra, Café Santa Cruz
Ideais do Centro
Discutir ideias, afrontar poderes, mudar o regime, salvar a democracia.
Discutir ideias, afrontar poderes, mudar o regime, salvar a democracia.
Convite: conferencia imprensa,
terça 31, 11h e 15m, Coimbra, Café Santa Cruz
Agradecemos a presença
Grato pelo tratamento noticioso, apresento os nossos melhores cumprimentos.
Ideais do Centro
Jaime Ramos
Médico
No seguimento da reunião do dia
23/07/2012 no Hotel D. Luís em Coimbra, com a presença de cerca de 70 pessoas,
convidamos para a Conferência de Imprensa no próximo dia 31/07.
Recordamos o teor da convocatória da reunião do dia 23 e o texto que esteve na base da discussão
então realizada:
Caro/a Amigo/a
Portugal alienou soberania para ter acesso a empréstimos internacionais…
As desigualdades sociais agravam-se com crescente injustiça e risco de pobreza…
O capital assegura lucros e os trabalhadores perdem poder de compra…
As elites revelam-se moralmente indigentes adquirindo, sem esforço, rápidas formações académicas, ou traficando influências para enriquecimento acelerado…
O sistema de ensino garante a estratificação social, impedindo a mobilidade e a ascensão dos desfavorecidos…
Somos crescentemente um país de velhos, incapaz de apoiar as famílias e gerar crianças …
A Justiça assemelha-se a jogo de roleta onde os donos do casino ganham sempre…
O território nacional desertifica-se, com a população concentrada numa pequena faixa de litoral circundante de algumas cidades…
Cresce a insegurança e o medo perante uma criminalidade mais frequente e violenta…
A comunicação social garante um pensamento único, assente em poderes económicos que controlam a liberdade de informação…
A democracia está capturada por aparelhos partidários, do poder e da oposição, feitores dos interesses financeiros…
Coimbra, capital do Centro, berço da Lusofonia, deve usar o seu prestígio e massa critica para gerar um Movimento Cívico de mudança do regime.
Não serão os extremos, de direita ou esquerda, que poderão salvar e melhorar a democracia.
As ideologias coladas aos partidos estão gastas por promessas incumpridas, e cedências desonrosas, que contrariam sucessivos compromissos eleitorais.
O futuro de Portugal exige o respeito por valores e princípios que se assumam acima das táticas e estratégias de grupos económicos ou partidários.
Na segunda-feira, dia 23/7, pelas 21h no Hotel D. Luís, Coimbra teve lugar a primeira reunião, coma presença de mais de setenta pessoas, para se analisar a possibilidade de criar um Movimento Cívico que assuma um conjunto de Ideais do Centro.
Discutir ideias, para que não se fique pelo pensamento único, que recusa alternativas…
Afrontar poderes para que não seja meia dúzia a impor o nosso futuro…
Mudar o regime para que se restabeleça a dignidade nacional e se restitua a soberania ao povo
Salvar a democracia porque as crises económicas e morais podem fabricar ditaduras.
Ideias básicas do Movimento
1. Para unir o grupo (e não dividir) é fundamental que as pessoas pensem no coletivo. Podemos não gostar de alguém … mas todos são necessários. Não estamos um jantar íntimo de amigos. Somos um movimento com pessoas muito diferentes… Não temos de gostar de todos os participantes. Temos de trabalhar em conjunto. Todos temos passado e não somos perfeitos.
2. Temos de encontrar e reforçar o que nos une e não o que nos divide. Não devemos focar pormenores mas só grandes ideias. Não somos Governo. Propomos ideais, ideias, causas. Não projetos de lei. Não temos o poder…. Sentimos o dever de mudar o regime
3. Temos de ter causas, importantes, fundamentais. Verdadeiras prioridades nacionais. Por elas lutaremos. Não somos um grupo de estudos. Somos um Movimento que, com noção das dificuldades, quer propor a mudança do regime, para melhor.
4. Não somos oposição. Somos construção. A crítica não é o nosso objetivo. Não somos um grupo de má-língua ou de ressabiados. Somos um Movimento para criação de uma sociedade melhor.
5. Temos a noção da fragilidade e insuficiências dos partidos… Mas não desejamos lutar contra eles. Queremos que melhorem, se democratizem e que trabalhem por Portugal. Que sirvam e não que se sirvam. Que não tenham como objetivo instalar clientelas no aparelho administrativo do estado. O estado não pode ser coutada dos partidos. Estamos fartos de alternância entre estados laranjas ou rosas…
6. Sabemos que se continuarmos quietos os extremos irão tomar conta de Portugal. A história está cheia de maus exemplos a começar pelo nazismo e a terminar no comunismo.
Quatro Ideais
1. Mais liberdade
Queremos prevenir derivas totalitárias e garantir mais liberdade.
O papel da comunicação social, o 4º poder, deve ser regulamentado impedindo que seja dominado por uma minoria.
A propriedade e o controlo do 4º poder não pode cair na mão de meia dúzia de nacionais ou de grupos estrangeiros, como está acontecer.
A soberania popular exige que a comunicação social garanta o pluralismo ideológico e esteja ao serviço do interesse nacional.
Não pode estar toda concentrada em Lisboa contribuindo para o apagão do território. Exige-se que a comunicação social instalada em Lisboa dê cobertura noticiosa a todo o país, não só quando há calamidades ou desastres.
A privatização da RTP, a manter-se a atual legislação, é perigosa para o interesse público nacional.
O Estado deve possuir órgãos de comunicação social, rádio e televisão, que compensem a deriva populista e mercantilista do sector privado.
As empresas públicas, na comunicação social e não só, devem ser administradas segundo regras de boa gestão, em princípio com lucro, não sendo tolerável que administradores ou trabalhadores ganhem mais que o primeiro-ministro.
2. Melhor democracia
Queremos mais Política, mais discussão, uma população mais interventiva, como maior capacidade de decisão.
Queremos mais pessoas interessadas na política e muito menos políticos profissionais.
O numero de políticos remunerados deve ser reduzido em mais de 50%.
As autarquias devem ser espaço de liberdade política, exemplos de transparência, e escolas de serviço público onde os políticos remunerados devem ser uma minoria.
Todos os votos , incluindo os votos brancos e nulos, devem contar tal como as abstenções.
Todas as pessoas devem ter iguais em direitos consagrando o princípio, esquecido e não cumprido, de uma pessoa/um voto.
Entre a alternativa entre o poder legitimado pela nomeação e o emanado de eleições, somos claramente pela escolha popular.
3. Menor desigualdade
Somos um país com desigualdade crescente. Cresce a pobreza e a concentração da riqueza numa minoria. A classe média está em risco.
O estado deve dar o exemplo reduzindo as desigualdades. Os ordenados, no âmbito do Estado, e as pensões pagas pela segurança social têm de ter um teto máximo, não sendo toleradas acumulações milionárias.
A economia não pode apostar na competitividade pelos baixos ordenados.
Os rendimentos mais baixos devem ser aumentados tal como o salário mínimo.
O problema não é só a falta de produção mas também a inexistência de clientes, compradores, que sustenham a economia
A criação de emprego é prioridade devendo Portugal assumir o ideal do pleno emprego. Um país pobre não pode prescindir do trabalho de centenas de milhares de pessoas.
Não se pode apostar na desregulação das relações de trabalho, fragilizando os trabalhadores. O respeito pelas empresas empregadoras não obriga a trabalho escravo.
Vivemos numa sociedade estratificada.
A educação deve garantir a mobilidade social apostando na descoberta dos talentos individuais.
A segurança social não pode continuar a ser sustentada unicamente pelos trabalhadores mas por todas as formas de criação de riqueza incluindo os rendimentos de capital. Os rendimentos de capital terão de ajudar a subsidiar o estado social tal como os salários.
4. Dignificar a justiça
Sucessivos escândalos, fugas de informação, decisões judicias questionáveis, e demoras injustificáveis nos processos criaram uma péssima imagem para a Justiça.
A demora na aplicação da Justiça beneficia os criminosos e incentiva a ilegalidade.
Queremos uma Justiça célere que não permita que se consolide a ideia que há quem esteja acima da lei.
A insegurança provocada pelo aumento da criminalidade é fonte de medo.
Temos de garantir um sistema policial/prisional/judicial que garanta a segurança dos cidadãos e permita uma economia competitiva, onde os crimes económicos sejam punidos em tempo útil.
O enriquecimento ilícito tem de ser efetivamente punido. A impunidade por parte de políticos, que fizeram (fazem?) fortunas graças á política, não pode continuar.
Não é legítimo pedir sacrifícios á classe média e permitir que a corrupção seja atividade de sucesso.
A economia paralela, e todo o submundo criminal incluindo a corrupção e o tráfico de influencias, têm de ser combatidos sem hesitações. Não se aceita que se continue a sobrecarregar a classe media sem um combate sem tréguas à economia que assenta no crime e na fuga fiscal.
Quatro Causas
A. Aumentar a natalidade, apoiar as famílias, evitar o envelhecimento populacional.
Portugal enfrenta a maior redução de natalidade de sempre. Somos um dos países mais envelhecidos do mundo.
Esta demografia vai originar pobreza e a falência do estado Social.
Urge apoiar as famílias e incentivar a natalidade.
B. Evitar o despovoamento do território e as assimetrias cidades do litoral/interior.
Na última década Portugal enfrentou uma política centralista que tem desertificado e empobrecido o interior. A crise atual é em larga medida resultado deste centralismo.
Urge desconcentrar e descentralizar a administração pública, sempre que possível através de órgãos eleitos. A esta democratização do aparelho do Estado designamos como regionalização, acabando com os feitores nomeados pelo terreiro do paço. Esta democratização terá de ser feita com redução do pessoal político e com diminuição da despesa.
A capital política terá de sair de Lisboa desconcentrado os órgãos do poder do estado por várias cidades.
C. Criar riqueza, melhorar a divida externa, resgatar a independência nacional. Precisamos de uma estratégia nacional de aumento da produção nacional em todos os sectores: turismo, agricultura, floresta, industria, serviços, comercio… Nas últimas décadas seguimos uma política económica prejudicial aos interesses nacionais.
D. Temos de garantir um estado forte, promotor de riqueza e com visão de longo prazo. Não podemos continuar a permitir que obriguem o estado ao estatuto de inquilino, pelintra e caloteiro; recusamos um estado falido dependente dos senhores do dinheiro. As privatizações em massa, a preço de saldo, num período de crise, transferindo o poder e os rendimentos para o estrangeiro, é um crime contra os interesses nacionais. Defendemos um estado promotor que defenda e desenvolva a economia nacional, bem diferente de vender os anéis e os dedos a potências estrangeiras.
Contexto internacional
Portugal não é um caso isolado. A irresponsabilidade por parte das elites políticas não foi nem é um exclusivo nacional. Basta pensar em Itália, Espanha ou França…
Desde a queda do Muro de Berlim a Europa (e a América do norte) entrou numa euforia insensata´, com perda de valores e cedências perante o sistema financeiro. Deixou-se endeusar o dinheiro ao ponto de se sobrepor ao poder político e á soberania dos povos.
Portugal não tem poder para resolver as causas da crise financeira, que atinge o ocidente, e alastra para as potências emergentes.
Portugal tem o dever de contribuir para por os senhores do dinheiro na ordem.
A ganância instalada é eticamente condenável.
O descontrolo do sistema financeiro destrói valores civilizacionais. Os culpados pela crise arrogam-se no direito de impor aos países soluções antidemocráticas, ideologicamente radicais.
A sentida impunidade dos culpados tem de ser contrariada. Não podem viver uma imunidade que lhes permite continuar a destruir os valores da cristandade.
Urge acabar com esta imunidade e a política, legitimada pela soberania popular, não pode depender do poder imposto pela ditadura dos mercados.
A política tem de ser responsável, defender estados fortes, e não ceder as chantagens.
Há necessidade que a UE (tal como os EUA, o Japão) e as Nações Unidas apostem nas soberanias dos países em detrimento da tirania imposta pelo absolutismo financeiro.
TEXTOS RELACIONADOS
"A REUNIÃO DO MOVIMENTO, VISTO... (1)"
"A REUNIÃO DO MOVIMENTO, VISTO... (2)"
UM DOMINGO AZARADO
Pelo menos uma vez por mês vou a
Aveiro. Como tenho tido relações de trabalho com um homem lá na periferia, que
há cerca de dezoito anos me faz uns arranjos em peças que vendo na loja,
aproveito sempre a minha ida no coincidir com a feira de velharias, que se
realiza sempre ao quarto domingo. Para além de gostar muito desta cidade, para
mim, este é o melhor certame da zona centro. Por iniciativa da autarquia, os
vendedores estão espalhados por entre praças, becos e ruelas do centro
histórico e, em simpatia, nesse dia, desenvolvem todo o comércio local.
Como faço habitualmente, dentro
da hora do almoço, e levando comigo um caixote com os arranjos futuros, nas
calmas, ontem parti em direcção à Veneza do meu imaginário. Uns quilómetros
antes, e já próximo da cidade, acendeu-me a luz sinalizadora da bateria do
carro. Como o meu “burro” já tem mais de uma dezena de anos, nem achei muito
estranho acontecer. Às vezes é o alternador que está com paranoias e dá-lhe
para me azucrinar o juízo. Tomei atenção ao ponteiro da temperatura e estava
normal. Em pensamento, cá com os meus botões, pensei que, em princípio, não
haveria problema. Pelo sim, pelo não, fui mais devagar. Quando surgissem as
primeiras bombas abastecedoras de combustível iria parar e verificar. Passados
uns quilómetros o manómetro da temperatura começou a subir. Em conversa só
comigo, pensei, bom, às tantas, como está muito calor, está com falta de água
no radiador. Quando chegar ao posto abastecedor, páro e vou ver o que se passa.
