(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
DEPOIS
DE 04H15 À ESPERA – PROGRAMADA NO REGIMENTO PARA AS 17H00, A SESSÃO PÚBLICA ABERTA AOS MUNÍCIPES
COMEÇOU ÀS 21h15 - , COM ALGUMA DIFICULDADE EM FAZER OUVIR-ME POR PARTE
DE MANUEL MACHADO, QUE POR VÁRIAS VEZES TENTOU INTERROMPER A DISSERTAÇÃO COM RUÍDO PROVOCADO NO MICROFONE-, LÁ CONSEGUI DESPEJAR O
SACO. É PRECISO TER TRAQUEJO E UMA GRANDE DOSE DE LOUCURA PARA ENFRENTAR ESTE SENHOR DA PREPOTÊNCIA .
EX.MO
SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL, SENHORES VEREADORES, MEUS
SENHORES E MINHAS SENHORAS:
Antes
de entrar no assunto que me trouxe cá, vou fazer uma ressalva. Como
sabe a última reunião do
executivo
foi adiada várias
vezes.
Para
além da
obrigação
de
ser alterado o calendário com a data das sessões na página online
do município, é
dever
do Gabinete
da Presidência
comunicar
a dilação aos munícipes inscritos para intervir. E,
no
meu caso,
nada foi feito. Para
ser respeitado é preciso respeitar. Fica o alerta.
E
agora vou à questão principal: na
última sessão deste executivo alertei para a triste realidade: a
Baixa
comercial está a morrer.
Na réplica consequente, assobiando para o lado, o senhor
presidente, sem
responder ao concreto,
refutou
com demagogia.
Hoje,
através dos depoimentos de vários comerciantes das Ruas Ferreira
Borges e da Sofia que mais abaixo nomeio, estou na qualidade de
procurador e penso estarem presentes nesta sala, trago a esta
vereação casos concretos sobre o desempenho dos serviços
administrativos desta Câmara Municipal. Nos últimos tempos, a
fiscalização municipal, num processo alegadamente persecutório,
tem transformado as suas vidas num inferno de insegurança. Vale a
pena atentar nos seus lamentos:
Começo
com o discurso directo de Rui dos Santos Luís, dono das centenárias
Retrosarias Casa das Rendas, na Rua da Sofia, e Mateus, na Praça do
Comércio. Diz ele: “Na Rua da Sofia, por estarem muito velhas,
em 2005, portanto há 14 anos, substituí umas vitrinas pregadas na
parede, com cerca de um metro quadrado, em ferro por pvc branco.
Sempre paguei licença. Há algumas semanas recebi a
visita de um fiscal camarário que, embora correctíssimo no trato,
me intimou a retirar imediatamente os expositores, sob pena de
levantamento de auto de contra-ordenação. Embora com a licença de
110 euros paga até ao próximo Novembro, recolhi-as há
alguns dias.
Passo
a palavra a Isabel
Martins Pinto, com várias lojas de artesanato na Rua Ferreira
Borges. Diz ela: “Com
ameaça de processo mandaram retirar os expositores. Só permitem um
expositor
de um metro quadrado. É manifestamente pouco. Acho
ridículo mandarem retirar os artigos expostos junto das portas de
entrada.
Sinto-me
cansada! Estou
a pensar em encerrar uma ou duas lojas.
Às tantas, querem dar connosco em doidos! Parece mesmo perseguição
ao pequeno comércio.”
Vou
enunciar as palavras de Ana Freitas,
comerciante
na Rua Ferreira Borges. Diz
assim:
“Obrigaram-me
a retirar os vasos. Os fiscais disseram que eram ordens superiores.
Mandaram
recolher
um expositor em ferro e vidro com as medidas regulamentares. Não
deixam ter qualquer artigo pendurado na
parede.
Cada fiscal dá sua ordem. Querem acabar connosco!”
Vou
dar a vez a José Pintassilgo, da casa Focus, na Rua Ferreira Borges.
Diz
isto:
“Desde
há 35 anos que tive aqui uma montra estreita, aparafusada na parede,
em niquelado branco. Tinha uns pendulares na parede que embelezavam
a loja e chamavam a atenção. Mandaram
recolher. Há dias recebi a visita de um fiscal que,
imperativamente, ordenou:
“retira tudo ou multo?”. Apesar
de ter recolhido,
tenho
um processo de contra-ordenação a decorrer.
Já
sou velho no comércio e nunca vi uma coisa destas! Isto é
perseguição para acabar com os pequenos!”
Vou
passar
a
José Reis Rénio, da Papelaria Cristal, na Rua Ferreira Borges.
Sublinha
ele:
“Já
tive quatro
expositores
na rua com as medidas regulamentares.
Actualmente
tenho apenas um expositor
na rua. É
manifestamente pouco.
Em
Agosto de 2017, pela
falta de comunicação prévia,
aplicaram-me uma coima de 1,022.21 euros. Pedi para para pagar em
prestações e não me foi concedido. Para meu azar não consultei um
advogado nem
impugnei.
Mais
tarde vim
a saber que, como se estivesse totalmente
clandestino,
incluíram
também
um
toldo que estava
e está
legal há décadas e com licença paga.
No
que toca ao licenciamento de cavaletes assistimos a um autêntico
confisco. Passou-se de 10 para 145 euros por ano. Vai-se ao
inacreditável de exigirem que se pague a mesma importância no
espaço ocupado pelo cavalete de publicidade ao autocarro turístico
Yellow Bus quando, sendo dos Serviços Municipalizados, é um serviço
prestado à autarquia.
