Lúcio Borges está com ar cansado, mas, naquele brilho de olhar de sucesso conquistado a pulso, conseguimos adivinhar que está feliz. A empresa a que ousou abraçar, a sua, a nossa Brasileira, finalmente, depois de muitos contratempos, abriu portas hoje, ainda que apenas para convidados. Amanhã, cerca das 07h00, até à meia-noite e diariamente, será o primeiro dia de um tempo que todos auguramos afortunado. O comboio está nos carris, agora é preciso prolongar a chama acesa das caldeiras para o manter em movimento constante e perpétuo.
Durante os cerca de dois anos em que duraram as obras e demasiadas complicações de permeio, foi tempo excessivo. Por muito que se invoque as exigências legais, numa época em que o desemprego aumenta todos os dias, este longo prazo, em tempo algum, não é admissível. Bem sei que se tem dado passos para ultrapassar muita burocracia, nomeadamente com o “licenciamento zero”, mas o empresário, o homem simples que arrisca tudo o que tem e o que pediu emprestado numa aventura para criar riqueza, tem de ser olhado com respeito, com admiração, e vermos nele o novo herói que vai contribuir para nos tirar do buraco económico e financeiro em que nos encontramos. Enquanto este alpinista de equilíbrio não for recebido e tratado como merece por uma qualquer autarquia do país, Portugal não sairá do charco em que se encontra. Não defendo, obviamente, que se deva passar por cima de tudo. O que escrevo é que se deve ter em conta mais o objecto, o final, e menos os meios. Fruto de um tempo que nem passou assim tanto, o pequeno empresário, sem ter em conta a sua pequena dimensão, continua a ser olhado quase como se fosse inimigo do povo. Como se na sua humildade suprema ele fosse comparável a um qualquer grande grupo económico que explora e escraviza os nossos produtores.
Por outras palavras, um pequeno empresário de hotelaria, só porque uma parede do seu restaurante não está conforme, vindo uma fiscalização, não lhe pode aplicar uma coima de 550,00 euros –estou a escrever sobre um caso real passado aqui na Baixa. É demasiado duro, incrivelmente impessoal. Não se pode continuar a assistir a isto. Queremos ou não queremos estabelecimentos abertos? Se a resposta é pela positiva, em vez de lhe colocarmos um pé sobre a cabeça para o afogarmos, estendamos-lhe uma mão para ele se manter à tona da água. Se ele submergir, mais tarde ou mais cedo, nós iremos também. Aprendamos a usar de pedagogia em vez do braço armado com cacete. Um Estado tolerante para com o seu cidadão desenvolve sentimentos de comiseração e perdão perante os outros congéneres. Ou seja, através do seu comportamento cria pessoas melhores e mais felizes e com gosto por viver nesta nação que é nossa. Num momento de precário equilíbrio em que estas empresas familiares se tentam aguentar no dia-a-dia, um castigo desta envergadura funciona ao contrário. Faz dele um ser enraivecido, ressabiado pela injustiça de que foi vítima. E, mais grave, contribui para que ele desista de lutar. É necessário bom senso em nome deste futuro que é já hoje.
Todos, mas todos, demos uma grande salva de palmas ao Lúcio Borges.
2 comentários:
Vai continuar aquele bife delicioso? aquele... o à brasileira???? preciso saber :)
Olá. Muito obrigada por ter visitado o meu cantinho. Respondendo -ou melhor, tentando-, para a semana, depois de me embrenhar a fundo na prova, dir-lhe-ei quantas estrelas "Luisin" -em analogia à Michelin-, de uma a cinco, vale o bife de "A Brasileira". Fica combinado.
Abraço.
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