Esta mulher, retratada hoje à
hora do almoço na Baixa, vasculhava num caixote de fruta fora do contentor umas
laranjas abandonadas no lixo. Certamente ali deixadas por uma loja de fruta da
zona porque impróprias para vender no estabelecimento mas ainda boas para
suprir carências alimentares. Ainda bem que houve o bom senso de não as
colocar dentro do recipiente da imundice.
Não é a primeira vez que assisto
a um quadro do género nos últimos tempos. Atente-se no pormenor de a senhora
estar bem vestida e apresentar a mala a tiracolo. Olhando o anúncio ao lado,
especulando, é mais que certo já ter ido todo o ouro, a prata, a jóia de
família e o último prato de Sacavém que, como memória de um país industrial que
se perdeu nas chinesices, ainda resistia na parede da sala. Agora, numa
declarada pobreza envergonhada, o estômago fala mais alto e, mesmo atentando
contra a dignidade subjacente e impróprio de uma nação que não respeita os que sempre
trabalharam para o seu Produto Interno Bruto, esta pessoa e outras como ela,
terão de se atirar à procura e o que jamais pensaram algum dia fazer.
Até há um ano atrás era comum ver
alguns sem-abrigo a apanhar géneros directamente dos escolhos, hoje, curiosamente,
poucos se avistam em imagens assim –talvez porque a cobertura por parte de
instituições é salutar. Numa inversão que deve fazer reflectir, como se pode
verificar, são pessoas como esta que ocuparam o lugar deixado vago. São
cidadãos que viveram bem até há pouco tempo e agora, pelas políticas
discriminatórias de austeridade, foram empurrados para a indigência.
Devemos pensar seriamente sobre o
que está acontecer à frente dos nossos olhos. Não se sabe se amanhã seremos
nós. Tomemos atenção!
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