À entrada da cidade dos canais encostei na primeira gasolineira Repsol. Abri o
capô da viatura e, como médico a avaliar um paciente, acabei por verificar que
tinha sido a correia da ventoinha que tinha partido. Estava visto que já não
poderia circular, a não ser em cima de um reboque.
Puxei do telemóvel e liguei ao
meu colaborador. Afinal eu era seu cliente de quase vinte anos e, entre nós,
sempre houve uma cordialidade e até uma aparente amizade. Estava a falar com
ele ao telefone portátil, a tentar explicar-lhe em que sítio da urbe estava
apeado e a pedir-lhe que viesse ao meu encontro quando pudesse para levar a
obra de interesse comum. Poderia ser por volta das 18 ou 19h00 e dentro das
suas possibilidades, alvitrei. Ainda antes de acertarmos o local de encontro,
entretanto, a chamada caiu. Fiquei sem saldo no portátil. Esperei que ele me
ligasse e nada. Quem conhece bem aquela avenida sabe que é muito longa, talvez
dois quilómetros até ao centro da cidade. Atirei-me à estrada à procura de uma
máquina de Multibanco. Até que encontrei uma e carreguei o meu utilitário.
Liguei ao homem e fui dizendo, “fiquei sem saldo. Diga-me lá, porque não me
ligou? Que diabo, eu pagaria a chamada. Meio a titubear, lá foi dizendo que não
sabia o número. Argumentei que ele estava mesmo à sua frente. Há quinze minutos
tinha acabado de fazer a ligação. Continuou a esboçar uma desculpa esfarrapada,
que não percebia nada de telemóveis, assim e assado, e foi por isso que não
ligou. Pronto, passemos à frente, disse eu. Precisava que me fizesse o favor,
repeti: se me vinha buscar o caixote e o levava porque estou impossibilitado, por ter o carro imobilizado com a correia da ventoinha partida. “Estou na
praia, na Barra… você não pode vir cá? Que diabo… não dá jeito… sabe?!...”.
Comecei a ferver por dentro muito mais que o motor do meu carro anteriormente
quando se viu sem a ventoinha refrigeradora. Fiquei furibundo. Só lhe disse:
deixe lá. Passe bem!
Se há coisas que mais me tiram do sério é a apatia, a insensibilidade, perante alguém que está em apuros. Quem me segue e lê o que escrevo sabe que em algumas coisas –em outras não, onde sou completamente devasso- sou profundamente moralista. Naquilo que escrevo, e quando isso acontece, como é caso de agora, é com convicção que o afirmo. Perante alguém em dificuldades eu sou incapaz de ficar ledo e quedo. Já aconteceu, muitas vezes, levantar-me a meio da noite para acudir alguém –também já muitos o fizeram por mim, e quando faço algo pelos outros é sempre a pensar que alguém, em gesto altruísta, me passou o ceptro da mensagem comportamental para que eu a passe em contrapartida. Somos todos mensageiros, quer da paz, quer da guerra. Ao longo da minha vida fui bafejado com o prazer de ter encontrado pessoas anónimas, cujo nome desconheço, mas que num determinado momento de aflição foram fundamentais para me retirar de um enrasque. E eu, ao pensar nisso, como se fosse um embaixador da boa vontade de favores em cadeia –é o título de um bom filme que vi há cerca de uma vintena de anos-, faço o mesmo. Muitas vezes sou incompreendido por quem me rodeia e raramente entendem o gozo que me dá fazer isto.
Se há coisas que mais me tiram do sério é a apatia, a insensibilidade, perante alguém que está em apuros. Quem me segue e lê o que escrevo sabe que em algumas coisas –em outras não, onde sou completamente devasso- sou profundamente moralista. Naquilo que escrevo, e quando isso acontece, como é caso de agora, é com convicção que o afirmo. Perante alguém em dificuldades eu sou incapaz de ficar ledo e quedo. Já aconteceu, muitas vezes, levantar-me a meio da noite para acudir alguém –também já muitos o fizeram por mim, e quando faço algo pelos outros é sempre a pensar que alguém, em gesto altruísta, me passou o ceptro da mensagem comportamental para que eu a passe em contrapartida. Somos todos mensageiros, quer da paz, quer da guerra. Ao longo da minha vida fui bafejado com o prazer de ter encontrado pessoas anónimas, cujo nome desconheço, mas que num determinado momento de aflição foram fundamentais para me retirar de um enrasque. E eu, ao pensar nisso, como se fosse um embaixador da boa vontade de favores em cadeia –é o título de um bom filme que vi há cerca de uma vintena de anos-, faço o mesmo. Muitas vezes sou incompreendido por quem me rodeia e raramente entendem o gozo que me dá fazer isto.
Continuando, fiquei então furibundo
com aquela falta de solidariedade de um meu conhecido –imagine-se se fosse um
desconhecido, qual seria a atitude desta pessoa? Mas, pronto, passei à frente.
Até estou grato por, embora tarde mas a tempo, ver que este sujeito não pode, de
modo algum, fazer parte dos meus mais próximos. Cortei e acabou. Paz ao seu
desinteresse burro. Porque o que choca mais é a sua estupidez. Afinal havia ali
uma relação mútua de interesses.
Já passava das 15h00 e eu sem almoçar.
Entrei num restaurante, à berma da estrada. Reparei que cá fora, nas mesas,
tinha várias pessoas sentadas. Da esplanada saiu uma mulher ainda jovem.
Cumprimentei-a e interroguei: pode arranjar-me uma sandes? O que é que tem?
Meia constrangida, como se tivesse ficado aborrecida por alguém a ter arrancado
à cadeira, disse: “desculpe, não temos nada para sandes. Fiambre e queijo não
temos…”. E uma bifana?, coloquei por hipótese. Também não. Já não havia carne. “Sabe,
encerramos a cozinha, ao domingo, logo a seguir ao almoço.”
Confesso que, perante coisas
destas, fico sem palavras. Só pergunto como é que é possível acontecerem cenas assim?! Estou sempre a defender o comércio tradicional. Ainda há dias o fiz
com fervor e perante um texto de um jornalista do semanário Expresso. Mas,
quando me sai um duque destes do baralho, tenho de reconhecer a minha incoerência na
coerência –acho que é vício comum em quem expressa o pensamento em escrita.
Escrevemos no soprar da brisa suave do vento e utilizando as linhas
inconstantes do tempo. Realmente há muita gente no comércio de rua que são
péssimos representantes do todo, e, naturalmente, por uns pagam todos e, no
conjunto, são apreciados globalmente.
Fui almoçar ao Fórum de Aveiro.
