quarta-feira, 11 de maio de 2011

SERÁ QUE A BRASILEIRA NÃO É BOA?

(O ADELINO PAIXÃO E A COMPANHEIRA JÁ ESTÃO À ESPERA... E QUE NÃO DESESPEREM)


 Cada vez que passo pelo Lúcio Borges a minha pergunta, como disco riscado, é sempre a mesma: “então, ainda abre a Brasileira este ano?”. O Lúcio é um empresário do ramo de pastelaria, que, com muito trabalho e mérito, tem alcançado imensos prémios em exposições a nível nacional. Para além disso, está há cerca de uma década implantado aqui na Baixa, na Rua da Moeda, com uma pastelaria. É um industrial que, como muitos por este país fora, começou a lavar os cestos ainda de cueiros. Aos poucos, com muito suor e lágrimas tem tentado subir a corda a pulso, quantas vezes com ela ensebada para ele cair.
Visionário e com coragem para se abalançar a novos projectos, em Novembro de 2009, comprou por trespasse a antiga Brasileira, que foi um dos grandes e identificativos cafés de tertúlia de Coimbra e, na década de 1990, foi transformado em pronto-a-vestir. Escusado será dizer que o Borges teve de recorrer a um grande e vultuoso empréstimo bancário.
Passado um ano, mais precisamente em Novembro de 2010, as obras do (novo) estabelecimento hoteleiro estavam concluídas e, segundo as suas palavras, pronto a abrir ao público.  E aqui começa o processo de Kafka –a denominação é minha. Ora faltava isto, ora faltava aquilo. Ora era que aquela parede não estava conforme o apresentado no projecto, ora as vigas de ferro do telhado não estavam conformes os critérios de segurança. Ora era o arquitecto da sua obra que não ia à bola com a responsável camarária, conta-se por aqui por entre becos e ruelas.
Hoje, mais uma vez passei pelo Lúcio e lancei a costumeira e rebatida frase: “então, ainda abre a Brasileira este ano?”. E mais uma vez o Borges me respondeu que não sabia ainda quando iria abrir. Ao que parece, desta vez, a administração licenciadora está a passar o nível I de segurança para o nível II. Ora, segundo as suas declarações, é mais um projecto que tem de apresentar e mais tempo que vai estar à espera. Só quem já alguma vez abriu um estabelecimento saberá a necessidade premente de desabrochar o mais rapidamente possível –quem me lê saberá que estou sempre pronto a contar uma história e, perdoem, lá vai mais uma para compreenderem o quanto sinto na pele este atraso continuado do Lúcio. 
Em 1988, nas Escadas de Quebra Costas, tomei de trespasse um pequeno estabelecimento para fazer uma pequena “Tasquinha” –ainda hoje lá está e com este nome. Quase sem dinheiro, e durante meio ano, fui fazendo as obras necessárias e montagem. Até que requeri a vistoria. Depois de se confirmar que estava tudo conforme, o processo parou na autarquia. Após andar quase todos os dias a correr para a edilidade, verifiquei que o processo de licenciamento estava parado, há cerca de três meses, à espera de uma assinatura do vereador Jaime Carvalho –curiosamente, uma óptima pessoa que viria a conhecer bem, quando se tornou mais tarde meu cliente e amigo, aqui na loja. Faleceu há cerca de três anos.
Aflito, em desespero de me sentir sem dinheiro, um dia, disposto a tudo, subi as escadas da câmara e pedi à secretária do presidente António Moreira para que este me recebesse. A senhora, naturalmente habilitada a lidar com cromos como eu, depois de lhe explicar o meu drama –que era só meu, não era dela, aí é que bate!-, lá me foi adiantando que o senhor presidente não me poderia receber sem marcação prévia. Como eu estava pelos cabelos com a minha paciência, e considerava já nada ter a perder, naquele átrio onde raramente os humildes têm voz, nervoso e quase sem controlo, impus as minhas condições: “a senhora faça lá o que quiser. Eu não vou sair daqui sem ser recebido pelo presidente. Vou esperar. Tenho todo o tempo do mundo e nada tenho a perder. Se quiser chame a polícia”. A mulher olhou para mim como se eu fosse um marciano e, embasbacada, sem saber o que fazer, entrou novamente no gabinete.
Passado cerca meia hora, veio novamente a senhora e mandou-me entrar para o gabinete da presidência –por muitos anos que viva nunca esquecerei a forma como fui recebido. António Moreira, nessa altura já com mais de 60 anos e um pouco adiposo, com os seus inseparáveis suspensórios, estava sentado à secretária. Quando entrei, levantou-se, veio ao meu encontro e, com uma voz pausada, atirou com estas palavras: “ então, então, o que é que se passa, meu rapaz?” –eu tinha 32 anos de idade.
Lembro-me bem, eu estava extremamente nervoso, mas mesmo assim lá lhe fui explicando o meu terrível problema. Com paciência ouviu-me e pareceu compreender. Levantou o auscultador do telefone e chamou ao gabinete um engenheiro. Vindo este, interpelou-o da razão daquele atraso. O engenheiro lá explicou como pode. António Moreira pediu-lhe o processo para a sua secretária. No fim, virando-se para mim, disse: “vai-te embora, meu rapaz. Vai tratar da tua vida. Nós precisamos de pessoas como tu. Dou-te a minha palavra que dentro de uma semana terás a licença do teu novo estabelecimento”. E assim foi.
Conto esta história para se entender melhor o quanto pode o desespero empurrar uma pessoa para um acto radical de desesperança.
É óbvio que, sendo justo, não conhecendo o processo do Lúcio Borges, não devo dizer que está a ser injustiçado de ânimo leve. Mas uma coisa eu sei: nenhum estabelecimento pronto a abrir pode ou deve estar encerrado mais de trinta dias. Ora a Brasileira está pronta desde Novembro do ano passado, ou seja 7 meses. Num tempo em que tanto se fala dos empresários e o quanto serão necessários para criar riqueza, este tempo não é admissível. É um escândalo. Nenhuma cidade consegue um necessário índice de desenvolvimento, com a consequente criação de emprego, se não acarinhar os seus empresários que arriscam tudo por um sonho. Quem licencia, no alto do seu pedestal de importância, não faz a mais pequena ideia das dores de barriga que o sonhador sofre. Esta situação não pode continuar. A bem do futuro, que já é daqui a pouco, isto não é admissível e não pode continuar.
Por muito que se argumente este adiamento de abrir a Brasileira raia a indecência. Não estou a defender que se passe por cima de tudo, mas é preciso compreender o que está em causa, como fez António Moreira comigo.
Até porque, muitos de nós sabemos, que aqui em Coimbra, este critério não é igual para todos. Ainda há poucos meses um estabelecimento de entretenimento abriu sem licença. Só lhe foi concedida mais tarde e a coisa decorreu na maior das normalidades. Será o peso do empresário que conte? Se calhar! O Lúcio, é pequeno, não é magricelas, mas quase… sei lá, às tantas é mesmo o peso que conta nas decisões.
Abram lá a Brasileira, porra!!


