Felizmente para todos, hoje voltou
a abrir o café Puri Doces, na Rua das Padeiras. Ontem escrevi aqui acerca do
encerramento deste estabelecimento na Baixa. Como era o meu café diário, todos
os dias lá ia várias vezes, havia alguma empatia entre mim e o dono. Há cerca
de meio ano que, em muitas conversas que tinha comigo, vinha manifestando o
desejo de claudicar e entregar a loja ao senhorio. Confidenciava-me que era
muito difícil de aguentar a situação. “As obrigações para o Estado são cada vez
mais, os custos fixos cada vez maiores e, contrariamente ao passado, os apuros
têm caído a pique nos últimos meses”, enfatizava.
Como já tive um café durante uma
dúzia de anos e sinto na carne as dificuldades dos hoteleiros –profissionais trabalhadores
dobrados, sem horários, esforçados e mal-pagos-, lá lhe ia dando ânimo,
sobretudo para que não se deixasse abater nesta onda de destruição que varre o
tecido empresarial nas pequeníssimas, pequenas e médias-empresas. Com a minha
estúpida mania de me meter onde não sou chamado ia dando sugestões que esbatiam
num oceano de desânimo e frustração.
Na segunda-feira última estava
encerrado com um papel na porta: “encerrado temporariamente”. Em conversa com
vizinhos, encolhendo os ombros, lá iam adiantando que “se calhar encerrou de
vez. Há tanto tempo que anda a dizer que vai fechar!”
Na terça-feira encontrei-o aqui
num outro café e à minha pergunta se tinha desistido de manter o seu
estabelecimento aberto respondeu: “vou estar uma semana encerrado. Mas
provavelmente não abrirei mais!”. Reparei que, enquanto eu carregava preocupação
pela sua sorte, ele mostrava algum desprendimento. Até com algum meio sorriso
envolvente. Estranhei. Mais tarde comentei isso mesmo com um dos presentes que
também se tinha apercebido deste facto.
Hoje reabriu e é o que interessa.
Há menos uma casa comercial silenciosa na Baixa.
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