sábado, 15 de outubro de 2011

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



Ontem escrevi este texto: "O VOO RASANTE DO FALCÃO". Hoje recebi este comentário de Rui Pratas:


"Por comerciantes chineses, abriu a primeira loja de frutas no meu bairro, os preços eram muito mais baratos que os outros vendedores locais. Como eu tinha pouco dinheiro, comprei. Não me importei se, pelos valores abaixo de custo, estava a colaborar num genocídio da concorrência. Eu não quis saber"

 "Não consigo entender como é possível praticar aqueles preços. Não sei se é verdade ou não, mas há quem me tenha dito que os viu no MAC, Mercado Abastecedor de Coimbra, e que é lá que se abastecem. Estão a vender ao público a preços que outras lojas do ramo não conseguem sequer ter do fornecedor. Estou, no entanto, a falar do “peixe” que me venderam.
De qualquer das maneiras acho que toda a gente se apercebe que a maior parte dos comerciantes chinesas ocupam lojas grandes, centrais, com boa aparência, independentemente do preço da renda. Isto inquieta qualquer aspirante a comerciante que ande à procura de um "buraco" na esperança de obter uma renda menos insuportável para estabelecer o seu negócio.
Relativamente à emigração, se reflectirmos um pouco na nossa História recente, decerto que nos lembramos das vagas de emigração que ocorreram durante o séc. XX. As Américas (EUA, Brasil, Venezuela) foram dos primeiros destinos de eleição dos nossos emigrantes. Depois da Segunda Grande Guerra as oportunidades de trabalho na Europa, aliadas à miséria que se vivia por cá levaram muitos para outras terras do nosso Continente.
Tenho familiares e muitas outras pessoas conhecidas que estão emigradas há mais de 40 anos, e todas elas tiveram de batalhar muito pela vida. Muitas conseguiram e hoje têm uma vida estável, outras nem por isso. Sejam os que tiveram sucesso, sejam os que não o tiveram, o denominador comum foi a esperança de uma vida melhor à custa de muito esforço e sacrifício.
O mesmo aconteceu com os imigrantes oriundos de algumas das ex-repúblicas soviéticas, que começaram a chegar em maior número na década de 1990 e continuaram nos primeiros anos da primeira década do novo milénio. Pessoas na sua maioria humildes, educadas, simpáticas, muitas com habilitações excepcionais têm-se prestado a qualquer trabalho na esperança de uma vida melhor no nosso rectângulo, ou de conseguirem amealhar o suficiente para construir algo nas suas terras... um dia. Muitos não conseguiram e regressaram às suas pátrias, outros fazem filas nos Centros de (des)Emprego.
Olhando para estas duas realidades acho que os imigrantes chineses são um caso à parte. Alguma vez alguém viu um imigrante chinês na fila de um Centro de Emprego? Algum imigrante chinês a trabalhar na construção civil? Algum imigrante chinês que tenha falecido? Algum imigrante chinês empregado de um empresário português? Algum casal de imigrantes chineses à procura de trabalho? Eu nunca vi... O que vejo é cada vez mais imigrantes chineses, caras novas, famílias inteiras a assentar arraiais por todo o lado, desde a maior das cidades à mais pequena das vilas. Chegam, procuram as maiores e melhores lojas, fazem obras, recheiam-nas com os seus produtos e abrem portas. Não interessa se a renda custa 1000, 2000 ou 4000 euros. Chegam a existir 3 e 4 lojas na mesma rua a vender produtos que nem são semelhantes, são iguais. Vejo lojas chinesas com rendas de mais de 2000 euros, mais encargos com empregados, electricidade, telefone, água, etc., lojas onde vejo entrar diariamente meia dúzia de gatos... e continuam abertas ano após ano. E cada vez mais lojas chinesas... Como eu gostava de emigrar para um país à escolha e poder fazer isto... Começaram com as "bugigangas", artigos utilitários e de decoração, passaram à roupa e agora ao ramo da alimentação...
Peço desculpa pelo comentário longo, mas ao saber da abertura da frutaria chinesa a preços da China apeteceu-me desabafar. Espero sinceramente que as nossas mercearias e frutarias da Baixa consigam sobreviver. Obrigado a quem tiver paciência para ler até ao fim.
Na minha modesta opinião a imigração chinesa não traduz a busca por uma vida melhor por parte de um povo, mas um sistema organizado de invasão económica que visa destruir o comércio e a indústria em todos os sectores. Já é comum encontrar alhos chineses, frutos secos chineses, etc. Não sou contra a imigração chinesa, muito pelo contrário, sou contra aquilo que considero (continuo a insistir que é a minha modesta opinião) desonestidade. Infelizmente muitas pessoas habituaram-se de tal maneira a ir à loja chinesa que nem reparam que muitos preços lá praticados, hoje, não têm diferença significativa dos praticados em outras lojas.




NOTA DO EDITOR:


 Muito obrigado pelo comentário, Rui Pratas. Já sabe que estas portas estão sempre abertas para quem quiser dizer o que pensa sobre determinado assunto. Esteja ou não de acordo com a minha linha de pensamento.
Aproveitando o momento, gostaria de fazer uma ressalva. Não sei se deveria ter escrito o texto "Voo rasante do falcão". Por várias vezes, quando estava a escrevê-lo, tive o dedo em cima do "delete". Por várias vezes, neste texto, considerei que estava a segregar, mas tenho a certeza de que não pratico a segregação no meu pensamento. Quem faz o favor de me acompanhar aqui sabe que pugno -é um princípio meu- pela harmonização dos interesses comuns. Isto é, tenho a certeza de que o Sol quando nasce é para todos. Porém, para vivermos todos harmoniosamente, é preciso que se respeitem certos valores de respeito pela existência do outro. Como, por exemplo, a integridade; renegar a cobardia, na repugna por se atacar pelas costas seja lá quem for; a equidade, tentando ser justo na apreciação de qualquer acto; a lealdade a um primado essencial: quem trabalha, seja lá comerciante ou outro qualquer profissional, têm de ganhar dinheiro com a sua actividade. Fazer o contrário -e mais se for inserido num plano intencional de destruição massiva- é subverter a lógica comercial. Bem sei que os consumidores não querem saber nada disto. O que interessa é que se adquira produtos mais baratos. Pouco importa se, mais tarde, através de uma onda avassaladora de desemprego se vá pagar tudo isso com língua de palmo.
Não tenho dúvida nenhuma de que neste agora negócio da fruta estamos perante uma política de terra queimada. E não estou a escrever sem pensar. Sei o que estou a plasmar. Ainda hoje irei escrever um texto em que ouvi todos os envolvidos, incluindo o comerciante chinês. Desculpem, igualmente, se me alonguei.










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