2 comentários:

Jorge Neves disse...

Aconselho o amigo Lucio a arranjar uma bandeira do PSD e juntar-se à comitiva do PSD LOCAL mais os Politicos do PSD da Autarquia e que faça campanha eleitoral que A Brasileira abre de um dia para os outros.
Digo eu com os nervos.
Será pela Brasileira pertencer à Freguesia São Bartolomeu que ainda está encerrada?

Anónimo disse...

É uma vergonha o que vem acontecendo com a BRASILEIRA.
Nesta Câmara complicar a vida a quem pretende investir na Baixa é fantástico.
No Gabinete do Centro Histórico, sempre que o Lúcio pretende esclarecimentos é uma confusão. A Srª Arquitecta que tem este projecto, quando está bem disposta concorda, quando acorda com os azeites, já não é assim.
Agora, já não é um problema de projecto. Agora é um problema de segurança (Incêndio). Chega-se ao cúmulo, num prédio antigo pretenderem portas de corta fogo. E quem tem a responsabilidade de despachar?
Nem dentro da Câmara sabem. Então o melhor é complicarem ainda mais a vida ao paciente Lúcio.
É assim que querem investidores para a Baixa?
Claro com entraves de todo o lado, nenhum empresário vem investir na Baixa.
Tudo serve para criar protogonismo.
Estas entidades deveriam ajudar, mas é exactamente o contrário.
Estou de acordo com o seu texto.
Porra, deixem abrir a BRASILEIRA, porque faz falta á Baixa de Coimbra.
José Carlos Clemente