segunda-feira, 21 de outubro de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR (17)




Tal como já tinha previsto neste texto, a maioria socialista, para não encravar o vereador comunista, Francisco Queirós, cedendo à proposta de alteração do Regimento das Reuniões da Câmara Municipal, preferiu fazer uma pirueta e, finalmente, finalmente, finalmente, passou a interromper a sessão às 17h00. Até 2016 foi assim. As perguntas que emergem é: por que raio tardaram tanto? Era preciso rodopiar entre o comunismo e o socialismo para repor uma situação que, afinal, é mais que justa? Para mim, que não sou político no sentido lato do termo, sendo cidadão, fico satisfeito com a medida anunciada. Gostaria de sublinhar que esta alteração só se verificou pelo envolvimento da oposição, movimento Somos Coimbra e PSD. E também um agradecimento ao Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra. Para estes, o nosso aplauso. Como já referi anteriormente, acabamos todos a ganhar. Como proferi no hemiciclo: ALELUIA. ALELUIA!
E agora vamos ao assunto que me levou à sessão: o estranho caso dos três bancos desaparecidos em Agosto. Estranhe-se, ou não, nesta última Quinta-feira foram recolocados novos assentos. Segundo Manuel Machado, a responsabilidade foi da União de Freguesias de Coimbra que os retirou em Agosto para serem recuperados. Estranho, digo eu, que não sou político. A ser assim, substituindo por novos equipamentos, por que raio duraram dois meses? Mais ainda, só há cerca de duas semanas é que taparam os buracos deixados na calçada e agora, colocando novos assentos, voltaram a abrir os buracos. Faz sentido? 
Especulando, vou explicar como teriam acontecido as coisas: Há uma semana fiz a inscrição na Divisão de Atendimento e, como é obrigatório, declarei o assunto que me levava a intervir em sessão de Câmara. Como é óbvio, para se inteirar, alguém do Gabinete de Apoio ao Presidente ligou para a União de Freguesias de Coimbra (UFC). Esta entidade, mais que provável, que mandou remover os antigos com intenção de não recolocar outros em seu lugar, instigada pela autarquia, a toda a pressa, instalou outros novos. Como é de perceber, quer à UFC, quer à edilidade, interessava-lhes esvaziar a minha intervenção. Engulo a muito custo, mas é mesmo assim. O interesse egoísta, pessoal e partidário, esta sempre acima do interesse público. O que me custa a entender é a razão do comerciante (no caso, uma senhora), depois de ter falado comigo na Quarta-feira, não me ter avisado que no dia seguinte havia bancos novos no lugar dos antigos. Enfim! Só soube na reunião que a situação anterior tinha sido reposta.
Faça ou não sentido, o que importa é que a anómala situação foi normalizada e, com este acto, ganhamos todos. Verdadeiramente, este é o fim que deve interessar.


POST- SCRIPTUM - Na posse dos dados que detinha, ontem, Segunda-feira, publiquei esta introdução onde enalteci o papel da oposição na alteração do procedimento camarário. Acontece que hoje, ao ler os jornais da cidade, fiquei incrédulo com o que aconteceu. Afinal a oposição, nomeadamente o PSD, em jogos de poder de bastidores, não merece o elogio que lhes teço. O que aconteceu ontem foi uma vergonha – mas, sobre este caso, escreverei uma crónica a seguir.

E agora, deixo então o texto que li na Reunião de Câmara:


Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores:
Conforme é do conhecimento de Vossas Senhorias, na qualidade de munícipe, tenho vindo a trazer às Reuniões da Câmara Municipal assuntos de interesse geral para a comunidade, sobretudo tópicos relaccionados com a Baixa da cidade. No desempenho do direito constitucional de participação política, como princípio de cidadania, entendo ser meu dever sugerir, questionar, ou até “pedir explicações”, conforme reza imperativamente o Regimento para criar barreira, limitando o acesso ao cidadão.
No caso de hoje, sem preâmbulo para incidir directamente e não perdermos muito tempo com considerações desnecessárias, vou falar de um tema que, estou em crer, passou despercebido a quase todos os munícipes. Em Agosto, na Rua das Padeiras, ao fundo, junto à Avenida Fernão de Magalhães, em frente a Farmácia Santa Cruz, inopinadamente,
foram removidos três bancos de madeira e estrutura em ferro, que, instalados ali vão para muitas décadas, tal como os congéneres de jardim, serviam para os transeuntes descansarem, sobretudo idosos e outros com problemas de saúde motora. Sabendo nós que a Baixa não tem muitos pontos de apoio onde se possa pôr os pensamentos em dia, causa alguma perplexidade a retirada abrupta daqueles comunitários assentos onde, carregados de histórias para contar, pregados ao chão junto de várias árvores cameleiras, cobertos pela sombra num tempo de canícula, era um prazer indescritível ouvir os passarinhos.
Sem epitáfio que lhes valha, pelos vistos os bancos morreram. Mas, pergunto, o acto que levou ao seu desaparecimento foi acompanhada com um parecer técnico? Estes equipamentos, de valor social, amparo humano e espaço de liberdade, não deveriam ser para preservar numa zona antiga? Provavelmente nenhum dos senhores se lá sentou enquanto existiram naquele local abençoado, mas conseguem imaginar a falta que fazem? Avaliam a carência, não avaliam?
Tentando ser o mais exacto na informação, consegui saber que uma senhora comerciante naquela artéria, durante o mês de Agosto constatou uma frequência diária anormal de indivíduos sem-abrigo que permaneciam instalados nos assentos durante o dia e noite a dormir. Segundo alegações da lojista, “por um lado, a imagem que passava para a paisagem urbana era degradante, por outro, estava muito preocupada com o destino destas pessoas. Vai daí, liguei para várias instituições de apoio aos sem-tecto para se ocuparem destes pobres sem eira nem beira. Liguei também para a Câmara Municipal a dar conta do que se passava. Para minha surpresa, incredulidade e até tristeza, no dia seguinte assisti à retirada dos bancos que sempre me fizeram companhia. Hoje, no seu lugar estão três automóveis estacionados diariamente. Eu nunca pedi a remoção, nem contribui para esta solução”, afirmou a senhora.

Agora falo eu, senhor presidente da Câmara Municipal. V. Ex.ª, na qualidade de responsável político pelos actos administrativos, teve ou tem conhecimento deste incompreensível furto à qualidade de vida dos moradores da Baixa? Vai mandar instaurar um inquérito? Diga-me, a bem desta parte histórica, tenciona mandar repor estes instrumentos de paz e tranquilidade?


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