segunda-feira, 29 de abril de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR - 5 (REFERENTE À INTERVENÇÃO PÚBLICA BLOQUEADA)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Hoje, segunda-feira, enquanto comerciante e munícipe e na qualidade de representante de vários colegas, estava inscrito desde 17 de Abril para a sessão de Câmara, normalmente a ocorrer às 17h00. Sem que fosse avisado pelos Serviços do Gabinete de Apoio ao Presidente, a reunião foi antecipada para 11h00 e com intervenção do público às 12h00. Naturalmente, foi lavrado o protesto no Livro de Reclamações municipal.
Como se vê, aparentemente, por deliberada intenção de me coarctar o direito à livre expressão, não pude expôr os queixumes e os contributos dos que concorrem para o estado em que se encontra a Baixa comercial. Para os interessados fica a comunicação bloqueada:

EX.MO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL, SENHORES VEREADORES:

Antes de entrar no assunto que me leva a interferir neste executivo municipal, começo com uma ressalva: volto à intervenção da Fiscalização Municipal nas ruas largas. A razão deste “chover no molhado prende-se com o facto de na última sessão de câmara tudo ter sido feito pelos serviços do Gabinete de Apoio ao Presidente para que eu não interviesse. Foi de tal modo a tentativa de obstrução que, por questões estratégicas, pensando que não conseguiria usar da palavra, fiz uma inscrição com o mesmo assunto também para esta sessão.
Por conseguinte, tal como na anterior, estou aqui hoje como procurador de alguns comerciantes da Baixa. Portanto, solicito que se entenda esta minha manifestação como complementar da precedente.
E vou começar pela mensagem de Rui dos Santos Luís, das centenárias retrosarias Mateus, na Praça do Comércio, e Casa das Rendas, na Rua da Sofia: “Senhor presidente, na forma como a Baixa está, sinto-me atrofiado, sem ânimo e diariamente com vontade de desistir. É preciso que esta Câmara Municipal dê liberdade ao comerciante, com cortes na exposição de rua e não onerando o espaço público como está a fazer. Pela falta de pessoas, estou a atravessar um momento complicadíssimo. O negócio nos últimos meses caiu a pique. Para continuar, contrariamente ao que tem acontecido, preciso de sentir um apoio declarado por parte da autarquia.
E agora vou dar a palavra a José Rénio, da Papelaria Cristal, na Rua Ferreira Borges: “Senhor presidente, preciso de trabalhar! E para isto acontecer não me posso sentir obstaculizado como acontece actualmente por parte da Fiscalização Municipal que me impede de expor na rua, em frente ao estabelecimento, como antigamente se fazia. Da forma como está a ser feito o policiamento só concorre para eu me desmotivar e encerrar. Com toda a certeza, este não é o papel que deve caber à edilidade. Trabalho desde criança no meu estabelecimento desde há 55 anos, primeiro como empregado, depois como patrão. Ultimamente sinto-me profundamente desprezado e maltratado.”
Em seguida, vou dar a palavra a Isabel Martins Pinto, com várias lojas de artesanato na Rua Ferreira Borges: “Senhor presidente, não posso continuar nesta situação de autêntico cerco por parte da Fiscalização Municipal. Os produtos não estando expostos na rua não suscitam a curiosidade de quem compra as nossas lembranças. O turista que nos visita olha a correr, é de passagem, e se não expusermos na via pública não entra nas lojas. Tal como antigamente, preciso de ter quatro expositores na rua e os laterais, na parede da fachada, preenchidos com artigo. Estou na Baixa há 45 anos. Desde que a fiscalização camarária mandou retirar os produtos expostos senti uma acentuada quebra nas vendas.
E agora dou voz a Ana Isabel Freitas, com estabelecimento na Rua Ferreira Borges: “Senhor presidente, começo por lhe dizer que, falando com colegas, depois da abrupta retirada dos artigos expostos em frente às lojas as vendas diminuíram. Para além disso, os lojistas sentem-se incomodados, nervosos, a ponto de até deixarem de dormir. Precisamos de falar com a Câmara e sermos ouvidos. É preciso quebrar a cortina de gelo que se instalou entre nós. Enquanto comerciante, para planear o futuro, tenho necessidade de saber com o que posso contar por parte da edilidade. Preciso de ter segurança económica para continuar. Sem esta confiança absolutamente necessária não sei se abrirei mais estabelecimentos.
E agora falo eu, Senhor presidente Manuel Machado: penso que, na sessão de câmara antecedente e na de hoje, já tudo foi dito. Como alguém escreveu em mensagem anónima deixada nas lojas comerciais há cerca de três semanas: “A Baixa está de luto!”. Tal como estava escrito no panfleto incógnito, está de luto, sobretudo, no desgosto pela falta de intervenção política. O que espera para dar um sinal de esperança a quem aqui trabalha e ganha a sua vida?

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