segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A MORTE ANUNCIADA







 Ontem, o largo da capela, nos Carvalhais de Baixo, uma pequena aldeia nas faldas da cidade, foi pequeno para acolher as várias centenas de amigos que se quiseram despedir do Carlos Morais, antes da partida física da terra onde cresceu e ajudou a desenvolver.
O Carlos tinha 52 anos. Era dono do café Solar da Quinta, à entrada dos Carvalhais. Depois de uma jornada árdua de trabalho, a vida, em arremedos de esperança, acabou por lhe pregar uma partida final. Há 11 anos que andava a ameaçá-lo com uma destas doenças que agora tanto se fala e que são fatais.
Há cerca de um mês fui vê-lo ao hospital, ao IPO. Já em fase terminal, dizia-me, melhor escrevia porque já não falava, que esta vida era uma ilusão. “Não vale a pena andarmos nesta “lufa-lufa”. Eu, que tanto trabalhei noite e dia, vejo-me agora com montes de coisas e o que é mais essencial, que é a vida, não tenho.”
Num tempo de crise –de várias crises, social, política, económica- de valores, talvez valha a pena pensar, nem que seja por um momento, se valerá a pena andarmos continuamente a invejar e a fazer mal a quem nos rodeia. A morte é a única certeza absoluta que o homem tem. Corra por onde correr, jamais lhe poderá fugir. Seja rico, remediado, ou pobre, terá sempre um lugar aberto à sua espera. Se todos nós, nem que fosse nestes momentos de despedida de um amigo, aproveitássemos para reflectir, tenho a certeza de que, no dia-a-dia, seríamos melhores uns para os outros.
Acho curioso porque conheço tanta gente que não passa um domingo sem ir à missa. No entanto, são pessoas más, incapazes de perdoar, petrificadas na sua própria certeza e sem se questionarem, por uma vez que seja, de que poderão não estar certas. O que significa a religião para estas pessoas? Certamente um alimento para as suas almas perdidas neste tempo vazio.
Talvez valesse a pena pensar na história do Carlos Morais e que ontem acabou.


Sem comentários: