quarta-feira, 30 de outubro de 2019

EDITORIAL: QUEM SALVA O PSD DE COIMBRA DOS JOGOS DE PODER?

(Imagem do jornal online Notícias de Coimbra)




No meio disto tudo, a velha raposa, de voz grossa e emproado,
sentado comodamente no cadeirão central, sabendo que não
precisa de fazer nada para os ventos lhe correrem de feição,
coçando a barriga com despudor, sorri a bom rir.
A velhice é um posto!”


A menos de dois anos das eleições autárquicas, enquanto Manuel Machado, com pompa e circunstância, inaugura na cidade as obras de requalificação de um túnel e vai cortar a fita de mais umas linhas de transportes colectivos para servir a periferia, o que fazem os restantes partidos e movimentos com e sem assento parlamentar e que, em longas noites de insónia, pensam vir a ocupar uma cadeirinha ou, como loto, o cadeirão do poder?

1 - A CDU, com o vereador Francisco Queirós à frente de vários pelouros, faz contas à vida. Tomando o exemplo das recentes eleições legislativas, em que a coligação chefiada por Jerónimo de Sousa foi bastante penalizada por ter feito parte da “Geringonça” nos últimos quatro anos, Queirós, que desde 2013 vem dando uma mãozinha ao Partido Socialista no executivo em Coimbra, sabe que tem pouco tempo para mostrar aos conimbricenses a sua utilidade como único eleito pela Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV). E portanto, numa prova de vida, tentando demonstrar que está ao lado do povo e não está de “unha e carne” com Machado, em vez de se abster sistematicamente, já começou a votar contra. Levantou a mão nas recentes alterações ao Regimento das Reuniões da Câmara Municipal de Coimbra e repetiu ontem nas Grandes Opções do Plano (GOP) para 2020. Será tarde? Os “inimigos”, ceguinhos para lhe ocuparem o lugar, estão à espreita e vão fazer tudo para lhe darem um empurrão e o retirarem de cena.

2O CDS/PP, a atravessar uma grave crise por causa dos resultados nacionais nestas últimas eleições legislativas e também com os órgãos distritais demissionários por não conseguir eleger nenhum deputado pelo círculo, em jejum do executivo conimbricense desde 2013, quando perdeu o seu único vereador, embora muito vulnerável para encarar o pleito em 2021, não deixará de apresentar uma lista concorrente e bater-se para recuperar a sua anterior bandeira no concelho.

3 – O Cidadãos por Coimbra (CpC), ainda em choque por não ter conseguido reeleger o seu único vereador no executivo em 2017, ainda a atravessar uma grave crise de identidade, resultado de um golpe palaciano e se ter colado ao Bloco, e ter perdido muitos apoiantes de centro-esquerda, vai bater-se forte para recuperar o seu lugar na Câmara Municipal.
É de supor que, para voltar a ter actuação executiva, vai apostar num candidato menos ligado à ortodoxia comunista e mais abrangente, acima de tudo, que roube eleitores ao PS. Tal como fez o Bloco de Esquerda, em Lisboa, é essencial que o CpC, em Coimbra, seja mais aglutinador e tome uns comprimidos de social-democracia. Se assim não for, pressupõe-se, pode continuar apenas representado na Assembleia Municipal. Coimbra, geneticamente, é uma cidade dividida entre o socialismo e o liberalismo da social-democracia, e os coordenadores do CpC sabem isso. É certo que novos dados que estão a emergir podem baralhar tudo e constituir uma séria ameaça à sua existência. E sobretudo com uma nova força política, o Livre, com José Reis, que já defendeu as cores do CpC.

4 – O Iniciativa Liberal (IL), o Chega, o Livre e o Aliança podem apresentar candidatos em Coimbra, em 2021.
O IL e o Chega, com as suas vitórias recentes de elegerem um deputado na Assembleia da República, se concorrerem na cidade dos estudantes, para além de tudo indicar terem aceitação na urbe, vão roubar votos ao CDS/PP e ao PSD – essencialmente, os sociais-democratas que se cuidem.
Quanto ao Livre o mais certo é concorrer à edilidade conjuntamente com os Cidadãos por Coimbra. No que toca à Aliança, de Santana Lopes, o mais certo é não apresentar lista em Coimbra.

5 – O PSD/PPD, depois de, em 2013, ter perdido a Câmara, um bocado por excesso de confiança de Barbosa de Melo, na altura o chefe da edilidade, e quatro anos depois, em 2017, ter apostado num candidato “pára-quedista” para se bater contra o actual regedor, continua à deriva e sem rumo, de certo modo, copiando a estrutura nacional. Pese embora o grande esforço de Rui Rio para voltar a trazer este grande partido para a ribalta.
A menos de dois anos do grande combate, estranhamente, o PSD local, em jogos de poder no executivo, com uma vereadora a ausentar-se de uma votação proposta pelo seu grupo e noutro caso a votar ao lado do PS quando os seus congéneres votam contra, parece indicar preferir o abismo.
Com ameaças muito sérias do Chega, do IL e do Somos Coimbra virem a ocupar completamente o seu espaço político na cidade, se não reflectir e continuar neste caminho dúbio que os eleitores não percebem, corre o sério risco de passar a ser minoritário no universo público. Quem salva o PSD em Coimbra?

6 – O Somos Coimbra, movimento constituído por dois vereadores eleitos em 2017, é, sem dúvida alguma, o grande combatente e resiliente no executivo. Apesar de saber que a cidade, pelo menos por enquanto, é castradora para movimentos independentes, o seu líder, José Manuel Silva, não se dá por vencido e, estrebuchando como pode, continua a acreditar que vai conquistar o cadeirão-mor.
Estudioso quanto baste, as suas intervenções conjuntas com a sua colega de bancada no hemiciclo são acutilantes e continuam a irritar e a desgastar o chefe do governo local, Manuel Machado.
Com o contorcionismo do grupo social-democrata que estamos a assistir, Silva sabe que os tempos que se avizinham são cada vez mais difíceis para alcançar o poder. Atingir o púlpito só com uma aliança entre a sua agremiação e o PSD. Porém, agora com as piruetas dos laranjas, a tomarem o antigo lugar de Francisco Queirós, quem arrisca subscrever um acordo de governo?

7 - No meio disto tudo, a velha raposa, de voz grossa e emproado, sentado comodamente no cadeirão central, sabendo que não precisa de fazer nada para os ventos lhe correrem de feição, coçando a barriga com despudor, sorri a bom rir. A velhice é um posto!

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