No meu entendimento, esta é a grande área mais bem-sucedida da zona centro. Já
lá vou há muitos anos. Para quem não conhece, em analogia, tem a configuração de
uma rua de cidade, com um longo corredor, onde os passarinhos esvoaçam
livremente. Ontem, certamente por ser domingo, estava cheio de gente a passear,
com as esplanadas com clientes a consumir e algumas lojas a vender. Em volta do
shopping, mesmo nas ruas transversais vi muitas pessoas. Por momentos, largos,
diga-se, não pude deixar de pensar que quando tantos comerciantes pedem o
encerramento ao domingo de todo o comércio no país não podem estar mais
errados. O comércio existirá sempre enquanto houver necessidades para
satisfazer. Logo, se há clientes dispostos a gastar dinheiro no dia do Senhor,
porque estão de folga e têm tempo para passear com os filhos, o comércio de rua
o que tem a fazer é render-se a esta evidência. Provavelmente se houvesse mais
teimosia destes operadores, abrindo ao sábado e domingo e encerrando um
qualquer dia da semana, se calhar, não haveria a miséria que todos estamos a assistir
diariamente neste sector. O trágico desta questão é que poucos estão dispostos
a mudar velhos hábitos arreigados e incompatíveis com os tempos de crise que
vivemos –mas estaremos mesmo em crise? Todos os dias dou comigo em duvidar. Há,
de facto, uma crise latente, mas é apenas para alguns. A maioria continua na
maior, como se o futuro não constituísse qualquer apreensão.
Ah, é verdade, para terminar em
beleza, a feira de velharias de Aveiro tinha sido no fim-de-semana anterior.
Este mês de julho teve cinco domingos.
sábado, 28 de julho de 2012
OS NOVOS EXÉRCITOS DA SALVAÇÃO
Hoje, durante a manhã, a Baixa de
Coimbra foi invadida por cerca de uma dúzia de pessoas, homens e mulheres de
todas as idades, com coletes encarnados, pertencentes à Igreja Universal do Reino de Deus,
a distribuírem gratuitamente um jornal e um pequeno folheto –este era composto
com várias imagens, uma de figura de homem novo a jogar num casino, um braço a
injectar-se com uma seringa, outra com um copo com álcool e um cigarro preso a
uma mão e outro a ver pornografia na Internet. Curiosamente, todas as fotos eram masculinas, o que, por exclusão de partes, nos leva a supor que o pecado
mora ao lado do homem. Neste mesmo folheto podia ler-se: “DOSE FORTE –Tem algum
vício? Conhece alguém que seja dependente de algo que, AOS POUCOS, ESTÁ A MATÁ-LO?
Então, esta oportunidade é para si!!”
O Jornal, em formato A4, com 22 páginas, tinha por logótipo “EU ERA ASSIM”. A primeira folha era composta
de uma ementa variada de desgraças onde se podia ler: “Vida dedicada ao crime”; “Uma
voz dizia para me suicidar”. E, em grande plano e com foto de um homem de
meia-idade, em título: “Fui viciado, suicida e sem-abrigo. Em subtítulo: “morador
de rua, Edilson dormia sobre cartão, tentou suicídio duas vezes, era agressivo
e tinha alucinações.”
Ao longo de 24 páginas é uma
manta de calamidades descritas na primeira pessoa. Ora então, depois desta
apresentação, o que é que eu quero dizer com isto? Terei algum apriorismo
contra a Igreja do Reino de Deus? Não, não tenho. Nem contra esta nem outra
qualquer, salvo se o descaramento ultrapassar em muito a minha parvoíce. É que
se assim for, sendo eu mediano no pensamento, significa que o despudor é
atentatório à nossa capacidade de inteligência.
Sem entrar em grandes conceitos filosóficos
de apreciação, as religiões existem porque constituem e são uma necessidade imanente
ao homem –este, enquanto ser frágil, inacabado, e cheio de incertezas, precisa
de acreditar em algo que o transcenda. Alguém, uma identidade suprema, que
alimente a sua esperança e lhe dê forças para continuar a caminhar em direcção
a um destino, cujo fim é certo e anunciado por todos, é do seu conhecimento,
mas não sabe quando termina. Ao desconhecer o derradeiro, obsessivamente
procura uma realização na acção contínua e sem ter nem levar em conta a sua
finitude –já tive um caso em que internado num hospital, muito doente, um meu
amigo me pedia para lhe vender uma casa. No dia seguinte morreu. É este
aparente desligamento com a realidade efémera da vida que torna o homem um Ser
fantástico, como se tendo conhecimento das suas balizas em limite, apesar disso,
ande constantemente perdido no universo. E é precisamente nesta tendencial projecção
para o eterno que as religiões são o “re ligar” entre a possibilidade de todas
as probabilidades terrenas e o milagre do impossível. É neste procurar o
caminho tendo apenas o horizonte como meta, nesta busca incessante dividida pela
ambição e satisfação do desejo, e, em limite, pelo anseio intrínseco da perfeição
–extrínseco no querer atingir o reconhecimento-, o complemento para a sua
incompletude, que as religiões, na sua sabedoria visando o antropológico,
ocupam um lugar fundamental no mundo ocidental e oriental. No fundo, no seu
pragmatismo filosófico, são a presumível resposta –sem nunca o conseguirem ser-
para as suas inquietações.
Voltando ao caso específico,
desta invasão de hoje na Baixa, destes mensageiros da salvação, está de ver que
a actualidade, neste sistema em que estamos inseridos e a assistir, está aberta
a todos os desmandos. E isto porquê? Porque o Estado, nos últimos anos, ao
encerrar vários institutos de apoio à droga e à toxicodependência, para além de,
numa completa insensibilidade, abandonar à sua sorte milhares e milhares de
cidadãos, escancarou os portões a todos os charlatães e vendedores de mezinhas –é
evidente que isto não é nada de novo. É nas crises profundas das sociedades que
a crendice e a superstição crescem.
Onde é que começa e acaba a responsabilidade
social do Estado perante os seus filhos? Não tem nenhuma? Por um lado,
continuamos cada vez mais a ver morrer pessoas, toxicodependentes e outros, em
prédios abandonados e, por outro, com tendência a aumentar, vamos assistir impávidos
a este espectáculo degradante de, em mensagens de falsos profectas bíblicos,
apenas interessados no lucro fácil deste filão de ouro que são as adicções
desta sociedade hodierna? Talvez valha a pena pensar nisto.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
UM JORNALISTA COM ESTIGAMATISMO
Henrique Raposo, colunista do semanário Expresso, pelos vistos, veio a Coimbra num sábado da semana em que decorreu na cidade o festival de ginástica Eurogym. Leia aqui o seu texto.
Sinceramente, começando pelo fim
da crónica, “quem diria?”, é caso para dizer que “vozes de burro não chegam ao
Céu”. Mas se me ficar por aqui até pareço o Marinho e Pinto a defender a sua
(des)Ordem e toda a sua corporação causídica. Acontece que se não vou à bola
com tal personagem, por conseguinte, tenho obrigação de fundamentar muito bem a
discordância com este homem do jornal Expresso. É o que, em seguida, tentarei
fazer.
