De vez em quando sou surpreendido
por manifestações de soberba. Num tempo em que a partilha deveria granjear resultados,
nem que fosse em afectos, às vezes pergunto-me se certas pessoas sabem que vão
morrer e que esta passagem, a que chamamos vida, é uma simples caminhada de
parecidos, não iguais como se diz.
Vem esta introdução ao caso
porque ontem a denominada “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra” esteve a
tocar na Rua Ferreira Borges entre as 1h30 e as 15h00. Como se sabe, faço parte
deste agrupamento. Sou o mentor, o criador, digamos assim. Sou aquele que dando
as músicas e poemas, com a prestimosa colaboração destes extraordinários músicos,
na sua companhia, vou mostrando o que na parte musical sempre fiz. Como eles
fazem o favor de me acompanhar, os lucros financeiros que se obterem são para
eles. Na parte que me refere, já me sinto pago com a possibilidade de estar a
tocar com estas excelentes pessoas. Faço isto com muita satisfação. Acontece
que ontem, como sempre, tivemos o cuidado de não prejudicar ninguém. Isto é,
tentando, por exemplo, não tapar nenhuma montra de estabelecimento ou
obstaculizar a entrada de um prédio. Pois mesmo assim, ontem, porque estávamos
junto a um estabelecimento encerrado à hora do almoço, a dona passou e
lançou-nos um olhar que até parecia chispar fogo. Volto a lembrar que estava
encerrada a loja. Mesmo assim, perante aquele sinal de reprovação, passámos
mais para o lado e em frente a um negócio fechado e que faliu. Como se fosse
pouco, veio de lá, do prédio, uma moradora a implicar, de que ali morava gente
idosa e que os residentes não podiam passar. Tínhamos deixado cerca de um metro e meio para a
passagem. Perante a exultação desta mulher, só podia mesmo gozar. Então
disse-lhe que tivesse dó de nós todos. Estávamos ali a tocar porque éramos todos
desgraçadinhos. Quereria a senhora uma canção dedicada? Virei-me para a Celeste
Correia e disse: “Celeste, canta aqui para a senhora o nosso fado “Olhem,
tenham dó…”. E a mulher, certamente a pensar que não iria gostar do presente,
abalou a falar sozinha. É um caso de dó, não é?
Felizmente, para contrabalançar, tive lá dois momentos muito bonitos. Duas belas mulheres vieram dar-me um beijinho, a Isabel Fernandes e a Catarina Martins, e até quase esqueci a soberba dos casos que conto. Há sempre alguém que resiste e fura a mediocridade geral.
Felizmente, para contrabalançar, tive lá dois momentos muito bonitos. Duas belas mulheres vieram dar-me um beijinho, a Isabel Fernandes e a Catarina Martins, e até quase esqueci a soberba dos casos que conto. Há sempre alguém que resiste e fura a mediocridade geral.
2 comentários:
infelizmente mora gente idosa (corpo e mente) e mora pouca...assim é difícil dinamizar e revitalizar a baixa e a alta...
Dó Maior!
Melhor sorte por Coimbra!
Uma (ex)conimbricense.
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