Ontem, como escrevi aqui em longo
desenvolvimento, realizou-se um encontro promovido pela APBC, Agência para a
Promoção da Baixa de Coimbra, com três deputados do PS ao Parlamento,
respectivamente, Basílio Horta, Mário Ruivo e Rui Duarte. A intenção da APBC
foi essencialmente pedir ajuda. Segundo declarações desta agência andou uma
funcionária nas ruas, durante vários dias, a percorrer loja por loja, a
convidar os comerciantes a estarem presentes no debate. Marcaram presença 15
comerciantes.
Então, perante este desligamento
dos homens do comércio, convinha saber o que se passa. Fui para as ruas
estreitas –e foram muitas- e a todos fiz a mesma pergunta. O que irão ler a
seguir é um depoimento cru, sem juízos de valor e sem manipulação “genética” do
texto. O que vai aqui escrito é sério. Sob promessa de anonimato, é a mais
estrita resposta dos comerciantes que fizeram o favor de responder. Ninguém se
escusou. A todos o meu muito obrigado. Fi-lo, porque é necessário saber o que
se passa. As ilacções ficarão para os leitores.
Eis a pergunta formulada a todos:
Porque não compareceu ontem na Junta de Freguesia de São Bartolomeu no encontro promovido pela APBC, com os deputados, e sobre o estado do comércio da Baixa?
Porque não compareceu ontem na Junta de Freguesia de São Bartolomeu no encontro promovido pela APBC, com os deputados, e sobre o estado do comércio da Baixa?
O primeiro a responder tem cerca
de 65 anos. Já está reformado. Tem vários empregados. “Não fui porque não
soube. Quem é que organizou? A APBC? Não soube de nada. Eu mantenho-me afastado
dessas coisas, porque tive um problema com um indivíduo ligado à agência.
Portou-se mal comigo. Também cortei com a ACIC. É a mesma coisa. Também deixei
de ser associado. Não me representam.”
Outra loja de uma rua a seguir. São dois
sócios de meia-idade. Falei com um deles. Não são associados da APBC. "Não me
lembrei. Mas também tinha que fazer depois de sair da loja –foi às 16h30,
atalhei. Ai foi? Ah…! Também não estava cá o meu sócio.”
Outra sociedade na mesma rua. São
pessoas de meia-idade: “Somos associados da APBC. Não sabia –responde um. Ao lado
o sócio diz: “sabia, mas não tive tempo.”
Outro, noutra rua. Anda na casa
dos 60 anos de idade. É associado da APBC. “Não fui porque… adiantava alguma
coisa? Falar com os bandidos que destruíram isto? Ainda vamos apoiá-los e falar
com eles? Nunca iria, nem irei. Não partilho de inutilidades. Isto agora só lá
vai à cacetada!”
Outro comerciante, noutra rua. Terá
cerca de sessenta e picos anos. Tem vários empregados. Não é associado da APBC.
“Sabia mas não me lembrei. Mas mesmo que me lembrasse, só estávamos 3 na loja e
era-me difícil poder abandonar o estabelecimento.
Outro na mesma rua. Menos de 50
anos de idade. “Não soube de nada. Sou associado da APBC, mas não recebi
nenhuma comunicação!”
Outro na mesma rua. Neste caso é senhora. Estará próximo dos 60
anos. É associada da APBC. “O meu marido não se lembrou. Até gostava de lá ter
ido. Por acaso gostava!”
Outra senhora comerciante de uma
rua contrária. Terá cerca de 40 anos, mais coisa menos coisa. É associada da
APBC. “Não fui porque sou trabalhadora. Ou se trabalha ou se vai para as
reuniões nas horas de trabalho. Vale sempre a pena ir –dá um sorriso-, nem que
seja para os comerciantes se encontrarem –dá outro sorriso. Mas na hora do
trabalho não!”
Na mesma rua. Outro comerciante
de cinquenta e picos anos de idade. Não é associado da APBC. “Houve
esquecimento da minha parte. Lamento não poder estar presente. Estas iniciativas
são louváveis.”
Outra senhora comerciante, na
mesma rua. É uma sociedade. “Sabia deste evento, mas não pude estar na loja.
Tive a festa da minha filha”, responde uma. A outra diz: “olhe não fui porque
não tomei conhecimento. Mas mesmo se soubesse também não poderia ter ido porque
não iria fechar a porta por causa disso.”
Outro comerciante na mesma rua.
Terá cerca de 65 anos. Não é associado da APBC. Não recebi convite, mas sabia.
Porém, nunca mais me lembrei disso.”
Outro comerciante na mesma rua.
Terá cinquenta e poucos anos. Não é associado da APBC. “Soube, mas esqueci-me!”