Hoje, todos sabemos, a começar
por mim, temos opinadores generalistas que falam de qualquer assunto com as
maiores facilidades, mas se formos discutir o “comprar e vender”, aqui, já não
se trata apenas de falar, todos sabem profundamente e até detêm soluções sobre
o comércio tradicional. Mais, até se permitem, constantemente, dar pareceres
sobre esta tão ancestral profissão. A ideia que perpassam é que esta classe de
vendedores está ultrapassada, não sabe nada, e a culpa da crise que está a
sofrer a si o devem em toda a sua plenitude –nem ao de leve, em dúvida, colocam
a hipótese de haver vários factores que empurraram o comércio de rua para o
estado anémico em que se encontra. No fundo até nem admira, porque a principal causa
do cancro que, em moléstia de pandemia, alastra neste sector, deve-se a políticos
sem projecção, sem alma, sem Pátria, que nunca vislumbraram o futuro nas suas
acções, como deve ser condição “sine qua non” de qualquer interveniente de
passagem pelo poder. É óbvio que este arrasamento de sectores essenciais ao País
não se ficou apenas por este da distribuição, infelizmente. O comércio não é
mais do que um delta confluente a jusante onde vários ramos estratégicos, a montante,
vêm desaguar. É lógico, portanto, que se a produção está doente, em coma, é
evidente que o comércio, na subsequência, nunca poderia apresentar-se saudável.
Ora, para tentar tapar o sol com a peneira, tentando justificar os seus
desastres apocalíticos para a Nação, o que fizeram os políticos desde há 20
anos para cá? Utilizaram a demagogia pura e dura num consumidor ignorante, interesseiro
e que só vê o que está à frente dos seus olhos, mal esclarecido, e facilmente
manipulável. Ou seja, sacudindo o capote, escamoteando a sua inteira culpa
directa, foram passando a ideia de que o desastre que estamos a assistir é por
inteiro e da responsabilidade dos mercadores. E a verdade é que este pensamento
único colou mesmo e bem. Para quase todos, o comércio tradicional é constituído
por “Velhos do Restelo” que, numa onda avassaladora progressista, se deixaram
comer completamente e sem reacção.
Agora há uma diferença
substancial em uma opinião pública acrítica e amorfa e um jornalista. E porquê?
Porque, para além de esta classe estar obrigada ao cumprimento de um estatuto
de equidade na retratação das partes, sabe-se, são pessoas muito mais esclarecidas
e intuitivas do que a demais população. É certo que se poderá sempre dizer de
que estamos perante um texto opinativo, mas, mesmo assim, pela necessária
honestidade intelectual, não desonera.
Então, chegados aqui, e numa
subjectiva análise ao texto do “mensageiro”, posso opinar também. Para mim este
jornalista do Expresso sofre de delírios. Para além de não saber nada do que se
passa em Coimbra sofre de estigmatismo. Este cronista, ao que parece,
desconhece completamente, e nunca procurou saber, o que se passa no comércio
tradicional nacional, porque o que se verifica na Lusa Atenas é transversal. É
mais um doutor formado em Marketing por uma universidade mais fatela do que a
que deu o canudo ao outro. Este jornalista é um turista de sacola ao ombro que
arribou a Coimbra e, como se soubesse alguma coisa do que se passa no pequeno
estabelecimento de rua, debita bitaites.
Falando directamente do Eurogyme,
este evento, salvo pequenas vendas pontuais, na generalidade não trouxe
mais-valias para o comércio da cidade. Mais, só não percebo, havendo tantos
doutorados na arte de comprar e vender, porque não vêm abrir lojas aqui na Baixa?
Com o seu saber sebenteiro e erudito, com a sua certeza em que quem cá está são
uns aselhas, isto seria tiro e queda no sucesso. Venham eles... venham eles! No
caso do texto “Ui, ui o comércio tradicional”, haja dó para tanta palermice. Lá
porque queria comprar um CD acha-se no direito de pedir a todos que estejam
abertos? É que, em boa verdade, saliente-se, a maioria não está de portas
abertas porque não vende. Esta é a razão. Eu sei do que escrevo: sou
comerciante e trabalho há muitos anos aos sábados todo o dia. Porque é que ele
não foi a cerca de uma trintena que, teimosamente, como eu, continuam? Não veio
nem virá. Mais, duvido que até tivesse comprado algum cd.
A imprensa está cheia de jornalistas
de meia-tigela, que confundem a informação com o conhecimento; que olham para
uma situação, como máquina fotográfica a captar o superficial, inferem parcialmente
do que vêem, evacuam sentenças, não ouvem com imparcialidade as partes, e,
seguindo o massificado, quando a sua função é despoletar o pensamento crítico, despejam
o veneno que os consome interiormente. Haja pachorra para aturar profissionais
da imprensa assim.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
LEIA O DESPERTAR...

Para além da coluna "Passagens de encanto: o Largo da Freiria", deixo também os meus textos "Rostos Nossos (Des)conhecidos: O homem colorido", "A vil falta de frontalidade" e "Reflexão: a Baixa debilitada".
PASSAGENS DE ENCANTO: O LARGO DA FREIRIA (2)
Continuando a descrever, em
resenha histórica, recantos da nossa memória urbana, no caso o Largo da
Freiria, por cima do agora Snack-bar Padaria Popular do Sérgio Ferreira, no
número 12, 2º andar, há cerca de 15 anos, está a Isabel Pereira. A quem quiser
enriquecer o seu conhecimento, com muita entrega a esta causa e muita simpatia,
ensina artes decorativas e bordados. Para além de transmitir o seu conhecimento
também aceita encomendas e faz fatos para adereços de teatro.
Na porta ao lado, com uma entrada
exclusiva, era o Sporting Nacional, uma agremiação desportiva de grandes
sucessos no atletismo, a partir de 1919, nesta parte velha da cidade. Era
composto por um grande salão de baile que ia até à Rua Visconde da Luz. Nesta
altura de meados de 1980 era já apenas um resquício historial do grande clube.
Vinte anos antes, num negócio mal esclarecido e que a maioria dos sócios não
entendeu, o grande salão de baile foi cedido a um grande banco nacional. A
histórica coletividade ficou apenas reduzida a duas pequenas salas de cerca de
vinte metros quadrados cada. Hoje, por incúria, por desrespeito perante um
passado incomensurável de memória, dois ou três associados não restituem a
chave para que se salve o espólio e a cidade, detentora e garante da
recordação, possa continuar a usufruir de retalhos que, por direito próprio,
fazem parte intrínseca do seu historial de um tempo difícil para os desportos
amadores. O património desta outrora grande associação de atletismo e outros
desportos jaz entregue às águas das chuvas, e ervas daninhas, que se encarregam
de destruir o pouco que muitos, durante décadas, construíram. Haja respeito
pela cultura do povo!
