terça-feira, 30 de abril de 2013

UMA IMAGEM, POR ACASO...



 Esta mulher, retratada hoje à hora do almoço na Baixa, vasculhava num caixote de fruta fora do contentor umas laranjas abandonadas no lixo. Certamente ali deixadas por uma loja de fruta da zona porque impróprias para vender no estabelecimento mas ainda boas para suprir carências alimentares.  Ainda bem que houve o bom senso de não as colocar dentro do recipiente da imundice.
Não é a primeira vez que assisto a um quadro do género nos últimos tempos. Atente-se no pormenor de a senhora estar bem vestida e apresentar a mala a tiracolo. Olhando o anúncio ao lado, especulando, é mais que certo já ter ido todo o ouro, a prata, a jóia de família e o último prato de Sacavém que, como memória de um país industrial que se perdeu nas chinesices,  ainda resistia na parede da sala. Agora, numa declarada pobreza envergonhada, o estômago fala mais alto e, mesmo atentando contra a dignidade subjacente e impróprio de uma nação que não respeita os que sempre trabalharam para o seu Produto Interno Bruto, esta pessoa e outras como ela, terão de se atirar à procura e o que jamais pensaram algum dia fazer.
Até há um ano atrás era comum ver alguns sem-abrigo a apanhar géneros directamente dos escolhos, hoje, curiosamente, poucos se avistam em imagens assim –talvez porque a cobertura por parte de instituições é salutar. Numa inversão que deve fazer reflectir, como se pode verificar, são pessoas como esta que ocuparam o lugar deixado vago. São cidadãos que viveram bem até há pouco tempo e agora, pelas políticas discriminatórias de austeridade, foram empurrados para a indigência.
Devemos pensar seriamente sobre o que está acontecer à frente dos nossos olhos. Não se sabe se amanhã seremos nós. Tomemos atenção!


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