terça-feira, 16 de abril de 2013

ENTRE A HONRA E A CONVENIÊNCIA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)


 A nossa vida, em metáfora, é um escolher constante de caminhos numa longa caminhada. Umas vezes surgem vários cruzamentos e temos de optar por um deles ao acaso. Por outras, sem que nada se fizesse para acontecer, rodamos calmamente na nossa senda e de repente, em dualidade, aparece uma bifurcação. Se nenhuma tiver placas sinalizadoras, mais uma vez, escolhemos uma ao acaso e a subsequência, em destino que nos marcará para sempre, será o resultado desta preferência. Poderia ter sido a melhor opção ou não. Muito raramente chegamos a saber o que teria acontecido se tivéssemos elegido a outra via. Normalmente, à luz dos incipientes resultados desta opção assente em premissas que tiveram em conta a circunstância e o contexto do momento, pensamos que a outra selecção, a que não escolhemos, é que era verdadeiramente a indicada. E isto acontece tantas vezes, tantas vezes. Sei lá, por exemplo aleatório quando a nossa vida amorosa, depois de décadas, redunda numa completa falência de afecto. Por conseguinte, enquanto homens héteros convivendo com a infelicidade, lá vem à memória a nossa primeira namorada; aquela que preterimos por eleição de um outro amor que viria a ser a mãe dos nossos filhos. Então a interrogação martela a nossa cabeça: e se eu não tivesse rejeitado a minha primeira paixão? Será que teria sido muito mais feliz e bem-sucedido?
Novamente em figuração, agora imaginemos que mareamos calmamente no oceano. De um momento para o outro, sem que nada o fizesse prever, somos apanhados por uma turbulência de emoções de alguém muito ligado a nós. Em face do vendaval que nos afecta indirectamente submergimos. Como náufrago apanhado por onda gigante, respondemos em consonância com a eventualidade que está perante os nossos olhos. Sem salvação à vista, onde só o derradeiro aparece como axioma insofismável, nós que sempre fomos hereges e fizemos pouco dos cristãos, vemo-nos a negociar com Deus: se nesta hora difícil me ajudares, Senhor, prometo-Te que me transformarei numa pessoa melhor. Ajudarei todos aqueles que de mim precisem e à minha porta batam em aflição. Parecendo um milagre, eis que, do nada, surge uma tábua salvadora e alcançamos terra. A partir daí vamos ou não cumprir a promessa feita anteriormente? E se o cumprimento desse prometimento envolver pessoas ligadas a nós? Isto é, a execução da promessa feita vai implicar alterações profundas nas rotinas levadas até aí? E se os nossos chegados não aceitarem e nos lançarem um ultimato: ou segues o cumprimento da promessa feita a Deus ou me escolhes a mim?
E, perante esta confluência de emoções, voltamos novamente à imagem da bifurcação, agora com sinalética. Numa indicação está uma placa: “HONRA”. Noutra está escrito: “CONVENIÊNCIA”. Qual delas devemos optar?
Quando estamos fora, não vivemos os problemas, porque não sentimos na carne os seus efeitos lancinantes, é fácil responder. Naturalmente que, sem pensar um segundo, inclinamos para a HONRA. Quando estamos dentro, imbricados na brutalidade dos acontecimentos, em balanço de uma vida, por comodidade, é mais que certo optarmos pela CONVENIÊNCIA. Porém há um senão, é que se escolhermos esta via facilitista ganhamos no bem-estar, mas enquanto pessoa, que diária e obrigatoriamente se olha no espelho, perdemos o espírito que emana da representação de orgulho transmitida. É que seguir o cumprimento escrupuloso do dever dá um prazer interior inexplicável à luz da racionalidade. É um contento de alegria e preenchimento da alma. O saber que se está fazer algo de nobre e valioso. É um sentimento que não se pode avaliar através da tangibilidade económica, mas sim dentro do âmbito da sensibilidade humana.
Então, como em balança de dois pratos, como fazer? Estou em querer que situações destas, divididas entre o tudo, material, ou nada, assente no desligamento da palavra proferida, acontecem uma ou duas vezes ao longo da nossa existência. Mas a todos calha em sorte.


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