(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Depois
de devidamente inscrito para me manifestar amanhã em sessão de Câmara
Municipal, recebi ontem um e-mail
a
informar-me que (…) “os cidadãos interessados em intervir (…)
tem como único propósito o da prestação de esclarecimentos por
parte da CMC a alguma questão formulada por munícipe (…). Pelo
exposto não poderá ser aceite esta inscrição para intervenção
na reunião (…).”
Alegadamente
a cometer uma ilegalidade formal, num
positivismo cego e enviesado, sem ter em conta os fins, mais
uma vez, foi barrada a minha comparência no hemiciclo.
Para
os interessados deixo o teor da minha intervenção:
Ex.mo
senhor Presidente da Câmara Municipal, senhores vereadores:
Contrariamente
ao que se crê e reivindica, Coimbra nunca foi um grande polo
industrial. É certo que, ao longo dos últimos três séculos,
algumas fábricas marcaram forte presença na olaria, nos têxteis,
na porcelana, na azulejaria mas, historicamente, o comércio de rua
foi o tronco e a pequeníssima indústria associada foram os ramos
que fizeram respirar a cidade. Os comerciantes, mesmo tendo agregado
um legítimo interesse egoísta, através da sua visão arrojada,
arriscando o seu magro pecúlio e contraindo empréstimos,
sacrificando a sua vida e a da família, elevando a esperança e o
sonho da concretização, foram sempre o motor do desenvolvimento da
cidade. A história destes humildes lavradores de noites mal
dormidas e semeadores nas agruras dos tempos, que fugindo da pobreza
dos lugarejos em redor, começando como marçanos e subindo a corda a
pulso, ainda não foi devidamente reconhecida nem contada.
Basta
atentarmos na toponímia corporativa de certos largos e artérias da
Baixa, Praça do Comércio, Largo das Olarias, Ruas da Louça, dos
Esteireiros, das Padeiras, para percebermos o quanto a pequena
produção artesanal aliada à venda foi importante e esteve sempre
presente na economia local.
Sobre
os auspícios do
raio de luz
intelectual da Universidade, com muitos
ministros,´secretários-de-estado
e até um presidente
do conselho
que ali foram docentes, após a implantação da República, em 1910,
a Lusa Atenas, ao longo de todo o século XX, sobretudo por ser um
epicentro
comercial a céu aberto de
confluência,
foi o centro do centro de Portugal e afirmou-se como terceira cidade
do
país.
Sem
o esforço, dedicação e entrega destes
mercadores, alguns ainda vivos e outros que já pereceram, não teria
sido possível este engrandecimento regional.
Socorrendo-nos
novamente da toponímia,
até à introdução da democracia, em Abril de 1974, um comerciante,
pequeno,
médio
ou abastado,
era o
modelo
de cidadão, reverenciado,
símbolo da palavra honrada, sinónimo
de comendas e respeitabilidade pública.
Após o troar dos canhões da revolução, lavando
a classe com sabão clarim, trocando
o nome pomposo para “empresário”,
foram
sendo desvalorizados
completamente
no
reconhecimento de integridade. Confundindo
a árvore com a floresta, vinculando-os aos grandes grupos económicos
que era preciso abater pelo
anátema,
praticamente, os negociantes foram remetidos para as calendas do
esquecimento, como
se fossem apêndices instrumentais
do Estado Novo e
tivessem de liquidar
uma impagável
dívida
à sociedade.
Por
incrível que pareça, na Baixa, entre os 79 e os 95 anos, temos hoje
11 comerciantes ainda a marcarem
presença e a labutarem
nos seus estabelecimentos. Sem
esquecer outros tantos ainda de boa saúde mas afastados das lides
comerciais. Por
questões óbvias não divulgarei aqui as suas identidades.
Nesta
minha intervenção política, trago uma proposta e uma
solicitação de esclarecimento. Como proposta, na minha
qualidade de munícipe, sugiro que esta Câmara Municipal,
rectificando uma lacuna de muitas décadas, assumindo um critério de
escolha, deveria agraciar este lote especial de profissionais com a
medalha de prata da cidade no próximo 04 de Julho, Dia da Cidade.
É
politicamente correcto? É sim senhor! Mas, para o caso, pouco
importa. Se
for levada em conta esta minha intervenção cidadã,
o
que interessa como
valor maior
é que o município, através
desta aclamação pública,
está a reconhecer
que tendo
sido
ingrato para uma classe de obreiros que ajudaram a construir a
cidade, apesar
de tardiamente,
está
agora a
emendar a mão.
Como esclarecimento, solicito a seguinte informação: qual a razão que sustenta que, em 45 anos de liberdade, apenas um comerciante tenha sido agraciado com a medalha de prata da cidade? Nomeadamente, José da Costa, votado por unanimidade em Assembleia Municipal em 28/6/1993 e medalhado no Dia da Cidade, em 04 de Julho de 1993.
Como esclarecimento, solicito a seguinte informação: qual a razão que sustenta que, em 45 anos de liberdade, apenas um comerciante tenha sido agraciado com a medalha de prata da cidade? Nomeadamente, José da Costa, votado por unanimidade em Assembleia Municipal em 28/6/1993 e medalhado no Dia da Cidade, em 04 de Julho de 1993.
TEXTOS RELACCIONADOS:
CRÓNICA DO MALHADOR (2)
CRÓNICA DO MALHADOR (3)
CRÓNICA DO MALHADOR (4)
CRÓNICA DO MALHADOR (5)
CRÓNICA DO MALHADOR (6)
CRÓNICA DO MALHADOR (3)
CRÓNICA DO MALHADOR (4)
CRÓNICA DO MALHADOR (5)
CRÓNICA DO MALHADOR (6)
Sem comentários:
Enviar um comentário