(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Com
uma hora e trinta e cinco minutos de atraso em relação ao horário
regimental, que está plasmado para as 17h00 e começou às 18h35,
apresentei à discussão camarária o “Abaixo-assinado”
subscrito por 37 pessoas, vendedores de velharias e simpatizantes, a
solicitarem o regresso à Praça do Comércio.
Depois
de lida a moção, no final, Manuel Machado, presidente da
Câmara Municipal de Coimbra, afirmou: “A Praça do Comércio
vai entrar em obras. Depois se verá!”
Ex.mo
Senhor Presidente da Câmara, Senhores vereadores, meus Senhores e
minhas Senhoras:
Começo
com uma ressalva: mais uma vez a reiterar um censurável hábito que
caminha para costume, a última reunião de Câmara foi adiantada das
17h00 para as 12h00 e, repetindo o procedimento, não fui avisado.
Especulo, o objectivo deste continuado “esquecimento” tem
uma intenção: levar ao cansaço e à minha desistência. Quero
dizer-lhe senhor presidente, Dr. Machado, que, pelo contrário, esta
sua alegada deriva autoritária fortalece a minha legitimidade para
prosseguir no cumprimento do dever de cidadania. Quero dizer-lhe
ainda que, e não esqueça, mesmo sem credencial, em analogia,
represento o cidadão comum e, por este facto, deveria merecer da sua
parte uma outra compostura.
E
agora vou à questão principal que me leva a intervir. Venho falar
de um abaixo-assinado, subscrito por 37 pessoas, com a maioria dos
vendedores e alguns simpatizantes, para que a Feira de Velharias, a
decorrer actualmente no Terreiro da Erva, volte novamente à Praça
do Comércio, ruas e largos adjacentes, tal como se faz com a feira
de Artesanato Urbano.
A
Feira de Velharias começou na Praça do Comércio como uma intenção
meramente sócio-cultural em 22 de Junho de 1991, na sequência das
actividades de final de ano escolar da Escola Silva Gaio, com a
designação de "Feira de Trastes". Teve a vontade
férrea e o apoio declarado de Carlos Dias, o nosso decano do adelo,
com o saudoso “Velhustro”. Face ao êxito alcançado, o
executivo municipal em reunião de 5/7/1991, deliberou dar-lhe
continuidade. Nessa altura a comissão de feira era constituída
pelas seguintes entidades: Câmara Municipal de Coimbra/Departamento
de Cultura; Junta de Freguesia de São Bartolomeu; Polícia de
Segurança Pública; Escola C+S Silva Gaio; GAAC, Grupo de
Arqueologia e Arte do Centro; e "O Velhustro".
Este
prestigiado certame, que chegou a ser o mais importante da região
centro, nos últimos vinte anos esteve sempre a funcionar em
auto-gestão. Sem uma necessária orientação camarária, sem regras
definidas, sem publicidade nas vias principais, sem lugares pagos e
marcados a dignificar a sua função cultural, paulatinamente foi-se
assistindo à diminuição de participantes. Com um universo de mais
de uma centena de ambulantes em 2000, chegámos a 2018 com seis
dezenas. Ou seja, enquanto outras cidades, como Aveiro por exemplo,
aproveitando a sua dinâmica, faziam crescer o número de expositores
pelas ruas do seu Centro Histórico, em Coimbra, num desleixado
atentado ao conhecimento dos vindouros, encolhia a olhos vistos. Em
busca de uma gratidão que nunca verão, sem remuneração
assegurada, muitos destes singulares animadores sociais deslocam-se à
cidade vindos de longe. Como actores de um espectáculo importante na
movida das urbes mas que, por não apresentar custo para o erário
público, não se dá valor e cujo esforço reverte exclusivamente
para os políticos da terra, num calculismo indecente, são
ostensivamente desclassificados e maltratados.
Sem
preocupação alguma pelo respeito que lhe é devido pela conservação
da memória e preservação da história, em Julho do ano passado,
numa medida camarária de absoluta prepotência e desprezo pelos
interessados, a Feira de Velharias foi inopinadamente transferida
para o Terreiro da Erva. Resultado desta irresponsabilidade, apenas
cerca de vinte comerciantes de antiguidades e velharias aceitaram ser
tratados como animais amestrados ao serviço do amo. Destratados,
arrumados como monos num local ermo, fechado, sem centralidade, sem
árvores de sombra, com uma canícula de rachar no Verão e um frio
polar no Inverno, sem casas-de-banho, sem a mínima comodidade de
incentivo, estes vendedores, através desta subscrição, pugnam pelo
regresso de uma dignidade que viram despromovida e uma obrigatória
declaração de mérito cultural.
Desde
que a Feira das Velharias saiu da Praça do Comércio, toda a área
comercial envolvente se ressentiu. Constituindo este mercado, no dia
da sua realização, um importantíssimo motor de revitalização
para toda a Baixa, com a sua saída do berço que a viu nascer, ficou
mais pobre e desertificada.
Senhor
presidente, embora adivinhe que só por milagre arrepiará caminho
uma vez que não tem qualquer estratégia para esta zona velha - e
este caso da Feira de Velharias é bem o paradigma da sua forma de
governar a cidade: o quero, posso e mando - mesmo assim, sem esperar
muito, continuarei a malhar em defesa da razão. Fazendo jus à
sensatez, quer provar que estou enganado?
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