segunda-feira, 9 de setembro de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR (14)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Passando uma hora depois da hora regulamentar, cerca das 18h00, na qualidade de munícipe, hoje, nesta Segunda-feira, levei à reunião camarária um assunto que, certamente, preocupa a maioria dos conimbricenses. À minha questão formulada, como é hábito que se transforma em costume, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, respondeu: “Fica registado!”.
Clicando em cima desta frase, visione aqui o vídeo de Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra.


Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores:

Nas últimas reuniões de Câmara tenho vindo a apresentar factores que na cidade, enquanto espaço de fruição pública, assentam, dão sustentabilidade e a transformam em atractivo para dar mais gozo e concentrar quem dela usufrui diariamente ou em turismo.
Hoje, como é hábito pedindo esclarecimentos que nunca me são dados, venho falar do estado em que se encontram alguns jardins da cidade e, mais em particular, sobre zonas ajardinadas da Baixa.
Um jardim no burgo, globalmente, é um espaço criado pelo homem com o objectivo de manter a ligação entre o estratificado impessoal e frio da pedra e do betão e o bucolismo da natureza, exaltando as belezas da vida campestre. Se recuarmos a construções dos séculos XII e seguintes, apercebemo-nos que uma grande parte do interior dos palácios, conventos e casas senhoriais, era destinado a área particular enfeitada com flores. Com o passar subsequente da centúria e contínua valorização dos solos nos tempos hodiernos, contrariando o costume, o jardim democratizou-se e, de lugar privado, passou a ser frequentado publicamente por todos os burgueses. Falando de Coimbra, exceptuando os de propriedade privada com acesso condicionado, ao longo de todo o século XX, os edis, onde se inclui o senhor, foram combinando o desenvolvimento harmónico da cidade com o edificado construído e, dentro do possível, incluindo recintos ajardinados. Para além disso, como cartão de identidade e projecção de sensibilidade, fosse pela familiaridade da rosa à Padroeira ou não, sempre primaram pelo cuidado extremo em manter a urbe florida. Mesmo com recurso ao postal ilustrado da década de 1970/80, quem não lembra o Parque Dr. Manuel Braga com os seus exuberantes canteiros floridos?
Sem fazer levantar o senhor presidente e os senhores vereadores das cadeiras onde se acomodam, tomo a liberdade de os convidar a um pequeno passeio virtual. Então, comecemos aqui pelo Jardim da Manga, nas traseiras deste edifício. Com inestéticos andaimes colocados desde Junho, sem servirem o fim para que foram colocados e somente para calar as reclamações, com os lagos sem água e canteiros mal cuidados, é bem o modelo de uma falta de auto-estima cidadã que nos deveria fazer pensar.
Prosseguindo, subimos em direcção à Praça da República. Entramos no jardim da Avenida Sá da Bandeira. Pelo abandono perceptível, pela descuidada manutenção dos canteiros sem relva, pelos troncos de palmeiras cortados sem que lhe fosse feito um arranjo necessário e utilitário, pelas floreiras de pedra vazias, pelos lagos como depósito de lixo, pelas folhas secas amontoadas em altura de dez centímetros, aposto que os senhores sentem o mesmo desalento que me atormenta.
Passando no Aqueduto de São Sebastião, nos Arcos do Jardim, e vendo que mesmo o verde que emoldura a rotunda do Papa está mal ajardinada, entramos na estrada paralela ao Jardim Botânico e verificamos que os separadores entre vias estão num estado calamitoso. Continuamos e vamos em direcção ao Parque Verde. O desmazelo é a variável mais recorrente. Espero que os senhores, na qualidade de administradores da cidade, não se revoltem consigo-mesmo e comecem a esbofetear-se pela incúria. Damos um passo mais para o lado e entramos no mítico Parque da Cidade. O mesmo descuido, a mesma desprotecção, com canteiros de terra sem verde, arbustos periféricos escassos e alguns secos, o emblema da cidade completamente impreciso e a desaparecer, os lagos sem água e, sem glória, indiferentes ao olhar humano.
Estamos agora no Largo da Portagem. Mesmo aqui, que sendo a porta de entrada da cidade, embora valorizado, não se encontra no seu melhor. Prosseguimos e entramos no Largo das Olarias, junto à Loja do Cidadão. Damos de caras com cerca de uma dúzia de floreiras com aspecto de grande secura. Vejo que o senhor vice-presidente, na qualidade de vereador responsável, arranha na cabeça. Ficou sem palavras.
Vamos em direcção à Estação Velha. Paramos um pouco junto da menina dos seus olhos, como quem diz, a rotunda da Cidazunda. Pelo franzir do seu rosto, dá para ver que está desanimado. E acabamos no Jardim da Casa do Sal. Com lixo espalhado ao deus-dirá e terra sem cultura florística, os senhores já nem ousam aproximar-se.
Tanto quanto julgo saber, foi hoje aqui analisada a proposta final de candidatura ao programa Horizonte 2020, do projecto de regeneração urbana dos centros históricos das cidades “Culturas Conectantes”, instituído pela UNESCO. Foi incluído a reestruturação dos jardins públicos da cidade? Se não, à minha qualidade de munícipe, responda: vai fazer alguma coisa para mudar este situacionismo?


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