(Imagem da Web)
Meu caro amigo Mickael Carreira de
imitação, espero que esta minha carta te vá encontrar bem de saúde, se Deus
Nosso Senhor quiser. Acima de todas as coisas, para além do Senhor do Universo,
rogo também a todos os Santos da Terra e do Céu que esta minha missiva te
chegue ao conhecimento. E coloco esta questão, porquê? Sei lá, de aqui em diante,
calculo, não vais ter tempo para te coçar, homem de todos os firmamentos
virtuais. Vais ver! Começas por ser assediado pelas televisões, que no
princípio vão rir-se de ti, a seguir vão idolatrar-te. Imagino que fiques
apreensivo com as minhas palavras, mas lembra-te do Futre, alma de Deus!
Recordas que o homem, agora artista de todas as praças e becos, sem ofensa para
ele, é mesmo um grande aselha na verbalização e como é que começou? Pois, já
percebeste, a dizer uma série de asneiras. Para se ascender à fama cá no
quintal tem de ser, primeiro muito tanso e idiota –idiota não, assim mais para
o chico esperto, não sei me entendes- e, segundo, parecer uma reedição do Alves
do Reis, aquele da falcatrua das notas do Banco de Portugal por volta de 1920,
não sei se sabes do que estou a escrever, calculo que não. Ora, pelas soberbas
qualidades que apresentas, se me consegui explicar minimamente, estou em crer que
estás no sopé da montanha da celebridade. Só precisas de dar o primeiro passo e
começar a subir.
Desculpa lá, mas nem estou em mim.
Esta foi mesmo de mestre. Ó pá, tu és o meu herói! Fogo, tu conseguiste
realizar o sonho que qualquer homem transporta na cabeça desde o nascimento até
à morte: colocar umas mulheres tontas a fazer strip, fazendo-as pensar que
estão perante uma estrela de algibeira –sem ofensa para o modelo que quiseste
imitar. O que quero dizer é que isto, cá na quinta, é tudo tão pequeno.
Deixa-me que te diga, meu admirado apologético superior artista que o Carreira -em
nome do pai e do filho- devias, quanto antes, iniciar um curso para tansos como eu, que não conseguem convencer
ninguém das nossas qualidades –nem a cara-metade-, e de que somos aproveitáveis
quantidade que baste. Já para não falar que tu, com um simples clique, puseste
todo o galinheiro a alinhar a dança do ventre. Eu se quiser fazer dançar alguma
mulher tenho de lhe pagar bem. Palavra de honra, já nem com a menina Ernestina
me safo -é aquela velhota do 31, cá da minha rua, não deves conhecer. Tem 89
anos. Costuma andar a passear pela trela uma escanzelada cadela, a Fifi.
Há coisas que eu não entendo. Tu,
com um simples computador, virando todas as teses conhecidas até hoje, mostras
que a essência não está no ser nem no parecer, mas na imagem projectada que se
pretende seguir. E as “patolas”, as tais que se acham superiores aos machos
primários, caíram que nem ginjas. Ou melhor, deixaram cair a roupinha, que é o
que malta masculina gosta. Já sabes, e aqui vais ter de desculpar a hipocrisia
habitual cá no bordel portucalense, vão aparecer uns gajos a querer condenar-te.
Mas não leves a mal é a sua frustração que os move na pretensão de te pregar na
cruz.
Esta foi de mestre. O Capitão
Roby, o Jorge Veríssimo Monteiro, aquele engatatão
que, no bordejar dos anos oitenta, enganou quatro centenas de mulherões, ao pé de ti, herói do meu
imaginário cujas mulheres já só se despem se eu lhes prometer uma viagem ao Haiti,
não passou de personagem de banda desenhada.
Escrevo-te esta carta para te
dizer que me sinto vingado. A sério mesmo! Ando há uma catrafada de décadas a esforçar-me como uma camelo das arábias que
passa meses sem beber, para tentar demonstrar à minha mulher que valia qualquer
coisita. Nunca consegui. Quanto mais eu me avigorava mais longe ficava da meta.
Palavra, até cheguei a pensar que, ao não atingir os mínimos, o problema era
mesmo cá da minha pessoa. Sei lá, não sei se estás a ver, imaginei que deveria
ter um problema de fabrico qualquer. Se nunca estava contente comigo, só
poderia ser mesmo erro de produção, talvez genético, não sei. É ou não é? Agora,
vindo tu, meu mariola anónimo armado em vírus informático, do cú de Judas, de
uma aldeola chamada Penacova, como Santa da Ladeira em milagre anunciado, vens
demonstrar, preto no branco, que um homem não vale pela essência, nem pela
forma. Vale tanto quanto preencher o imaginário de alguém. Vieste provar que para persuadir uma mulher, enchendo-a de contentamento e
fazê-la vir -salvo seja- comer à nossa mão, não se precisa de tanto esforço, basta fazer
acreditar de que está perante um grande artista. Fosca-se! –estou a bater com a
palma da mão aberta na testa. Porque é que eu não pensei nisso antes? Claro que
já não vou a tempo, mas, imploro-te, meu sedutor de trazer por casa lá por Penacova, trata de publicar a tua tese em
livro. A malta, como eu, escorraçada, ofendida e maltratada, agradece. Bem-haja
pelo bem que me fizeste. Graças a ti, por este acto de benemerência, que
deveria ser agraciado com a comenda do Infante Dom Henrique, recuperei a minha
auto-estima.
Do teu incondicionado admirador,
Luís Fernandes
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