(Vídeo produzido pelo jornal online Notícias de Coimbra -para quem vai o nosso agradecimento)
Quem
esteve presente nesta última sexta-feira, 28
de Junho, na
Assembleia Municipal de Coimbra, nomeadamente a comunicação social
e deputados - porque público assistente não havia -, mais
que certo, ficou de boca-aberta perante
a reacção intempestiva (talvez devesse escrever histérica mas
fico-me pelo pensamento) do presidente, Luiz
Marinho, perante a minha intervenção pública naquele parlamento
local.
Para
compreender tudo é preciso recuar. Em 16 de Maio inscrevi-me no
Atendimento ao Público. O assunto transcrito obrigatoriamente no
impresso foi: “Vem
requerer para intervir na próxima sessão da Assembleia Municipal
para apresentação da proposta aos deputados municipais para que
estes recomendem ao Executivo a mudança de horário de intervenção
pública nas reuniões de Câmara, das 17h00 para as 15h00. Isto é,
a bem do pluralismo, que seja proposta a mudança para o Período
Antes da Ordem do Dia, em vez do final da sessão.”
Nestes
últimos dias, tive o cuidado de ir à página institucional da
Câmara Municipal ler a convocatória e reparei que não constava no
ponto 1, na Abertura, a menção
à intervenção pública. Pensei que poderia ter sido lapso e
facilmente ultrapassável pela boa-vontade do regente.
Cerca
das 14h20 desta sexta-feira,
um pouco antes de começar a sessão, apresentei-me
no Salão Nobre da Câmara Municipal. Como é protocolar,
dirigindo-me
à funcionária que assessoria a reunião e dando-lhe
conhecimento de que estava matriculado
para intervir, aguardei sentado
numa da meia-dúzia de cadeiras vazias
reservada aos assistentes.
Segui a auxiliar com os olhos
e, pela sua movimentação e contactos breves, deu para perceber que
iria ter problemas em conseguir chegar ao micro. Passados minutos, vi
o presidente da Assembleia, acompanhado do secretário da mesa Vitor Carvalho, dirigir-se
a mim. Numa delicadeza
invulgar, assim de mansinho, depois de me cumprimentar simpaticamente,
atirou: “Sei que o senhor
Quintans está inscrito para intervir nesta sessão. Acontece que não
tive tempo de examinar o assunto e o levar à “Conferência de
líderes”. Pergunto-lhe, importa-se
de vir na próxima
sessão, depois, para eu analisar?”
O que
Luís Marinho não me disse – mas eu sabia – é que a próxima
reunião é em Setembro. Ou seja, eu teria de esperar cerca de três
meses para poder expor o tópico.
Rapidamente
respondi ao digníssimo
presidente: “Importo sim!
Se o senhor não fez o trabalho de casa é um problema seu. Estando
inscrito legalmente, estou aqui para intervir hoje!”
Se
há coisas que aprecio ver é
no que, num
piscar-de-olhos, um
humano se pode transformar. De
repente, numa metamorfose da banda desenhada, a representar Bruce
Banner e o Incrível Hulk,
à minha frente tinha uma pessoa completamente
fora de si, sem controle nas suas emoções, a mostrar bem parte da
sua alma inquietada.
Como retirasse da bainha a sua espada de poder, que lhe confere
domínio sobre os simples, com voz potente e
grave, atirou: “Ai
isso é que não intervém. Eu
não deixo. Eu sou o presidente!”
Calmamente
respondi: “E eu sou um
munícipe com direitos. Para me impedir é melhor chamar a PSP. Se
não me deixar intervir oficialmente, vou apresentar a matéria que
me trouxe no meio do salão para os deputados!”
Percorrendo
os cerca de vinte metros entre o “curral
da mula”, que é onde se
arruma e aconchega
o escasso público assistente no
grande salão, e
a mesa dos trabalhos,
calmamente, como nada se passasse, dirigindo-se
aos deputados, disse que
“gostava de informar
também que há uma situação de um cidadão que me surpreendeu
neste momento, que é de
um cidadão que gostaria
de intervir para apresentar um problema que tem contornos
regimentais. É um problema de mudança da ordem de apresentar a
palavra, (…) é
um problema de carácter regimental. O
Regimento diz uma coisa e a pessoa que pede para falar diz outra. Eu
não levei este assunto na
última reunião… à última reunião da…
à ultima reunião da...
Conferência de Líderes, que
é ela que decide em última análise a
quem é que se
concede o direito de
palavra. Deveria ter
levado mas, como a
agenda era extremamente pesada, acabei por não levar. Mas
reconheço a preocupação
dos serviços de que o
pedido foi feito”. Num
tom considerado normal, exclamou: “Tem
um minuto para falar. Tem um minuto para falar, e depois a Comissão
Jurídica analisará o
pedido. Faz favor!”-
e
largou a mão com displicência, como se quisesse dizer: vai lá
minha besta!
Ainda ia eu a meio
da sala e já Luís Marinho interrogava: “O
seu nome, faz favor?”.
Voltou a repetir: “Tem de
me dizer o seu nome!”
Assim que cheguei
ao pódio, apreendendo a pressão disfarçada do maestro da reunião
camarária, retorqui: “Senhor
presidente, vamos com calma! Primeiro
deixe-me chegar ao micro! Primeira questão: chamo-me António Luís
Fernandes Quintans. Segunda questão: Um minuto não é um tempo
razoável”, prossegui.
Por
quatro vezes, sempre cada vez mais alto, Luís Marinho, um afamado
fadista da cidade e conceituado
democrata, berrou: “TEEEEMMMM
AAAA PAAAALLLAAAVRRA!
Lamentável
desempenho senhor presidente da Assembleia Municipal de Coimbra, Luiz
Marinho. Triste “fado para um amor ausente” à democracia.
POST
SCRIPTUM: UM ENORME AGRADECIMENTO A FERNANDO MOURA, DO JORNAL
NOTÍCIAS DE COIMBRA, POR, MAIS UMA VEZ, COM O SEU EMPENHO CIDADÃO,
PERMITIR QUE A HISTÓRIA FIQUE DOCUMENTADA EM IMAGENS E PALAVRAS.
TEXTOS RELACIONADOS
Sem comentários:
Enviar um comentário