quarta-feira, 26 de outubro de 2011

UM "C" A MAIS...



"Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.
 
 De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando asconsoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa.
 
Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim.
 
 São muitos anos de convívio. 
 
Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC,s e PPP,s me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.
 
Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim!
 
Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí
 
E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
 
O que é ser proativo
 
Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redão, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atoresatuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o 
R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. 
 
Caíram hifenes e entraram RRR,s que andavam errantes. 
 
É uma união de facto, e  para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem.
 
Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE,s passaram a ser gémeos, nenhum usa ( ^^^) chapéu.
 
E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para teremprivilégios; assim, temos  janeiro, fevereiro, março, são tão importantes comopeixe, flor, avião. 
 
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma autêntica decão, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.As palavras transformam-nos.
 
Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. 
 
Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a dirão, nem me fracione, e  nem quero tropeçar em algum objeto.
 
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um C a atrapalhar.


 
Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se a LÍNGUA 
É NOSSA ...? ! ? ! ? "

(RECEBIDO POR E-MAIL)

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