(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
A nossa vida, em metáfora, é um
escolher constante de caminhos numa longa caminhada. Umas vezes surgem vários cruzamentos
e temos de optar por um deles ao acaso. Por outras, sem que nada se fizesse
para acontecer, rodamos calmamente na nossa senda e de repente, em dualidade, aparece
uma bifurcação. Se nenhuma tiver placas sinalizadoras, mais uma vez, escolhemos
uma ao acaso e a subsequência, em destino que nos marcará para sempre, será o
resultado desta preferência. Poderia ter sido a melhor opção ou não. Muito raramente
chegamos a saber o que teria acontecido se tivéssemos elegido a outra via. Normalmente,
à luz dos incipientes resultados desta opção assente em premissas que tiveram
em conta a circunstância e o contexto do momento, pensamos que a outra selecção,
a que não escolhemos, é que era verdadeiramente a indicada. E isto acontece
tantas vezes, tantas vezes. Sei lá, por exemplo aleatório quando a nossa vida
amorosa, depois de décadas, redunda numa completa falência de afecto. Por
conseguinte, enquanto homens héteros convivendo com a infelicidade, lá vem à
memória a nossa primeira namorada; aquela que preterimos por eleição de um
outro amor que viria a ser a mãe dos nossos filhos. Então a interrogação
martela a nossa cabeça: e se eu não tivesse rejeitado a minha primeira paixão?
Será que teria sido muito mais feliz e bem-sucedido?
Novamente em figuração, agora
imaginemos que mareamos calmamente no oceano. De um momento para o outro, sem
que nada o fizesse prever, somos apanhados por uma turbulência de emoções de
alguém muito ligado a nós. Em face do vendaval que nos afecta indirectamente submergimos.
Como náufrago apanhado por onda gigante, respondemos em consonância com a
eventualidade que está perante os nossos olhos. Sem salvação à vista, onde só o
derradeiro aparece como axioma insofismável, nós que sempre fomos hereges e
fizemos pouco dos cristãos, vemo-nos a negociar com Deus: se nesta hora difícil me ajudares, Senhor, prometo-Te que me transformarei
numa pessoa melhor. Ajudarei todos aqueles que de mim precisem e à minha porta
batam em aflição. Parecendo um milagre, eis que, do nada, surge uma tábua
salvadora e alcançamos terra. A partir daí vamos ou não cumprir a promessa
feita anteriormente? E se o cumprimento desse prometimento envolver pessoas
ligadas a nós? Isto é, a execução da promessa feita vai implicar alterações
profundas nas rotinas levadas até aí? E se os nossos chegados não aceitarem e
nos lançarem um ultimato: ou segues o
cumprimento da promessa feita a Deus ou me escolhes a mim?
E, perante esta confluência de
emoções, voltamos novamente à imagem da bifurcação, agora com sinalética. Numa indicação
está uma placa: “HONRA”. Noutra está escrito: “CONVENIÊNCIA”. Qual delas
devemos optar?
Quando estamos fora, não vivemos
os problemas, porque não sentimos na carne os seus efeitos lancinantes, é fácil
responder. Naturalmente que, sem pensar um segundo, inclinamos para a HONRA.
Quando estamos dentro, imbricados na brutalidade dos acontecimentos, em balanço
de uma vida, por comodidade, é mais que certo optarmos pela CONVENIÊNCIA. Porém
há um senão, é que se escolhermos esta via facilitista ganhamos no bem-estar, mas
enquanto pessoa, que diária e obrigatoriamente se olha no espelho, perdemos o
espírito que emana da representação de orgulho transmitida. É que seguir o
cumprimento escrupuloso do dever dá um prazer interior inexplicável à luz da
racionalidade. É um contento de alegria e preenchimento da alma. O saber que se
está fazer algo de nobre e valioso. É um sentimento que não se pode avaliar através
da tangibilidade económica, mas sim dentro do âmbito da sensibilidade humana.
Então, como em balança de dois
pratos, como fazer? Estou em querer que situações destas, divididas entre o
tudo, material, ou nada, assente no desligamento da palavra proferida, acontecem
uma ou duas vezes ao longo da nossa existência. Mas a todos calha em sorte.
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