Fazendo a inversão de marcha, seguindo,
agora do lado direito, em direção à Rua Eduardo Coelho, encontramos um
lindíssimo edifício em péssimo estado de conservação, desprezado, e com obras
iniciadas há cerca de cinco anos. Como monumento à incúria e incapacidade do
homem, é um atentado à segurança do largo. Com obras iniciadas há cerca de
cinco anos, sem miolo interior, este prédio, em apelo pungente de sofrimento,
pede que olhem para a sua situação calamitosa. Numa das bandeiras, em ferro
forjado, arte ancestral e tão identificativa da cidade e que tão grandes
mestres produziram, de uma porta, pode ler-se: 1878. No piso térreo foi um
grande estabelecimento de mercearias, café moído e vinhos até princípio de
1960. Nessa altura, ao que parece, encerrou para nunca mais reabrir. Hoje, como
amostragem do desleixo, privado e público, todo o edifício jaz abandonado à
sorte do tempo.
Logo a seguir, por esta época de
1980, numa entrada de prédio, com o número 19, estava o senhor Guerra a vender
tudo o que era rádio, cassete pirata, relógios, pilhas, e outros acessórios
ligados a música. Hoje, mostrando que tudo volta à sua origem, é simplesmente
um acesso ao prédio e nada mais.
Dando um passo para a direita era
o estabelecimento de pronto-a-vestir Topal. Quem espreitasse através das várias
montras de vidro, para além do senhor Paulo, o proprietário, poderia ver-se a
atender vários clientes a Lucinda, a Isabel e o Carlos -este último viria a
arrendar o estabelecimento ao patrão e, durante uma década, manteve-se ao leme
deste barco comercial. Com os ventos de crise que assolou o comércio
tradicional, com o negócio sempre em queda, este homem, marinheiro garboso e
habituado à borrasca, às intempéries, com esta viagem, alegadamente e tal como
outros marinheiros comerciantes, viria a sair muito mal economicamente desta
jornada. Nem sequer teve direito a subsídio de desemprego –aliás, sorte igual a
todos os comerciantes que tenham o azar de cair nas malhas da miséria. Uma
iniquidade, uma discriminação incompreensível num país que tanto fala em
justiça e ajuda aos mais necessitados. Hoje a antiga Topal, e depois de vários
anos ocupada pelas Modas Veiga, como campa rasa em cemitério de solidão,
ostenta há vários meses uma placa: “arrenda-se”.
Em resumo, o Largo da Freiria, em
relação aos anos de 1980, tem três estabelecimentos encerrados, um que se
extinguiu, um edifício e uma sociedade desportiva em estado de coma a gritarem
bem alto: “OLHEM PARA NÓS! SALVEM-NOS!”
ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS
“O HOMEM COLORIDO”
Todos sabemos, as cidades, na sua
diversidade, são uma galeria de arte vária. A maioria de nós não se apercebe
das diferenças que subsistem entre os seus elementos. Talvez porque, por um
lado, estamos inteiramente afundados nas pessoais preocupações financeiras, e,
por outro, pela acultura que destrói a sensibilidade individual, sem querer,
acabamos por olhar para tudo e todos como fazendo parte da mesma massificação.
Às vezes, temos um quadro vivo,
em expressão surrealista, mesmo à nossa frente e é apenas mais um entre os
demais. Há várias razões, mas destaco apenas uma, que nas últimas décadas tem
caído no esquecimento: a educação para a arte. Ou seja, a partir da escola
básica dever-se-ia incutir nos jovens o despertar mágico da sensibilidade para
a faculdade de ver para além do comum. Porque, afinal, se nos pedirem para
descrever a arte, aposto, não é fácil. No meu conceito, direi que a arte é toda
a manifestação viva ou inativa que toca os nossos sentidos. O que quer dizer
que, mesmo na morte, e desde que seja tratada como tal, esta, pode ser uma
exteriorização de cultura e arte.
E escrevi este longo prólogo para
apresentar o “homem da bicicleta às cores”. Já há umas semanas passei por ele
na Ponte de Santa Clara e achei que estava perante um raro quadro urbano ou
suburbano de cultura viva. Ao olhar para esta ambiguidade de homem/bicicleta,
senti o mesmo que olhar para uma pintura surrealista de Salvador Dali.
É o Celso Fonseca e mora ali para
os lados de Assafarge, nos arredores de Coimbra. Foi com alguma desconfiança
que me deixou fotografar. Enquanto lhe dizia que era para o jornal, e que, na
sua postura de homem/máquina, siameses colados entre o humano e a mecânica, o
considerava um quadro digno de nota na paisagem urbana corriqueira e quase
sempre igual, um pouco com palavras arrancadas a saca-rolhas, lá me foi dizendo
que optou por pintar a sua “companheira” de cores vivas porque gostava muito.
“Fui eu mesmo que a pintei!”, foi-me dizendo, como se estivesse orgulhoso da
sua obra de arte, mas ao mesmo tempo sem me dar muita confiança. Afinal é assim
mesmo. Artista não liga a “paparazi”. Deu para perceber uma qualquer disfunção
na sua personalidade. Mas também quantos de nós, psiquicamente, seremos completamente
funcionais? Mesmo preenchendo o requisito de normalidade, este valor andará
sempre a balouçar numa grande imprecisão de relatividade, quer pelo meio, quer
pela vontade, na resistência ao estandardizado, do próprio indivíduo.
A VIL FALTA DE FRONTALIDADE
Um prédio na Baixa, que mostro na
foto, mas que intencionalmente não identifico, apareceu na semana passada
grafitado. Não é um ato isolado. Não é a primeira vez que acontece. Em 26 de
Novembro de 2009, neste mesmo edifício, desconhecidos conspurcaram as pedras da
frontaria com óleo queimado.
Não é por acaso que não apresento
as coordenadas deste acontecimento. É que não devemos dar publicidade aos
frouxos. Se o perdão é o mais nobre sentimento de todas as virtudes da humanidade,
em antítese, a cobardia é o mais vil, o mais desprezível, o mais repelente que
pode povoar o mundo das pessoas ditas racionais.
Por muitas razões que tenham os
indivíduos que fazem isto a coberto da noite, nada, seja lá o que for, lhes
pode assistir o direito de agir assim. Há instrumentos legais que poderemos
sempre utilizar para fazer valer a nossa razão. Nada justifica um facto
desprezível como este. Porque, atente-se, este conspurcado não foi realizado
por um qualquer vândalo da noite, sem eira nem beira. Pelos antecedentes, está
de ver, foi feito por pessoas com vida organizada, com família, com mulher e
filhos e que, a estes, em discursos vazios à mesa do jantar, até dizem: “meus
filhos não podemos querer para os outros o que não gostamos para nós!”
Deixo este texto para reflexão e
para que todas as pessoas de bem repudiem esta forma de estar na vida de
alguns. Por outro lado, se quem fez isto, eventualmente, ler este texto, se
lembre que lhe pode acontecer o mesmo.
Bertold Brecht (1898-1956)
"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"
Martin Niemöller, 1933
símbolo da resistência aos nazis
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles,
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...
"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"
Martin Niemöller, 1933
símbolo da resistência aos nazis
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles,
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...
