(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Passando
uma hora depois da hora regulamentar, cerca das 18h00, na qualidade
de munícipe, hoje, nesta Segunda-feira, levei à reunião camarária
um assunto que, certamente, preocupa a maioria dos conimbricenses. À
minha questão formulada, como é hábito que se transforma em
costume, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel
Machado, respondeu: “Fica registado!”.
Clicando em cima desta frase, visione aqui o vídeo de Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra.
Clicando em cima desta frase, visione aqui o vídeo de Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra.
Ex.mo
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores
vereadores:
Nas últimas reuniões de Câmara tenho vindo a apresentar factores que na cidade, enquanto espaço de fruição pública, assentam, dão sustentabilidade e a transformam em atractivo para dar mais gozo e concentrar quem dela usufrui diariamente ou em turismo.
Hoje, como é
hábito pedindo esclarecimentos que nunca me são dados, venho falar
do estado em que se encontram alguns jardins da cidade e, mais em
particular, sobre zonas ajardinadas da Baixa.
Um jardim no burgo,
globalmente, é um espaço criado pelo homem com o objectivo de
manter a ligação entre o estratificado impessoal e frio da pedra e
do betão e o bucolismo da natureza, exaltando as belezas da vida
campestre. Se recuarmos a construções dos séculos XII e seguintes,
apercebemo-nos que uma grande parte do interior dos palácios,
conventos e casas senhoriais, era destinado a área particular
enfeitada com flores. Com o passar subsequente da centúria e
contínua valorização dos solos nos tempos hodiernos, contrariando
o costume, o jardim democratizou-se e, de lugar privado, passou a ser
frequentado publicamente por todos os burgueses. Falando de Coimbra,
exceptuando os de propriedade privada com acesso condicionado, ao
longo de todo o século XX, os edis, onde se inclui o senhor, foram
combinando o desenvolvimento harmónico da cidade com o edificado
construído e, dentro do possível, incluindo recintos ajardinados.
Para além disso, como cartão de identidade e projecção de
sensibilidade, fosse pela familiaridade da rosa à Padroeira ou não,
sempre primaram pelo cuidado extremo em manter a urbe florida. Mesmo
com recurso ao postal ilustrado da década de 1970/80, quem não
lembra o Parque Dr. Manuel Braga com os seus exuberantes canteiros
floridos?
Sem
fazer levantar o senhor presidente e os senhores vereadores das
cadeiras onde se acomodam, tomo a liberdade de os convidar a um
pequeno passeio virtual. Então, comecemos aqui pelo Jardim da Manga,
nas traseiras deste edifício. Com inestéticos andaimes colocados
desde Junho, sem servirem o fim para que foram colocados e somente
para calar as reclamações, com os lagos sem água e canteiros mal
cuidados, é bem o modelo de uma falta de auto-estima cidadã que nos
deveria fazer pensar.
Prosseguindo,
subimos em direcção à Praça da República. Entramos no jardim da
Avenida Sá da Bandeira. Pelo abandono perceptível, pela descuidada
manutenção dos canteiros sem relva, pelos troncos de palmeiras
cortados sem que lhe fosse feito um arranjo necessário e utilitário,
pelas floreiras de pedra vazias, pelos lagos como depósito de lixo,
pelas folhas secas amontoadas em altura de dez centímetros, aposto
que os senhores sentem o mesmo desalento que me atormenta.
Passando
no Aqueduto de São Sebastião, nos Arcos do Jardim, e vendo que
mesmo o verde que emoldura a rotunda do Papa está mal ajardinada,
entramos na estrada paralela ao Jardim Botânico e verificamos que os
separadores entre vias estão num estado calamitoso. Continuamos e
vamos em direcção ao Parque Verde. O desmazelo é a variável mais
recorrente. Espero que os senhores, na qualidade de administradores
da cidade, não se revoltem consigo-mesmo e comecem a esbofetear-se
pela incúria. Damos um passo mais para o lado e entramos no mítico
Parque da Cidade. O mesmo descuido, a mesma desprotecção, com
canteiros de terra sem verde, arbustos periféricos escassos e alguns
secos, o emblema da cidade completamente impreciso e a desaparecer,
os lagos sem água e, sem glória, indiferentes ao olhar humano.
Estamos
agora no Largo da Portagem. Mesmo aqui, que sendo a porta de entrada
da cidade, embora valorizado, não se encontra no seu melhor.
Prosseguimos e entramos no Largo das Olarias, junto à Loja do
Cidadão. Damos de caras com cerca de uma dúzia de floreiras com
aspecto de grande secura. Vejo que o senhor vice-presidente, na
qualidade de vereador responsável, arranha na cabeça. Ficou sem
palavras.
Vamos
em direcção à Estação Velha. Paramos um pouco junto da menina
dos seus olhos, como quem diz, a rotunda da Cidazunda. Pelo franzir
do seu rosto, dá para ver que está desanimado. E acabamos no Jardim
da Casa do Sal. Com lixo espalhado ao deus-dirá e terra sem cultura
florística, os senhores já nem ousam aproximar-se.
Tanto
quanto julgo saber, foi hoje aqui analisada a proposta final de
candidatura ao programa
Horizonte 2020, do projecto de
regeneração urbana dos centros históricos das cidades “Culturas
Conectantes”, instituído
pela UNESCO. Foi incluído a reestruturação
dos jardins públicos da cidade? Se não, à
minha qualidade de munícipe,
responda: vai fazer alguma coisa para mudar
este situacionismo?
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