sexta-feira, 19 de abril de 2013

CARTA DE AGRADECIMENTO AO MICKAEL DE PENACOVA

(Imagem da Web)

 Meu caro amigo Mickael Carreira de imitação, espero que esta minha carta te vá encontrar bem de saúde, se Deus Nosso Senhor quiser. Acima de todas as coisas, para além do Senhor do Universo, rogo também a todos os Santos da Terra e do Céu que esta minha missiva te chegue ao conhecimento. E coloco esta questão, porquê? Sei lá, de aqui em diante, calculo, não vais ter tempo para te coçar, homem de todos os firmamentos virtuais. Vais ver! Começas por ser assediado pelas televisões, que no princípio vão rir-se de ti, a seguir vão idolatrar-te. Imagino que fiques apreensivo com as minhas palavras, mas lembra-te do Futre, alma de Deus! Recordas que o homem, agora artista de todas as praças e becos, sem ofensa para ele, é mesmo um grande aselha na verbalização e como é que começou? Pois, já percebeste, a dizer uma série de asneiras. Para se ascender à fama cá no quintal tem de ser, primeiro muito tanso e idiota –idiota não, assim mais para o chico esperto, não sei me entendes- e, segundo, parecer uma reedição do Alves do Reis, aquele da falcatrua das notas do Banco de Portugal por volta de 1920, não sei se sabes do que estou a escrever, calculo que não. Ora, pelas soberbas qualidades que apresentas, se me consegui explicar minimamente, estou em crer que estás no sopé da montanha da celebridade. Só precisas de dar o primeiro passo e começar a subir.
Desculpa lá, mas nem estou em mim. Esta foi mesmo de mestre. Ó pá, tu és o meu herói! Fogo, tu conseguiste realizar o sonho que qualquer homem transporta na cabeça desde o nascimento até à morte: colocar umas mulheres tontas a fazer strip, fazendo-as pensar que estão perante uma estrela de algibeira –sem ofensa para o modelo que quiseste imitar. O que quero dizer é que isto, cá na quinta, é tudo tão pequeno. Deixa-me que te diga, meu admirado apologético superior artista que o Carreira -em nome do pai e do filho- devias, quanto antes, iniciar um curso para tansos como eu, que não conseguem convencer ninguém das nossas qualidades –nem a cara-metade-, e de que somos aproveitáveis quantidade que baste. Já para não falar que tu, com um simples clique, puseste todo o galinheiro a alinhar a dança do ventre. Eu se quiser fazer dançar alguma mulher tenho de lhe pagar bem. Palavra de honra, já nem com a menina Ernestina me safo -é aquela velhota do 31, cá da minha rua, não deves conhecer. Tem 89 anos. Costuma andar a passear pela trela uma escanzelada cadela, a Fifi.
Há coisas que eu não entendo. Tu, com um simples computador, virando todas as teses conhecidas até hoje, mostras que a essência não está no ser nem no parecer, mas na imagem projectada que se pretende seguir. E as “patolas”, as tais que se acham superiores aos machos primários, caíram que nem ginjas. Ou melhor, deixaram cair a roupinha, que é o que malta masculina gosta. Já sabes, e aqui vais ter de desculpar a hipocrisia habitual cá no bordel portucalense, vão aparecer uns gajos a querer condenar-te. Mas não leves a mal é a sua frustração que os move na pretensão de te pregar na cruz.
Esta foi de mestre. O Capitão Roby, o Jorge Veríssimo Monteiro, aquele engatatão que, no bordejar dos anos oitenta, enganou quatro centenas de mulherões, ao pé de ti, herói do meu imaginário cujas mulheres já só se despem se eu lhes prometer uma viagem ao Haiti, não passou de personagem de banda desenhada.
Escrevo-te esta carta para te dizer que me sinto vingado. A sério mesmo! Ando há uma catrafada de décadas a esforçar-me como uma camelo das arábias que passa meses sem beber, para tentar demonstrar à minha mulher que valia qualquer coisita. Nunca consegui. Quanto mais eu me avigorava mais longe ficava da meta. Palavra, até cheguei a pensar que, ao não atingir os mínimos, o problema era mesmo cá da minha pessoa. Sei lá, não sei se estás a ver, imaginei que deveria ter um problema de fabrico qualquer. Se nunca estava contente comigo, só poderia ser mesmo erro de produção, talvez genético, não sei. É ou não é? Agora, vindo tu, meu mariola anónimo armado em vírus informático, do cú de Judas, de uma aldeola chamada Penacova, como Santa da Ladeira em milagre anunciado, vens demonstrar, preto no branco, que um homem não vale pela essência, nem pela forma. Vale tanto quanto preencher o imaginário de alguém. Vieste provar que para persuadir uma mulher, enchendo-a de contentamento e fazê-la vir -salvo seja- comer à nossa mão, não se precisa de tanto esforço, basta fazer acreditar de que está perante um grande artista. Fosca-se! –estou a bater com a palma da mão aberta na testa. Porque é que eu não pensei nisso antes? Claro que já não vou a tempo, mas, imploro-te, meu sedutor de trazer por casa lá por Penacova, trata de publicar a tua tese em livro. A malta, como eu, escorraçada, ofendida e maltratada, agradece. Bem-haja pelo bem que me fizeste. Graças a ti, por este acto de benemerência, que deveria ser agraciado com a comenda do Infante Dom Henrique, recuperei a minha auto-estima.
Do teu incondicionado admirador, Luís Fernandes

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