segunda-feira, 17 de abril de 2017

CARTA ABERTA A FERREIRA DA SILVA, EX-VEREADOR DO CpC

(Imagem retirada da Web)




Meu caro Ferreira da Silva, vereador eleito pelo movimento Cidadãos por Coimbra no executivo municipal da cidade, escrevo-lhe esta carta por ter lido, aqui, que renunciou hoje ao seu mandato autárquico.
Julgo, todos sabemos a motivação que o levou a pedir a demissão. Para quem não souber, foram as dissidências internas do movimento que representava, como quem diz falta de respeito para com a sua pessoa, que o “obrigaram” a bater com a porta.
Se eu fosse político eleito, tenho a certeza, escrevia uma espécie de apologia de todo o desempenho do seu mandato autárquico ao longo destes últimos quatro anos e que terminará em finais de Setembro deste ano. E se fosse possível, ainda lhe mandava um abraço e umas palmadinhas nas costas materiais -contrário de formal ou virtual. E se estivesse a escrever um discurso para eu ler, teceria loas e mais loas ao político Ferreira da Silva, do mesmo modo que se escreve um elogio fúnebre. Dá sempre jeito ficar bem na fotografia a bater palmas ao desaparecido em combate.
Acontece que eu não sou político partidário, isso sim, sou político pela polis, pela cidade. Acontece ainda que, com franqueza e sem favor -já o escrevi aqui no blogue-, tenho para mim que o senhor, no desempenho autárquico, fez o melhor que podia. Como quando se faz o que se pode resulta em fazer o que se deve, logo fez um bom trabalho.
Acontece ainda que, nas últimas eleições autárquicas de 2013, votei no movimento Cidadãos por Coimbra cujo cabeça de lista era Ferreira da Silva, como quem diz, o senhor. E é aqui que a porca torce o rabo. Por outras palavras, é por isto que escrevo esta carta aberta. É exactamente pelo meu voto que lhe venho pedir responsabilidades. Usando linguagem medicamentosa, se eu, tal como alguns milhares votaram no “pacote” Cidadãos por Coimbra cuja posologia aconselhava a tomar os dois “comprimidos” juntos, programa e vereador, sem possibilidade de separação, como é que a cerca de cinco meses o caro amigo se demite do seu compromisso e não o leva até ao fim?
Deixe-me fazer-lhe outra pergunta: o senhor foi eleito por sufrágio popular unicamente pelos simpatizantes do movimento ou por todos os cidadãos que, sem qualquer filiação ou simpatia, acreditaram que um e outro, agrupamento político e vereador, seriam um bom projecto, uma ideia nova, para a cidade? Não estou a esquecer o trabalho dos restantes deputados, só que aqui, para o caso, é despiciente. Ou seja, em metáfora novamente, se o senhor prometeu liderar o navio até porto seguro, porque o abandona a escassas cinco milhas da costa?
Está bem, imagino, vai responder que não podia continuar porque não tinha “chão”, isto é, perdeu a confiança do movimento. Mas e onde fica o seu “juramento”, a sua responsabilidade, perante a minha pessoa e outros milhares de eleitores que, em “dois em um”, votaram no “pacote”?
Calculo que vai responder também que eticamente lhe ficava mal em continuar a desempenhar uma vereação sem representação e apoio partidários e a auferir um recebimento efectuado pelo erário público.
Mas, repito a pergunta: e o seu comprometimento com os seus eleitores? Sim, os seus eleitores, por que no “dois em um” o senhor representava cinquenta por cento do projecto. Como é que fica? Com um elogio ao seu segundo eleito na lista, no caso, Pedro Bingre do Amaral?
Dou por mim a pensar que o senhor quis ser diferente e levar à prática um costume que nunca é seguido no Parlamento, ou seja, raramente um deputado eleito à Assembleia da República, que entra em colisão com o seu partido pelo qual foi eleito, se demite. O povo acusa logo que fica lá pelo ordenado chorudo. Há um senão, as eleições legislativas não são iguais às autárquicas. Nas primeiras, para o parlamento, votamos nos partidos, e nas segundas, para as câmaras municipais, votamos em pessoas. Capiche?
E o caro amigo, tratando por igual uma situação desigual, achou que todos lhe iriam bater palmas. Enganou-se! Não gosto da posição que tomou. Sem necessidade, pelo troar do portão, prejudicou o movimento Cidadãos por Coimbra e defraudou quem, como eu, lhe atribuiu o voto.
É certo que Coimbra, por motivos diferentes dos seus, já está habituada a situações com o mesmo desfecho. Aconteceu na Assembleia Municipal com Helena Freitas, pelo PS, e depois Maló de Abreu, pela Coligação por Coimbra. E o mais escandaloso foi que, com a jogada aselha de chico-espertice, o PSD perdeu a edilidade para o PS nas últimas eleições quando Carlos Encarnação resignou a favor de Barbosa de Melo.
Se os primeiros actos de renúncia são inqualificáveis, o seu, embora em escala menor, também entra no mesmo rol. A meu ver, só menorizam a política representativa e empurram ainda mais para cima a abstenção.
Sem pretender dar-lhe uma lição de superioridade moral -quem sou eu para o fazer?-, aceite o meu protesto e admita que não esteve bem. Mais que certo, mal aconselhado, deixou-se levar pela emoção e colocou de lado a racionalidade expressa na lealdade para quem o ajudou a eleger. 
Coimbra perdeu duas vezes: o seu elogiado trabalho e pelo continuado exemplo negativo que levou, mais uma vez, à prática.

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