REFLEXÃO: A BAIXA DEBILITADA
Há poucas semanas, contrariando
uma pacatez natural, um homem morreu numa rua da Baixa. Nesta última semana,
durante a noite de sexta para sábado, alegadamente, alguém foi brutalmente
espancado. Como testemunha da violência gratuita, uma enorme mancha de sangue
mostrava a brutalidade. Não se sabe o que aconteceu. Apesar dos audíveis gritos
da vítima e dos agressores, os vizinhos não viram nem ouviram nada. Nesse mesmo
sábado, e a poucos metros do mesmo local, um comerciante de 79 anos foi
agredido e mandado ao chão junto ao seu estabelecimento.
Não quero dizer com isto que estejamos
num quadro de força sem controlo. Nada disso! Gostaria antes de chamar atenção
que, devido a premissas várias, a Baixa está muito vulnerável e, perante a
força da criminalidade, é como um bebé perante um adulto.
A TERTÚLIA DE A BRASILEIRA, VISTA PELO ARNALDO "VER PARA ALÉM DA OPACIDADE"

Já tinham saudades minhas, não
já? Imagino! Há meses que não escrevo nada. E sabem por quê, sabem? Não sabem,
claro que não?! Como é que haveriam de saber?! Mas eu conto! As verdades, nem
que seja apenas para lavar a alma da lama, devem ser descarregadas. Quem nos
ouve –neste caso, quem nos lê- não liga peva, mas uma pessoa, como se estivesse
a fazer diálise, a purificar o sangue, fica muito melhor.
Fui enviado para a Síria como
correspondente de guerra do blogue Questões Nacionais. Há meses que deixei de
receber o “cacau”. Pedi ajuda às autoridades nacionais lá representadas, na
altura mas que já zarparam para cá, e nada. Quem me ajudou a passar aquelas
noites longas de calor foi a minha Habib –que significa em árabe “querido amor
e era a minha amante lá naquele país do Levante. Nesta “shahada”, como quem
diz, profissão de fé, o que me valeu também foi a música do Sami Yosuf, que na
falta de alimento para estômago lá me ia sustentando a alma. O problema foi que,
pela contínua falta de pilim, a paixão da minha Habib, como areia do deserto levada
pelo vento, foi-se perdendo. Resultado, abandonado por todos, sem cheta, tive
de me pôr ao caminho a pé descalço. Depois de atravessar o país todo a penates
lá cheguei a Israel todo doridinho. Ai coitadinho de mim! Nunca mais me vou
esquecer. Isto não se fazia nem ao maior inimigo do Passos Coelho, caramba! Cheguei
ontem a Coimbra. Apesar da pronta assistência de uma boa enfermeira israelita –ai,
por Alá!, até me passou pela tola ficar
por lá para sempre e ser cuidado por aquelas mãos delicadas-, os meus pés ainda
estão que nem um trambolho. Estão mais inchados, acho eu, que a cabeça do
ministro Relvas perante tantos dichotes no Facebook.
Dizia eu, então, que aportei
ontem à cidade. Mesmo “coxela” de todo, e com uma brutal carência de sexo –há três
meses que não vejo a padeira, como quem diz a minha Habib-, a primeira coisa
que fiz foi ir comer uma “sandocha”, de sardinha de escabeche, e beber um copo
de três ao “Mijacão. Isto é que era mesmo uma saudade. O que é uma mulher boa
ao pé de um prazer daqueles? Estava eu já na terceira sandes, agora de bifana,
porque a minha barriga estava mais necessitada que o Presidente Cavaco de uma
arruada de aclamação popular, quando recebi um recado escrito, através do “Carlitos popó”, do bandido caloteiro. Já viram o desplante do canalha? Já? -Ainda bem
que posso dividir consigo, leitor, esta mágoa que me consome todo, em frenesim,
como se fosse um ataque de caspa. Fogo!, há gajos que haviam de ser chicoteados
na praça pública, como eu vi lá na Síria por muito menos, caraças! Desenrolei o
papelucho e o que dizia aquilo? “Mais logo, apresente-se n’”A Brasileira”.
Promovida pelo Lions Clube de Coimbra, vai realizar-se a segunda tertúlia, e
última deste pico de verão, “no âmbito do Apoio da Candidatura de Coimbra a Património
Mundial da Humanidade. Assinado: Luís Fernandes, director do blogue mais
importante deste mundo e do outro”. Porra!, uma pessoa até se passa! Já viram
isto? Ai que nervos, meu senhor Deus! Que a fé e a paciência não se esgote nem
nos falte! Quer dizer, o vigarista não me paga, abandona-me lá nos confins da
Arábia Saudita, e agora manda-me fazer a reportagem? Como é que posso? Por um
lado nem dinheiro tenho para comprar uns sapatitos, mas por outro também com os
pés inchados, que mais parecem o João Moura, o presidente da Câmara de
Cantanhede, ontem junto ao Primeiro-ministro a inaugurar a Expofacic, como é que
posso?
Mas vendo bem as coisas, até nem
é por dinheiro, que isso já nem conta para nada. Uma pessoa ultrapassando o
meio-século deixa de olhar para os níqueis como a chave mestra do motor da
humanidade. Como um grande sábio, passa a ver as coisas com outra atenção. Passa
a preocupar-se mais com os pormenores, começa a inverter os valores da
sensibilidade, deixa de apreciar o global e passa ao ínfimo. É como se, numa
troca de géneros, quem sabe em castigo divino, passasse de homem para mulher.
Dizia eu então. Quero lá saber do
dinheiro para alguma coisa? Se não tenho grande farpela para me apresentar lá n’A
Brasileira, junto os doutores, eu quero lá saber?! Enfio a minha túnica, que
trouxe da Síria, enfio as minhas sandálias de Pedro, o Pescador, e lá vou eu.
Não posso falhar. De certeza absoluta que lá vai estar a minha diva de todas as
torres de Minerva deste mundo: a Clarinha Almeida Santos. Posso eu faltar sem
ver um sorrisinho daqueles? Nunca! Prefiro andar em jejum sabático de uma semana
sem uma côdea!
MÚSICA NO TRABALHO...
Toda a gente sabe que os serviços públicos muito têm a aprender com os privados. Só assim se entende, por exemplo, que o Largo da Freiria seja o espaço citadino mais bem limpo da Europa. E por quê? Porque a limpeza está a cargo de um particular -no caso, ao Nuno, engenheiro técnico de limpeza calceteira. Se este espaço estivesse concessionado, como os outros na cidade, aos funcionários da autarquia seria assim? É óbvio que não! Mas, estou certo ou errado? É assim ou não é?! Então, somando dois mais dois igual a cinco, o que é preciso fazer? Tão só a edilidade começar a aprender com o Nuno e a conceder aos varredores uns "fones"... Preciso de escrever mais alguma coisa?
"OS EXAMES E A COMÉDIA DO RIGOR"

(IMAGEM DA WEB)
Cada um de nós gosta mais ou menos de uma leitura consoante se identifique tanto ou quanto com o tema tratado. Neste caso, porque já escrevi tanto sobre este assunto, porque, creio, sou também, entre milhares de portugueses, uma das "vítimas" deste sistema anacrónico e feudal. Deixo apenas este texto que escrevi há cerca de três anos.
