(Imagem retirada da Web)
Meu
caro Ferreira da Silva, vereador eleito pelo movimento Cidadãos por
Coimbra no executivo municipal da cidade, escrevo-lhe esta carta por
ter lido, aqui, que renunciou hoje ao seu mandato autárquico.
Julgo, todos sabemos a
motivação que o levou a pedir a demissão. Para quem não souber,
foram as dissidências internas do movimento que representava, como
quem diz falta de respeito para com a sua pessoa, que o “obrigaram”
a bater com a porta.
Se
eu fosse político eleito, tenho a certeza, escrevia uma espécie de
apologia de todo o desempenho do seu mandato autárquico ao longo
destes últimos quatro anos e que terminará em finais de Setembro
deste ano. E se fosse possível, ainda lhe mandava um abraço e umas
palmadinhas nas costas materiais -contrário de formal ou virtual. E
se estivesse a escrever um discurso para eu ler, teceria loas
e mais loas ao político Ferreira da Silva, do mesmo modo que
se escreve um elogio fúnebre. Dá sempre jeito ficar bem na
fotografia a bater palmas ao desaparecido em combate.
Acontece
que eu não sou político partidário, isso sim, sou político pela
polis, pela cidade. Acontece ainda que, com franqueza e sem
favor -já o escrevi aqui no blogue-, tenho para mim que o senhor, no
desempenho autárquico, fez o melhor que podia. Como quando se faz o
que se pode resulta em fazer o que se deve, logo fez um bom trabalho.
Acontece
ainda que, nas últimas eleições autárquicas de 2013, votei no
movimento Cidadãos por Coimbra cujo cabeça de lista era Ferreira da
Silva, como quem diz, o senhor. E é aqui que a porca torce o
rabo. Por outras palavras, é por isto que escrevo esta carta
aberta. É exactamente pelo meu voto que lhe venho pedir
responsabilidades. Usando linguagem medicamentosa, se eu, tal como
alguns milhares votaram no “pacote” Cidadãos por Coimbra
cuja posologia aconselhava a tomar os dois “comprimidos”
juntos, programa e vereador, sem possibilidade de separação, como
é que a cerca de cinco meses o caro amigo se demite do seu
compromisso e não o leva até ao fim?
Deixe-me
fazer-lhe outra pergunta: o senhor foi eleito por sufrágio popular
unicamente pelos simpatizantes do movimento ou por todos os cidadãos
que, sem qualquer filiação ou simpatia, acreditaram que um e outro,
agrupamento político e vereador, seriam um bom projecto, uma ideia
nova, para a cidade? Não estou a esquecer o trabalho dos restantes
deputados, só que aqui, para o caso, é despiciente. Ou seja, em
metáfora novamente, se o senhor prometeu liderar o navio até porto
seguro, porque o abandona a escassas cinco milhas da costa?
Está
bem, imagino, vai responder que não podia continuar porque não
tinha “chão”, isto é, perdeu a confiança do movimento.
Mas e onde fica o seu “juramento”, a sua responsabilidade,
perante a minha pessoa e outros milhares de eleitores que, em “dois
em um”, votaram no “pacote”?
Calculo que vai responder
também que eticamente lhe ficava mal em continuar a desempenhar uma
vereação sem representação e apoio partidários e a auferir um
recebimento efectuado pelo erário público.
Mas, repito a pergunta: e
o seu comprometimento com os seus eleitores? Sim, os seus eleitores,
por que no “dois em um” o senhor representava cinquenta
por cento do projecto. Como é que fica? Com um elogio ao seu segundo
eleito na lista, no caso, Pedro Bingre do Amaral?
Dou
por mim a pensar que o senhor quis ser diferente e levar à prática um costume que
nunca é seguido no Parlamento, ou seja, raramente um deputado eleito
à Assembleia da República, que entra em colisão com o seu partido
pelo qual foi eleito, se demite. O povo acusa logo que fica lá pelo
ordenado chorudo. Há um senão, as eleições legislativas não são
iguais às autárquicas. Nas primeiras, para o parlamento, votamos
nos partidos, e nas segundas, para as câmaras municipais, votamos em
pessoas. Capiche?
E o caro amigo, tratando
por igual uma situação desigual, achou que todos lhe iriam bater
palmas. Enganou-se! Não gosto da posição que tomou. Sem necessidade, pelo troar do
portão, prejudicou o movimento Cidadãos por Coimbra e defraudou
quem, como eu, lhe atribuiu o voto.
É
certo que Coimbra, por motivos diferentes dos seus, já está
habituada a situações com o mesmo desfecho. Aconteceu na Assembleia
Municipal com Helena Freitas, pelo PS, e depois Maló de Abreu, pela
Coligação por Coimbra. E o mais escandaloso foi que, com a jogada
aselha de chico-espertice, o PSD perdeu a edilidade para o PS
nas últimas eleições quando Carlos Encarnação resignou a favor
de Barbosa de Melo.
Se
os primeiros actos de renúncia são inqualificáveis, o seu, embora
em escala menor, também entra no mesmo rol. A meu ver, só menorizam
a política representativa e empurram ainda mais para cima a
abstenção.
Sem pretender dar-lhe uma
lição de superioridade moral -quem sou eu para o fazer?-, aceite o
meu protesto e admita que não esteve bem. Mais que certo, mal
aconselhado, deixou-se levar pela emoção e colocou de lado a
racionalidade expressa na lealdade para quem o ajudou a eleger.
Coimbra
perdeu duas vezes: o seu elogiado trabalho e pelo continuado exemplo negativo que levou, mais uma vez, à prática.
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