Outro, noutra rua. Não sabe se é
associado da APBC. Não soube. Se soubesse, provavelmente teria ido.”
Outro, na mesma rua. Não é
associado. “Soube, mas não esteve cá. Foi buscar o neto e já não deu.”
Outro ainda na mesma rua. Terá à
volta de 40 anos. É associado da APBC. Não sabia. Se deixaram papel foi com a
minha mulher. Às tantas esqueceu-se de me avisar. Quando posso vou sempre. Você
conhece-me. É ou não é?”
Noutra praça. Terá cerca de 65
anos. Não é associado da APBC. “Soube, sim, que se realizou. Mas não estava cá.
Foi-me de todo impossível. Cheguei eram cerca de 20 horas à loja.”
Noutra rua, outro comerciante.
Não é associado da APBC. “Não soube de nada. Palavra de honra!”
Na mesma rua, outro comerciante
de cerca de 65 anos: “APBC?... isso é o quê? Soube da reunião, mas não pude ir.
Estava lá muita gente? Isto é uma desgraça! Não fica nada em pé!”
Na mesma rua, uma senhora comerciante.
Terá cerca de 50 anos, num corpo bonito e muito bem arranjado. Não é associada
da APBC. “Não soube disso. Todos os dias leio o jornal, mas ontem não li nada
sobre essa parte. Mas, também, isso resolve alguma coisa?”
Outro na mesma rua. Terá cerca
de 50 anos. Não é associado da APBC. “Não estava cá. Mas sabia. Tinha a informação.
Acho que estes encontros são muito importantes. Acho que todos deveriam
comparecer. Eu, sinceramente, não pude. Cheguei à Baixa às 19h30.”
Outro na mesma rua. Terá cerca de
60 anos. Não é associado da APBC, “nem da ACIC”, faz questão de sublinhar. “Sabia,
mas nem sequer me lembrei. Mas à hora a que se realizou também não poderia ir.”
Outro, em outra rua. Terá cerca
de 50 anos. Trabalha com a mulher na loja. Não são associados da APBC. “Sabia,
mas não me lembrei. Sei porque recebi o papel, mas não tomei atenção. A que
horas era? 16h30? Ah, a essa hora também não iria. Ninguém quer trabalhar! Tu
sabes bem que tenho razão! Às 19 em ponto fecha tudo. Estes géneros de reuniões
em Coimbra não valem a pena. Para que é que andam com estas “merdices”?
Deveriam era abrir todos aos Sábados à tarde. Para que é que andam a fazer as “Noites
Brancas”? Facturas alguma coisa nestas festas? Para mim, aqui, nada funciona.
Em vez de andarem com estas porcarias de reuniões, abram mas é ao Sábado. Eu já
não estou aberto ao Sábado. Não vale a pena. Na última vez que estive vendi um
guarda-chuva. Os comerciantes preocupam-se mais com a vida do vizinho do que
com a sua própria. Os comerciantes não evoluem. São burros! A maioria, nas suas
próprias lojas, não prega lá um prego nem muda a puta de uma lâmpada há vários anos.”
Outra senhora comerciante, numa
outra rua, com cerca de 50 anos, respondeu assim. “Não sou associada da APBC.
Estou sozinha. Não ia fechar a loja, não é assim? Se pudesse teria ido. Teria
lá estado com muito gosto, senhor Luís. E, então, como é que correu aquilo?”
Outro comerciante de outra rua.
Já tem mais de 70 anos. É associado da APBC. Não estive cá. Fui acompanhar uma
pessoa que é cega. Até foi uma acção muito bonita da minha parte. Se preciso
for, acredite, tenho testemunhas.”
Outra senhora, numa outra rua.
Terá cerca de 40 anos. É associada da APBC, mas vai deixar de ser. “Não fui porque há
discriminação entre as ruas. É tudo feito lá em cima nas “ruas dos ricos”. O
senhor presidente da APBC só se lembra das Ruas Ferreira Borges e Visconde da
Luz. Aqui, nestas ruas estreitas, não se passa nada” –tratei de lhe explicar
que o que está a acontecer é da responsabilidade do pelouro da Cultura, da Câmara
Municipal. A cada um sua responsabilidade, enfatizei. Prosseguiu na conversa: “ai
é com a autarquia? Então é preciso fazermos alguma coisa. Isto não pode
continuar!”
1 comentário:
Está tudo dito!
Em conclusão digo que os comerciantes precisam urgentemente de acções de formação e de reciclagem.Precisam de mudar radicalmente a sua forma de pensar e de salvaguardar o futuro deles. Que a APBC tem de mudar a forma de actuar para tentar mobilizar os seus associados e que esta Câmara Municipal está a mais.
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