quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A CAÇA AO BODE EXPIATÓRIO

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)






 Hoje fui com os meus cães à vacina ao Canil Municipal. As consultas começaram às 14h00. Eram à volta de 15 pessoas as que, acompanhadas com os animais, esperavam por ser atendidas. No princípio, durante algum tempo, talvez porque havia quem levasse dois cães, o atendimento rolou devagar. Sentados no átrio da sala de vacinação meia-dúzia de pessoas despejavam as suas frustrações em venenos direccionados ao pessoal que trabalhava lá dentro.
Dizia um com um certo azedume -dava mesmo para ver que estava ressabiado: “isto é uma miséria! É uma amostra de todo o funcionalismo público. Trabalhassem eles na privada e haviam de ver como é que era. Lá, há um tempo para desempenhar qualquer serviço. Aqui, no público, é uma rebaldaria. Fazem o que querem. É o que é!”. E os restantes concordavam e lá iam colocando mais umas achas para a fogueira. Via-se bem que as pessoas estavam descontentes e disparavam no primeiro alvo que se movesse. No caso, ali, era o pessoal da vacinação.
Entrei com os meus animais e, “in loco”, deu para verificar a simpatia e a competência de quem ali exercia funções. No caso uma técnica veterinária e um administrativo.
Enquanto percorria a distância que me separava até casa para levar os cães, deu para pensar o quanto, se não se tiver cuidado, nos tempos que correm, facilmente poderemos ser injustos. Basta dar uma vista de olhos pelas páginas sociais para verificar que se está a cair num radicalismo absoluto. Nesta mimética de irracionalidade, numa generalização incompreensível, está-se a tomar o caso isolado pelo todo. No escrever de muita gente, todos os polícias são iguais; todos os professores são uns calaceiros; todos os funcionários públicos são uns mandriões; todos os directores gerais são uns perdulários e caçadores de benesses; todos os ricos devem entregar a sua riqueza ao Estado para solver as contas públicas; etc, etc.
O período que estamos a atravessar faz-me lembrar o período revolucionário do PREC, Processo Revolucionário em Curso, em que o pensamento único grassava e a síndrome de carneirada alastrava. Sabe-se bem quais foram as consequências.
Todos calculamos a razão deste comportamento social. No entanto, creio, é preciso não embarcar neste barco da manipulação. Devemos dirigir o nosso protesto a quem contribui de facto para esta anomia social e não arranjar bodes expiatórios para as nossas frustrações. Cuidado com a caça às bruxas. Em tempo algum deu bom resultado. Os que mais ficam pelo caminho, a atapetar o chão, são sempre os inocentes e que nada têm a ver com a verdadeira guerra.

1 comentário:

Pedro Paiva disse...

Caro Luís, as generalizações acarretam riscos de injustiça. É o que dá vida ao saber popular "paga o justo pelo pecador". Eu nunca fui funcionário público, e já fui tratado com grande eficiência pelos ditos. Também já tive uma ou outra situação menos agradável, e que me fez ter a tentação de generalizar, no momento. A questão principal é que temos que falar no sitio certo e no momento certo e, generalizando de novo, temos (os portugueses) receio de ser desagradáveis com os outros, à frente deles. Existe hoje em dia o livro de reclamações que, não sendo perfeito, pode ajudar a tratar alguns destes casos. E mesmo que não ajude, ficamos com o sentido de dever cumprido.
Parabéns pelo blog e espero que continue a dar as notícias que permitem ter alguma noção do que se vai passando por aqui.
Cumprimentos