(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Por
em Fevereiro, deste ano, depois de estar devidamente inscrito para
intervir na Reunião de Câmara Municipal e, abrupta e mal-educadamente, a raiar o enxovalho, ter sido impedido pelo
presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado, afirmei na sessão
seguinte que, até me cansar, e os cidadãos passarem a serem
respeitados, iria comparecer a todos os plenários subsequentes.
Durante oito meses
fui ostracizado de várias formas. Desde a tentativa dos serviços do
Gabinete de Apoio à Presidência tentarem obstaculizarem a minha
comparência com o argumento de que não plasmei no requerimento de
inscrição “Solicitar esclarecimentos”, até permanentes
interrupções na minha explanação, incluindo ruído no microfone,
por Machado, tudo foi feito para que a minha desistência fosse
consumada.
Muitas vezes fui
obrigado a engolir a minha frustração para não cair no exagero do
insulto qualificado, que algumas vezes pressenti ser essa a intenção
do meu interlocutor. Ali, na interpelação entre o cidadão e o
presidente da edilidade, o cidadão, para além de se sentir
pequenino, está em desvantagem.
Por
um lado, é preciso muita segurança para não se ultrapassar as
margens exigidas do decoro e poder entrar-se facilmente na ofensa a detentor de
cargo político (artigo 184º do Código Penal), cuja pena mínima
pode ser de 150 euros. Claro que os políticos abusam desta posição
dominante e é aqui que o equilíbrio se torna difícil. Por outro,
para se manter firme, o munícipe tem de ser acompanhado de uma forte
convicção de missão. Por outro ainda, temos de se ler muito, estar a
par do que se vai discutir e, sobretudo, conhecer a lei e os
regulamentos que vamos invocar.
Muitas vezes me
senti idiota. Fazendo de conta que não notava os olhares de
“compaixão”, em especulação, assim no género: lá vem este
outra vez. Coitado, não tem trabalho para fazer e vem para aqui
chatear quem cá está!
Os
meses iam passando e o atraso, senão habitual de mais de uma, duas,
três horas depois do tempo regulamentar, e tudo continuava igual. Em
cada intervenção, antes de entrar no assunto que me lá levou,
dirigindo-me a Machado, fazia sempre uma ressalva: “como é
hábito, passam duas horas depois do tempo prescrito, que é às
17h00, o senhor presidente teima em desrespeitar-me. Ao
faltar-me ao respeito, por extrapolação, está a fazer o mesmo ao
cidadão-comum em que, mesmo sem procuração, procuro
representá-lo.”
Esta
introdução era calculada por mim, com intenção de, através de
provocação, cansar o mayor da cidade. Como picado por
abelha, o chefe da autarquia começava a revolver-se na cadeira e não
tardava com as interrupções. E eu, numa espécie de verbalização
para dominar a insegurança, lá proclamava: “não me
interrompa, que depois fico nervoso e demoro muito mais tempo.”
Os
meses iam passando e eu sem ver uma porta que me permitisse sair com
dignidade. Já tinha prometido a mim mesmo que iria até 2021, ano
das próximas eleições, a menos que acontecesse um milagre,
fenómeno que, pela reiterada teimosia e arrogância do presidente,
não acreditava.
A
oposição continuava passiva e serena. Para além de algumas
palmadinhas suaves nas costas, acompanhadas de grande encómio assim
no género “parabéns pela persistência”, mais nada
fazia.
Foi
então que na segunda sessão, ocorrida em 23 de Setembro, para além
das minhas palavras sacramentais na introdução, fui mais duro. E
perguntei se, com este
reiterado comportamento, o presidente pretendia ficar na história
como soberano forte, absolutista, por transformar os munícipes em
estúpidos – no qual me incluo. Disse também que não gosto do
trabalho da oposição acerca desta temática. Perante este
continuado achincalhamento dos munícipes – por que eu ali, embora
sem credencial para o efeito, represento o cidadão -, a oposição,
ali na reunião, pouco se importando com quem está à espera de
intervir, não demonstra suficiente revolta.
Foi a pedra de
toque de toque para a oposição acordar da letargia e apresentar uma
proposta conjunta, subscrita pelo PSD e movimento Somos Coimbra.
O
resto já se sabe, nesta última sessão foi aprovada uma moção
para que os munícipes sejam ouvidos impreterivelmente às 17h00. Em
face disto, como se calcula, a minha missão terminou, pelo menos na
comparência sistemática das reuniões. Claro que quando necessário lá estarei presente.
Pode
todo o executivo, vereadores com e sem pelouro, dormirem descansados.
Para já, livraram-se de uma grande melga.
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