Por isso mesmo, ao ler esta crónica no Expresso, não posso deixar de estar mais de acordo. Leia aqui, que vale a pena.
terça-feira, 24 de julho de 2012
A REUNIÃO DO MOVIMENTO, VISTO PELO "OLHO DE LINCE (2)
Depois de ser incumbido pelo
director do blogue Questões Nacionais para fazer a reportagem no hotel Dom Luís,
sobre a convocação geral de Jaime Ramos sobre a elaboração de um “movimento
para a criação de uma sociedade melhor”, estou a transpor a porta de entrada.
O porteiro, absolutamente a marimbar-se para a minha categoria de melhor jornalista do mundo, mirando-me ostensivamente
de alto a baixo, vendo que a minha farpela era tudo menos formal e já vira
melhores dias, lá deveria ter pensado que a Casa Abrigo de Coimbra era mais para
Norte, ali na Ladeira do Carmo. Como conde falido em fim de sistema monárquico,
ergui a cabeça com altivez e segui em frente como se estivesse à vontade e na
minha própria casa. Não passei cartão ao sujeito, e desci ao piso inferior. Foi
então que abri os olhos de espanto: é pá! Até fiquei vesgo com tanta gente! Com
uma grande mesa em quadrado, com cerca de umas seis dezenas de pessoas, aquilo
parecia uma assembleia das Nações Unidas. A presidir, naturalmente, estava o
convocador, Jaime Ramos, que, com palavras de incentivo à cidadania activa, entregou a todos os presentes um caderno, com vários itens, com o título: “Ideais
do Centro – discutir ideias, afrontar poderes, mudar o regime, salvar a
democracia”. Aqui eram apresentadas várias reflexões, como, por exemplo, “Ideias
básicas do Movimento”; “Quatro Ideais –Mais Liberdade; Melhor Democracia; Menor
desigualdade; Dignificar a Justiça”. A seguir eram apresentadas “Quatro Causas”
e o “Contexto Internacional”. E passou-se rapidamente ao debate entre os
congressistas que pedissem a palavra.
ESTÁ ENCONTRADO O PRIMEIRO
CANDIDATO À CÂMARA DE COIMBRA
Sentado à esquerda do líder do
pretenso movimento, o primeiro orador a fazer uso do seu tempo de antena foi
Carvalho Homem, conhecido professor universitário e defensor da causa
republicana. “Não basta mudar as moscas” –fazendo analogia com o livro de
intervenção política lançado por Jaime Ramos, há cerca de quinze meses. “Ideais
do Centro” levanta-me uma série de problemas”, disse. “ A Região Centro
desaparece. Desde que Barbosa de Melo –pai do actual presidente da Câmara
Municipal de Coimbra (CMC)- se afastou e Mota Pinto desapareceu a Região Centro apagou-se. A ideia do “Centrão” nem é
carne nem é peixe. Não se resolve a questão. O Jaime Ramos vai arrepender-se de
me ter convidado para me sentar ao seu lado. A criação de um movimento
político, assim a seco, parece-me suicidária. Já não seria assim se Jaime Ramos
se encontrasse disponível para um ensaio em forma de candidatura independente à
CMC, mesmo que fosse para perder. Creio que a estratégia teria outro elam.
Teria outro impacto. Assim, sem isso, vejo com dificuldade que as coisas possam
fluir. Há aqui gente preocupada. O desafio que é colocado ao cidadão livre é a
salvação da Pátria. A continuar esta partidocracia está tudo perdido. O
interior continua cada vez mais desertificado. Adeus SNS, Serviço Nacional de
Saúde, que vais de vela! O que se trata é o esforço que se coloca na salvação
da coisa pública, da Pátria. Não se assina uma ficha. Quem me conhece sabe que
sou professor. A Universidade de Coimbra concedeu-me a possibilidade de chegar
ao máximo da carreira. Eu vou consigo para onde você quiser. Mas é consigo, Jaime Ramos!”
E FALAM OUTROS ORADORES
Arnaldo, creio que médico, foi o segundo arguente. “Concordo
com o Jaime Ramos: a democracia está podre!
A seguir foi Victor Lobo: “Isto
não é democracia. A justiça tem de ter tribunais como já teve.
Para além destes, falaram Leitão
Couto, Norberto Canha, José Veludo, Rogério Pratas, Lurdes Cró, António Arnault,
Hélder Rodrigues, Pinto Gomes, Jorge Antunes, António Queirós, João Paulo
Mendes, Francisco Paz, Sá Furtado e Mariano Pego.
Tenho muita pena de, por falta de
tempo, não poder transcrever aqui o que foi dito. Verdadeiras pérolas de
oratória, digo eu!
ASPECTOS NEGATIVOS
Fazendo analogia, este acontecimento
pareceu-me as tertúlias sobre a Baixa de Coimbra, realizadas n“A Brasileira”, e
promovidas pelo Lions Clube de Coimbra. Ou seja, todos falam da mesma coisa que
anda na boca de toda a gente há vários anos. Dá a sensação de que se está a
fazer “chover no molhado”. Os oradores presentes, de peito cheio, parecem
descarregar o que lhes vai na alma e depois disso ficam aliviados. Aliás, houve
vários arguentes que logo que despejaram a matéria saíram a seguir.
Notei um elevado unanimismo em
torno de Jaime Ramos. Assistiu-se ali a uma homilia de fé em torno do redentor.
Mais uma vez se nota que as
televisões em Coimbra só relatam um evento se houver mortes ou caírem três
prédios em derrocada e de uma assentada.
ASPECTOS CURIOSOS
Quem esteve atento pode apreciar
verdadeiros desempenhos cénicos espectaculares, onde não faltou o gesticular
com as mãos à procura do tempo perdido e alguma performance ao estilo dos
tribunais americanos. Um mimo para quem se apercebeu.
ASPECTOS POSITIVOS
A possibilidade que foi dada a
todos de se poderem manifestar e dizerem o que lhes ia na alma.
ASPECTOS LARANJA/ROSA/AZUL
Foi de facto invulgar ver tantas
caras conhecidas, outrora, ligadas ao Partido Socialista. Também alguma
juventude ligada ao CDS/PP e, naturalmente, ao PSD. Estiveram presentes muitos professores universitários e vários advogados –por vezes chegou-se a pensar se não
estaríamos num pleito em pleno tribunal.
CONSTATAÇÃO E CERTEZA: O VOO DO
CONDOR
Deu para ver que, perante tão
fortes apoios, Jaime Ramos gera consensos em Coimbra.
Entre a imprensa presente, penso,
ninguém ficou com dúvidas de que o médico de Miranda do Corvo, ontem, fez a sua
primeira apresentação pública como candidato a candidato à edilidade de Coimbra.
Embora, saliente-se, houve quem apostasse no voo do condor, isto é, mais alto.
Muito mais alto.
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