Como se sabe, promovido pela
APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, está a decorrer um concurso “A
minha rua é linda”. Inserida numa alegoria aos santos populares, e como amanhã
haverá mais uma “Noite Branca”, trata-se, no fundo, de dar alguma alegria às artérias
habitualmente tão desconsoladas, de movimento de pessoas e cores.
Tudo indica que este ano quem vai
ganhar o concurso serão as Ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz e Sofia. Como
está no mesmo enfiamento, a Praça 8 de Maio entrou também no mesmo pacote. Ao
que parece, e segundo se consta por aqui nas vielas manhosas, os comerciantes destas
largas “ruas dos ricos” –como são conhecidas em antítese a estes becos mais
anónimos- apostaram em alta tecnologia de laser. Consegui saber que é o último
grito em enfeites populares. O interessante é que quem passa –ignorantes, está
de ver- até pensa que ali, naquelas ruas turísticas de excelência não fizeram
nada –e, já agora, convém lembrar que na Visconde da Luz tem a loja o
presidente da APBC, Armindo Gaspar, e na Sofia o vice-presidente, Arménio Pratas.
Porém, quem pensa que nada se passa ali labora num engano puro. Venham à noite, mas muito
pela noite dentro, se possível, e vejam o espectacular show de luz, “estereofónico”
e estrelado, assim numa mistura potente entre raios solares e os raios que os
parta da Lua. Confesso a minha incapacidade para descrever tamanha realização
de grandiosidade. Só comerciantes enormes, homens de pouca vontade, aliás,
desculpem, queria dizer, homens de vontade férrea se atiraram a tamanho empreendimento.
Nem quero imaginar os milhares de euros gastos num evento de tal envergadura.
Quem não está pelos ajustes é a
menina Umbelina, que vende botões, fechos e outros apetrechos, ali na Rua do
Volta Atrás. “Aquilo é uma indecência, está a ouvir?” –diz-me ameaçadoramente, e
a encostar o dedo em riste quase junto ao meu nariz, como se o quisesse enfiar
num dos buracos. Admite-se, numa altura de crise, que todos estamos a viver, os
ricos lá de cima apostarem num projecto tão caro? –Quer dizer eu não sei quanto
gastaram, mas presumo que uma fortuna! É um escândalo! Isto, cá no meu
entendimento, ali anda a mãozinha da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Ai, de
certeza! Até aposto que quem pagou tudo foi o Barbosa (João Paulo Barbosa de
Melo, presidente da CMC). Você acha isto bem?” –e, como sou baixote, voltei a sentir
a ameaça dos seus “para-choques” avantajados junto à minha boca- eu seja
ceguinho, até comecei a tremer perante uma ameaça daquelas.
Continuou a comerciante em tom
colérico, “temos de denunciar isto, está a ouvir? Espero que você assuma este
papel da nossa indignação. Embora, suspeito que, como você anda lá de volta da “Casa
do Comerciante”, às tantas, até está feito, em panelinha, com eles. Faça o
favor de escrever um texto como deve ser. Não quero é lá o meu nome, nem
fotografia. Está a ouvir? Quer que repita?” –e lá levei eu outra vez com dois
marmelos na tromba que até me lixei.
2 comentários:
Quando a vontade de mudar não parte de todos, é muito difícil fazer alguma coisa pelo comércio na Baixa de Coimbra. Mesmo assim, eu vou lá estar, mas não seja em solidariedade para aqueles comerciantes que tanto se esforçam para que a Baixa arrebite. Aos outros, os ricos, desejo que a desgraça nunca vos bata a porta, ou então sim. Talvez assim vocês aprendam o que é solidariedade, espírito de equipa, entreajuda
Admiro este blog..e toda a dedicação que o sr Luis lhe tem dado..
Sou uma admiradora da baixinha de Coimbra, mas fico desolada ao passar por estas ruas e ver a solidão que ali se sente, tudo fechado, então a partir das 19h, é impossivel passar por ali, pois o medo apodera-se de nós ...e porque isto está assim? Crise? sim mas não só.
Predios inteiros entregues a comerciantes, pensavam que iam ter ali a sua mina de ouro, não houve uma politica de repovoação da baixa, foi deixada ao abandono por todos os mandatos politicos.
Hoje é impossivel ir para a baixa, não temos estacionamento, as lojas estão todas desactualizadas (Falta de ambição dos comerciantes?)ou será falta de conhecimento?...
As rendas demasiado caras fazem fugir as pessoas deste local..
Para a baixinha voltar a ter vida, tem que haver um envolvimento colectivo, população autarquia, comerciantes, e ponham jovens com ideias mais alegres para dar cor a este pedaço de história esquecida...
Enviar um comentário