terça-feira, 24 de setembro de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR (15)






Ontem, segunda-feira, na qualidade de munícipe, levei um assunto que, pelo menos, espera há doze anos por uma solução. Resolver este problema implica meios dispendiosos? Nada disso. É preciso apenas vontade, e nada mais. É somente a Baixa de Coimbra, no outro lado do espelho.
Porque passavam cerca de 02h30 depois da hora prescrita no Regimento da Reunião, como já vem sendo costume, antes de entrar na matéria de facto, como ressalva, comecei por interrogar o presidente do executivo, Manuel Machado, se fazia sentido continuar a manter na Ordem de Trabalhos “(17 HORAS) PERÍODO DE INTERVENÇÃO DO PÚBLICO” quando sistematicamente este horário não é cumprido. Perguntei se, com este reiterado comportamento, o presidente pretendia ficar na história como soberano forte, absolutista, por transformar os munícipes em estúpidos – no qual me incluo. Disse também que não gosto do trabalho da oposição acerca desta temática. Perante este continuado achincalhamento dos munícipes – por que eu ali, embora sem credencial para o efeito, represento o cidadão -, a oposição, ali na reunião, pouco se importando com quem está à espera de intervir, não demonstra suficiente revolta.
No final da minha intervenção, e em resposta à questão apresentada, Manuel Machado afirmou que a Câmara Municipal tinha contactado a EDP e que esta entidade, por promessa de um engenheiro (foi dito o nome, mas não recordo), se tinha comprometido no próximo Outubro em desempenhar o serviço que, aliás, é da sua competência, disse Machado.
Em face desta resposta do líder do executivo, eu disse que fazia votos que assim acontecesse, mas, se assim não fosse, em Outubro, porque infelizmente sou obrigado a continuar, lá estarei para lhe pedir contas. Machado, algo irado, acusou-me de estar a fazer chantagem. Retorqui que evitava de vir com este género de argumentos, porque não me metia medo.


Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores:


Nas últimas reuniões de Câmara tenho vindo a apresentar factores que na cidade, enquanto espaço de fruição pública, se não lhes for dada a atenção devida, funcionam ao contrário, ou seja, desmotivam a permanência, a fruição e a convivência social. No desempenho da participação política, como princípio de cidadania, é (deveria ser, sempre) obrigação do munícipe levar ao conhecimento da administração o que funciona menos bem. Deixando de ser utente com direitos plenos e passando a ser contribuinte com deveres, se cada civitas fizesse o mínimo, e por outro lado a resposta da tutela fosse célere e interessada na resolução do problema participado, o mundo à nossa volta, a nossa rua, o nossa largo, o nosso bairro, seria melhor. Acontece que nem um nem outra faz a sua parte. Por um lado, o primeiro, o urbano, resultado de políticas continuadas que o transforma em infante irresponsável, desonerando-o completamente da chave do embaraço, exige cada vez mais. Por outro, a segunda, a governança, com cada vez menos meios humanos para replicar a tanta solicitação, tentando demonstrar uma simplificação impossível, ou não responde ou quando refuta não cumpre.
Se os líderes políticos locais fossem mais inteligentes, mais abertos ao diálogo e deixassem de estar permanentemente concentrados em si próprios e apenas nas decisões que provêm dos seus gabinetes, retirando de uma vez por todas a visão paternalista e hipócrita como encaram o cidadão, tenderiam a saber ouvir e dar pragmatismo à participação pública, como semente germinada de John Kennedy: “Não perguntes o que a tua Pátria ode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela.
Hoje, venho falar na dispersa iluminação pública que se verifica, sobretudo, nos largos e ruas estreitas da Baixa de Coimbra. Com os candeeiros carregados de sujidade e teias de aranha e alguns com lâmpada fundida, durante a noite, a luz, densa e difundida em ciranda para o espaço público, transforma tudo à volta em clima de sobressalto, num estado emocional de alerta que surge em resposta da consciência perante uma situação de eventual perigo. Em consequência, também pela desertificação, gerando medo, estas vias são evitadas.
Nos últimos doze anos várias vezes chamei a atenção a esta Câmara Municipal para este contratempo. Umas vezes recebi resposta, comunicando que o assunto tinha sido encaminhado para o departamento responsável, outras vezes nem isso. A verdade é que tudo continua igual. Basta que algum dos senhores, quando passar por lá, levante os olhos e faça o favor de apreender a gravidade de uma coisa simples de resolver, se houvesse vontade, numa zona protegida e classificada como Património Mundial.
Em 16 de Novembro de 2018 comuniquei a situação ao portal “A Minha Rua” - como se sabe, institucionalmente ligado à autarquia de Coimbra. Com o número 40269 foi-me reportada a recepção. Em 25 de Julho de 2019, isto é, oito meses depois, recebi uma mensagem por e-mail a comunicar que a situação se encontrava resolvida. Como calculam os senhores, continuam igualmente sujos como há vários anos. A título de esclarecimento, diga-me, senhor presidente: acha isto normal?



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