terça-feira, 25 de outubro de 2011

UM ÍCONE VIVO - E SE O RIDÍCULO TIVESSE ORELHAS DE BURRO?







 "Já escrevi muitos textos sobre a Dona Adelaide, até lhe chamei "a última tremoceira". Há três anos que por esta altura do Outono, do tempo das castanhas, das uvas, do mosto e do vinho, ela me repete: "este ano vai ser o último, menino. Vou deixar de vender castanhas aqui na praça. Já não posso da minha coluna". Dona Adelaide tem 88 anos. Este ano, mais uma vez, felizmente, cá está ela para as curvas.
No Outono vende castanhas, durante todo o ano vende pevides, pinhoadas, tremoços e chupa-chupas.
Segundo me contaram, há pouco tempo a Polícia Municipal levantou-lhe um auto -cuja coima vai de 50 a 90 euros- por estar a vender, junto dos tremoços e as pevides, "baralhos de cartas e "bugigangas". Segundo o meu informador, que pediu o anonimato, "é a segunda vez que lhe levantam um auto. Eu até entendo que deve ser assim. Esta senhora abusa e não pode ser! Já se fez a contestação da primeira vez e lá a Câmara atendeu os argumentos. Agora voltou a fazer-se a contestação, mas bolas, ela abusa, se tem licença para vender tremoços, pevides e pinhoadas, não é para comercializar "bugigangas". Haja dó! Não pode ser!"
Eu sou muito artolas -quem é que não sabe isto?- e custa-me a entender certas atitudes. Ora bem, vamos lá por partes, esta senhora prevaricou? Sim, senhor, prevaricou. Mas há um princípio em Direito que nos diz que não se pode igualar algo que é intrinsecamente diferente. E a Dona Adelaide, com 88 anos e ainda a trabalhar, é ou não diferente de todos os demais? Parece-me que sim. Se calhar, se estivéssemos num outro qualquer país -onde se olha para as diferenças e se coloca de lado este igualitarismo feroz-, provavelmente, esta senhora, no dia-a-dia, seria mostrada a todos como um exemplo, mas aqui, em Coimbra, em Portugal, não. Aqui, por força de um costume que ninguém entende mas também não contesta, uma pessoa com 50 anos é velha para os mais novos e muito nova para os mais velhos. Parece estranho, não parece?
Ai, quem me dera não ser tão estúpido!?! Mas que se há-de fazer?! Ainda não se inventou um remédio para a estupidez... ... eu juro que até comprava!


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1 comentário:

JPG disse...

Caro Amigo, não há nada mais desigual que tratar todos da mesma maneira.

Na educação, quando se fala de avaliação, costumo dizer que em alguns casos, tratar todos como se fosse iguais, seria o mesmo que fazer uma corrida entre um macaco, um gato, um caracol e um peixe (dentro de um aquário), para chegarem ao ramo de uma árvore.

Obviamente que o macaco, num salto se colocava no ramo, o gato numa corrida lá chegaria, o caracol demoraria uma eternidade, mas lá se encaminharia, já o peixe jamais sairia do aquário.

Humanismo, precisa-se!!!

Abraço!