Não
há razoabilidade. Parece perseguição
ao pequeno operador!”
Agora
falo eu, Dr.
Manuel Machado:
E
principio pelo cumprimento da legalidade do Regulamento
Municipal de Ocupação de Espaço Público e Publicidade
imposto pela fiscalização camarária. Embora nem eu nem o senhor
sejamos juristas, contudo, pela nossa longa experiência, para além
de sabermos ler e interpretar, conseguimos perceber o que é justo e
injusto. Começo por chamar a atenção desta câmara para o facto
desta postura municipal, por um lado, restringir fortemente o
funcionamento do pequeno estabelecimento comercial, por outro, de
forma escandalosa, beneficiar a hotelaria. Como exemplo, basta
compararmos a Subsecção II, nos Artigos 42, número 2,
onde se prescreve que pode ser autorizada a instalação de
explanadas afastadas da fachada do estabelecimento hoteleiro, e a
Subsecção III, no Artigo 48º, no referente a
expositores de apoio a estabelecimentos, onde as regras são
muitíssimo mais apertadas.
Para
piorar são sobrecarregadas por um controle despótico e enviesado
onde não se tem em conta o princípio da proporcionalidade. Os
espaços comerciais, num autoritarismo endémico, são tratados com
régua e esquadro. Ou seja, é quesito de obrigatoriedade apenas um
expositor para cada loja independentemente da área útil do
estabelecimento. Para o mesmo peso económico entre retalho e
hotelaria duas medidas diametralmente opostas. Isto é, salvo melhor
opinião, o princípio da igualdade entre operadores apresenta-se
gravemente ferido na sua legalidade.
Por
outro lado, e aqui muita atenção, é
preciso salientar que
o presente regulamento não prescreve nem a quantidade de
expositores na via pública nem proíbe a tomada de espaço junto da
fachada de qualquer loja desde que seja realizada a comunicação
prévia, Artigo 16º, ponto 1, alínea e).
Aliás,
este Regulamento Municipal de Espaço Público e Publicidade
manifesta uma grande preocupação com o Centro Histórico. De tal
modo o cuidado é reforçado que até prevê um regime de excepção
nas Regras Gerais, do Artigo 34º, ponto 3. Logo, as
exigências de banir a apropriação junto às fachadas e a imposição
de um único expositor são ilegítimas, inapropriadas, de
lesa-cultura e estão a ser feitas à revelia da lei.
Mais
ainda, senhor presidente e restante vereação, embora esteja
estipulado na Subsecção III, no
Artigo 48, ponto 2 madeira e ferro para os
expositores de rua, pelos vistos, a definição é confusa para a
fiscalidade e dá azo a variadas interpretações. Assim como também
está bem definido neste artigo a ocupação de expositores para o
ramo alimentar.
Por
outras palavras, é minha convicção que a fiscalização camarária,
sem estudar bem o código de posturas e sem ter em conta o interesse
maior da cidade, está a provocar um desânimo geral, um antagonismo
desnecessário entre administração e administrados, que não é
viável nem saudável. Sobretudo num momento de uma brutal quebra de
vendas. Mas, não se pense que os comerciantes têm por intenção
denegrir ou desrespeitar a função de policiamento. Nada disso! Há
abusos que é preciso pôr cobro. O que não se pode é, numa espécie
de fanatismo radical, ir do oitenta para o zero. E aqui deixo-lhe um
desafio, Dr. Manuel Machado, no âmbito da filosofia de governo local
participado, de acordo com a oposição, mande constituir uma
comissão independente, que, entre outros, inclua comerciantes, para,
sabendo ouvir os interessados, se procurar o melhor para todos e
atingir a paz social na Baixa.
Uma
coisa sabemos: não podemos continuar a percorrer o caminho actual.
São centenas de vidas que estão em jogo! Não podemos esquecer!
Por
outro lado, que fique bem claro: trata-se de um assunto eminentemente
político, que exige o envolvimento de todos, e não uma questão
pessoal direccionada ao cidadão Manuel Machado.
Na
parte que toca os vereadores
com e sem pelouro, tenho a certeza que, tal como nós comerciantes,
querem o melhor para a cidade e não é
seu desejo ficar na história
como os cangalheiros do comércio de rua.
Se
é assim, estando todos do mesmo lado, mostrem o que
valem!
Sabendo
os senhores - os que se interessam pelo conhecimento do passado - que
esta forma expositiva nas fachadas do edificado, é um típico postal
ilustrado para quem nos visita, tem séculos de existência e faz
parte da história comercial da cidade, e é ainda uma atracção
pública nacional e internacional que, satirizando a formatação do
igualitarismo, dá alma às artérias estreitas e largas, não seria
mais lógico mandar disciplinar os excessos e incrementar o seu uso?
Num
mundo em mudança, onde o tradicional funciona como um retrato fiel
de outras épocas, o pitoresco é deliberadamente eliminado por
governantes sem visão política para os tempos vindouros. Tal como
se fez aqui em Coimbra com o desmantelamento da rede dos eléctricos
na década de 1980, os senhores eleitos, de forma perversa e
obstinada, não podem concorrer para a destruição dos costumes e a
apagar a luz da memória de um povo.
Não
foi
para “Valorizar
Coimbra” que
o senhor, Dr. Machado,
foi (re)eleito?
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