(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Com
(apenas) vinte e três minutos de atraso em relação ao horário
regimental, que está plasmado para as 17h00 e hoje (pasme-se)
começou às 17h23, levei a sessão de Câmara Municipal um
assunto que considero estruturante para o futuro da Baixa e da
cidade. Bem sei que esta minha posição, por parte do público em
geral, será tudo menos unânime.
Como
nota introdutória, salienta-se a falta de comparência de uma
senhora munícipe inscrita para intervir no hemiciclo e que não apareceu. Alegadamente, a interveniente, inscrita há muito tempo,
não esteve presente por desconhecer a data de realização da sessão e,
ao que parece, por não ter sido avisada pelos serviços camarários.
Continuamos à espera que, conforme prescreve a lei, o mapa das
sessões, de Câmara e Assembleia, seja publicado na página
institucional para segurança jurídica dos interessados. Como o
nosso fado é tirar tudo a saca-rolhas deste executivo PS, vamos
continuar a malhar e à espera.
Ex.mo
Senhor Presidente da Câmara Municipal, senhores vereadores, meus
senhores e senhoras.
Hoje,
mais uma vez procurando sensibilizar este executivo para questões
prementes para o desenvolvimento local,
esquecidas ou deliberadamente arrumadas por serem fracturantes, venho
falar da criação
de uma
Sala de Consumo Assistido, as
denominadas Salas de Chuto,
na
Baixa. Como
se sabe,
estes
locais, que no
geral,
de
facto,
ainda não passaram do papel, têm por fim retirar os dependentes
de
substâncias
psico-activas
das ruas e, sobre olhar médico e especializado, tornarem os seus
actos vigiados. Para
além de
prevenir a introdução de germes patogénicos no consumo
intravenoso, com
doenças transmissíveis associadas,
e a promoção da proximidade com os consumidores, visa-se,
sobretudo,
evitar
a sua morte sem
dignidade em
cantos e recantos, como de coisas sem
valor se
tratasse.
Como
é público, foi aprovado o Decreto-Lei n.º 183/2001, de 21 de
Junho, no qual se incluiu a possibilidade de tal programa ser
implementado pelas Câmaras Municipais ou entidades particulares que
lutem contra a toxicodependência, cabendo a autorização para a sua
instalação ao Instituto da Droga e da Toxicodependência.
Nestes
quase vinte anos de vigência da lei, exceptuando Lisboa que, em
ambulatório, vai fazendo experiências no terreno, assim como também
é o caso do Porto, que, há dias, fez saber que neste 2019 será
inaugurado na Invicta o seu primeiro arrojado projecto, o país, com
a classe política a olhar para o lado contrário do que se passa
efectivamente no mundo da adição, embrulhado num silêncio
sepulcral, nem ousa falar de tal cisma.
Para
não fugir à regra, Coimbra, emoldurada na sua habitual hipocrisia
social, assobiando para as estrelas, faz-de-conta que a adversidade
não tem lugar na cidade. Mas, mesmo tentando varrer o problema para
baixo do tapete, o embaraço existe e não pode ser ignorado. Então,
como em tudo na vida, há duas opções: ou continuamos a empurrar
com a barriga ou, com a coragem dos políticos e envolvendo os
munícipes, encaramos a perturbação de frente e tentamos dar
solução.
Todos
temos noção de que é difícil demonstrar ao cidadão comum, pouco
esclarecido e menos receptivo a mudanças sociais que chocam, que o
estender a mão, dando sem nada exigir em troca numa primeira fase,
implica identificar, prevenir e enfrentar grandes tragédias em
muitas casas portuguesas, neste presente e futuro próximo. Sim,
porque o consumo de drogas, leves ou duras, sem controlo, é
terrorismo que, sem escolha entre pobres e ricos, mata no silencio e
transversalmente e destrói muitas famílias.
Na
Baixa, apesar da toxicodependência ser preocupante, só não é de
maiores consequências, sociais e económicas, graças ao admirável
trabalho de muitos técnicos que desenvolvem a sua actividade em
instituições junto ao Terreiro da Erva. Beneficiando deste momento
para os agraciar, aproveito também para lançar o alerta de que no
dia em que se transferirem estes serviços de apoio para outra zona o
Centro Histórico fica entregue à sua sorte. Depois não se queixem.
Para
justificar a criação de uma estrutura desta envergadura na Baixa,
convido os senhores a visitarem ao entardecer e ao cair da noite as
zonas da Loja do Cidadão e do Terreiro da Erva. Perceberão que,
enquanto interessados que querem o melhor para Coimbra, não podem,
nem devem adiar mais esta problemática.
Na
qualidade
de Presidente
da República, quando a medida legislativa foi aprovada em
2001,
Jorge Sampaio disse o seguinte:
“Em tempos dominados pelo medo e pela regressão, é bom ouvir uma
história de sucesso. Mas o que era inovador no passado tem que ser
mantido sob controlo permanente. As políticas públicas precisam de
se adaptar às novas tendências e enfrentar os desafios emergentes e
de longo prazo. Nós não podemos descansar com os louros obtidos.
Todos os países, todas as cidades, todas as comunidades podem fazer
mais e melhor pela redução dos danos”.
Para
terminar, interrogo: vale a pena pensar nisto?
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