sábado, 29 de junho de 2019

CMC: CRÓNICA DO MALHADOR (10)


(Vídeo produzido pelo jornal online Notícias de Coimbra -para quem vai o nosso agradecimento)






Quem esteve presente nesta última sexta-feira, 28 de Junho, na Assembleia Municipal de Coimbra, nomeadamente a comunicação social e deputados - porque público assistente não havia -, mais que certo, ficou de boca-aberta perante a reacção intempestiva (talvez devesse escrever histérica mas fico-me pelo pensamento) do presidente, Luiz Marinho, perante a minha intervenção pública naquele parlamento local.
Para compreender tudo é preciso recuar. Em 16 de Maio inscrevi-me no Atendimento ao Público. O assunto transcrito obrigatoriamente no impresso foi: “Vem requerer para intervir na próxima sessão da Assembleia Municipal para apresentação da proposta aos deputados municipais para que estes recomendem ao Executivo a mudança de horário de intervenção pública nas reuniões de Câmara, das 17h00 para as 15h00. Isto é, a bem do pluralismo, que seja proposta a mudança para o Período Antes da Ordem do Dia, em vez do final da sessão.”
Nestes últimos dias, tive o cuidado de ir à página institucional da Câmara Municipal ler a convocatória e reparei que não constava no ponto 1, na Abertura, a menção à intervenção pública. Pensei que poderia ter sido lapso e facilmente ultrapassável pela boa-vontade do regente.
Cerca das 14h20 desta sexta-feira, um pouco antes de começar a sessão, apresentei-me no Salão Nobre da Câmara Municipal. Como é protocolar, dirigindo-me à funcionária que assessoria a reunião e dando-lhe conhecimento de que estava matriculado para intervir, aguardei sentado numa da meia-dúzia de cadeiras vazias reservada aos assistentes. Segui a auxiliar com os olhos e, pela sua movimentação e contactos breves, deu para perceber que iria ter problemas em conseguir chegar ao micro. Passados minutos, vi o presidente da Assembleia, acompanhado do secretário da mesa Vitor Carvalho, dirigir-se a mim. Numa delicadeza invulgar, assim de mansinho, depois de me cumprimentar simpaticamente, atirou: “Sei que o senhor Quintans está inscrito para intervir nesta sessão. Acontece que não tive tempo de examinar o assunto e o levar à “Conferência de líderes”. Pergunto-lhe, importa-se de vir na próxima sessão, depois, para eu analisar?
O que Luís Marinho não me disse – mas eu sabia – é que a próxima reunião é em Setembro. Ou seja, eu teria de esperar cerca de três meses para poder expor o tópico.
Rapidamente respondi ao digníssimo presidente: “Importo sim! Se o senhor não fez o trabalho de casa é um problema seu. Estando inscrito legalmente, estou aqui para intervir hoje!
Se há coisas que aprecio ver é no que, num piscar-de-olhos, um humano se pode transformar. De repente, numa metamorfose da banda desenhada, a representar Bruce Banner e o Incrível Hulk, à minha frente tinha uma pessoa completamente fora de si, sem controle nas suas emoções, a mostrar bem parte da sua alma inquietada. Como retirasse da bainha a sua espada de poder, que lhe confere domínio sobre os simples, com voz potente e grave, atirou: “Ai isso é que não intervém. Eu não deixo. Eu sou o presidente!”
Calmamente respondi: “E eu sou um munícipe com direitos. Para me impedir é melhor chamar a PSP. Se não me deixar intervir oficialmente, vou apresentar a matéria que me trouxe no meio do salão para os deputados!
Percorrendo os cerca de vinte metros entre o “curral da mula”, que é onde se arruma e aconchega o escasso público assistente no grande salão, e a mesa dos trabalhos, calmamente, como nada se passasse, dirigindo-se aos deputados, disse que “gostava de informar também que há uma situação de um cidadão que me surpreendeu neste momento, que é de um cidadão que gostaria de intervir para apresentar um problema que tem contornos regimentais. É um problema de mudança da ordem de apresentar a palavra, (…) é um problema de carácter regimental. O Regimento diz uma coisa e a pessoa que pede para falar diz outra. Eu não levei este assunto na última reunião… à última reunião da… à ultima reunião da... Conferência de Líderes, que é ela que decide em última análise a quem é que se concede o direito de palavra. Deveria ter levado mas, como a agenda era extremamente pesada, acabei por não levar. Mas reconheço a preocupação dos serviços de que o pedido foi feito”. Num tom considerado normal, exclamou: “Tem um minuto para falar. Tem um minuto para falar, e depois a Comissão Jurídica analisará o pedido. Faz favor!”- e largou a mão com displicência, como se quisesse dizer: vai lá minha besta!
Ainda ia eu a meio da sala e já Luís Marinho interrogava: “O seu nome, faz favor?”. Voltou a repetir: “Tem de me dizer o seu nome!
Assim que cheguei ao pódio, apreendendo a pressão disfarçada do maestro da reunião camarária, retorqui: “Senhor presidente, vamos com calma! Primeiro deixe-me chegar ao micro! Primeira questão: chamo-me António Luís Fernandes Quintans. Segunda questão: Um minuto não é um tempo razoável”, prossegui.
Por quatro vezes, sempre cada vez mais alto, Luís Marinho, um afamado fadista da cidade e conceituado democrata, berrou: “TEEEEMMMM AAAA PAAAALLLAAAVRRA!
Lamentável desempenho senhor presidente da Assembleia Municipal de Coimbra, Luiz Marinho. Triste “fado para um amor ausente” à democracia.


POST SCRIPTUM: UM ENORME AGRADECIMENTO A FERNANDO MOURA, DO JORNAL NOTÍCIAS DE COIMBRA, POR, MAIS UMA VEZ, COM O SEU EMPENHO CIDADÃO, PERMITIR QUE A HISTÓRIA FIQUE DOCUMENTADA EM IMAGENS E PALAVRAS.




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