Ontem, na Junta de Freguesia de São Bartolomeu, cerca das 19h00, e perante pouco mais de uma vintena de comerciantes, a Confederação Portuguesa Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPMPME), fazendo-se acompanhar do deputado comunista Agostinho Lopes, ouviu e fez-se ouvir sobre os diversos vírus que estão a matar o comércio tradicional.
Sob a suprema e institucional supervisão da imagem de Aníbal Cavaco Silva, a mesa, composta por Arménio Pratas, comerciante, Vítor Carvalho, presidente da Junta de Freguesia de Cernache, Pedro Soares, vice-presidente da CPMPME) e Agostinho Lopes, deputado à Assembleia da República e com assento parlamentar, deu início aos trabalhos.
O QUE DISSE PEDRO SOARES?
Pedro Soares, vice-presidente da CPMPME, abriu o encontro. Depois de cumprimentar os presentes, disse que “os centros das cidades estão desertificados. As grandes superfícies são as causadoras deste agravamento da balança de transacções correntes.”
Em frases apanhadas aqui e ali, foi dizendo que “não se está dar o devido valor fulcral às pequenas e médias empresas (PME); a grande distribuição tem vindo absorver todas as actividades das PME, basta ver que nas baixas das cidades, praticamente, já não há lojas de artigos de desporto, de discos e de brinquedos.
Desde 1985 até hoje os apoios ao comércio, como o Procom, o Urbcom e o Modcom, todos tiveram resultados negativos por falta de aposta do Estado. Sobretudo pela descapitalização das empresas, na parte não financiada.
A corrida apressada para o Euro em 1992;
Para a grande distribuição, que não exporta, é preferível uma moeda forte e com poucas flutuações:
Os acordos com a OMC, Organização Mundial de Comércio; Portugal, sendo membro da Comunidade Europeia de pleno direito, não se opôs à ratificação do acordo;
As lojas chinesas e (outras importações dos países emergentes) tudo o que destrói a produção nacional;
O corte abrupto ao credito bancário às PME;
Retiraram-nos a possibilidade de participar no PME-Investe; fizeram um “rating” antecipado às nossas empresas;
O pouco peso de um voto nas decisões de abertura de uma grande superfície até 2009; depois desta data retiraram-nos a possibilidade de intervenção neste processo e de tomar conhecimento na abertura de novas áreas comerciais;
O que queremos é a sustentabilidade e a solvabilidade das actividades económicas deste país;
Levaram-nos tudo; os clientes, o crédito e até quase copiaram os nossos costumes;
A utopia de impedirem os carros de entrarem nas cidades;
O comércio é presente não é (apenas) futuro;
O absurdo do Pagamento Especial por Conta;
A absoluta necessidade de uniformização fiscal na União Europeia; como é que se podem entender os vários escalões de IVA entre os seus membros?
O desmesurado aumento do IRC, de 12,5 para 25 por cento;
As micro e pequenas empresas não estão presentes na Concertação Social; só as grandes confederações estão lá representadas.”, enfatizou Pedro Soares.
E O QUE DISSE ARMÉNIO PRATAS?
Arménio Pratas, membro do painel, comerciante na Baixa, tomando a palavra, começou por dizer que “os comerciantes perderam o seu pé-de-meia: os trespasses; a falta generalizada de acesso ao crédito bancário; temos dificuldade em pagar atempadamente a fornecedores, ao Fisco e à Segurança Social; deveria sair daqui uma reivindicação para que o que está em dívida pudesse ser pago em tranches, mensalmente,
E O (POUCO) PÚBLICO PRESENTE O QUE DISSE?
Armindo Gaspar, comerciante, presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, começou por dizer que “era lamentável a pouca adesão dos comerciantes. É lamentável que ande meia-dúzia com abandeira na mão, à frente, e a maioria não quer saber. Os comerciantes estão todos bem de vida –parece. Com esta falta de intervenção, de quem o deveria fazer, não vamos alado nenhum;
A Segurança Social já tem alguma elasticidade no pagamento; o Fisco não tem; queremos honrar os nossos compromissos. Trabalhamos desde miúdos e, agora, vemos ir tudo por água-abaixo. É lamentável! Devíamos todos pugnar por medidas de salvação local e nacional. As micro-empresas são o maior empregador do país –e a nível europeu. Ainda ontem passou na SIC;
Muito obrigado ao senhor deputado Agostinho Lopes por ter vindo. É uma pena que quem precisa de ajuda se abstraia, apesar de estarmos todos a morrer na praia, disse Armindo Gaspar.
E MAIS… E MAIS?
Alfredo, proprietário do Restaurante Paço do Conde, começou por lamentar que a autarquia não fomente o investimento para a Baixa; para onde foram os projectos de investimento que estavam cabimentados para a Auto-industrial? E para a antiga Triunfo? Eu invisto nos meus clientes, ainda agora comprei 1500 euros de senhas de estacionamento para oferecer a quem vai ao meu restaurante…”
E AINDA…?
João, um empresário ainda muito jovem, começou por pedir a Agostinho Lopes que fosse porta-voz, na Assembleia da República, do que se está a passar em Portugal; a China tem os Estados Unidos na mão; e agora está a fazer o mesmo à Europa; a Alemanha é o motor da economia europeia; faltam pessoas a morar na Baixa”.
E MAIS… E MAIS?
Quirino Adelino, um decano e reputado comerciante da Baixa começou por dizer “que um dos maiores problemas do comércio de rua é o comércio paralelo. Basta atentar no mercado do Bairro Norton de Matos, a venda-ambulante no Bota-Abaixo. Os comerciantes, no Centro Histórico, não podem ter toldos, porque, para além das elevadas taxas, é um problema para a sua legalização. Estes vendedores, junto à Loja do Cidadão, num completo desrespeito, têm plásticos atados com cordéis. Falando em escudos –porque eu não gosto muito de euros-, são milhares de contos que passam ao lado. Esta gente não paga impostos. Tem tudo. Vão nos seus belos Mercedes buscar os subsídios. É uma achega para o senhor deputado transmitir ao Ministro das finanças”, rogou Quirino Adelino.
E O QUE DISSE O DEPUTADO?
No encerramento deste colóquio com debate, Agostinho Lopes começou por saudar os poucos presentes –mas é assim em todo o lado, infelizmente, desabafou. “Estes e outros assuntos que aqui foram chamados à colação são problemas na generalidade das PME; Braga é igual. Sou cabeça-de-lista por esta cidade e ainda há dias de lá trouxe um conjunto de reivindicações iguais –se tivesse tempo mostrava-vos! É o problema da secagem de crédito bancário; é o problema do IVA, sobretudo na restauração –vai ser uma catástrofe-, as empresas já estão no limite; estamos perante remédios que em vez de curar o doente mata-o; eu não tenho dúvida nenhuma de que depois de morto ninguém pagará dívidas.
A Lei dos Saldos: a culpa caiu nas associações patronais, porque não houve consenso. Chegou a haver propostas completamente antagónicas entre si.
O problema do comércio chinês; pelas autoridades nacionais, são feitas exigências às lojas portuguesas que não são iguais para as lojas do Oriente; a Alemanha é a porta de entrada para os artigos chineses. A Alemanha vende os aviões e outro material pesado para a China e, em troca, recebe (recebemos todos) os produtos asiáticos. É necessário o ordenamento comercial; é necessário um cadastro comercial. O que existe vem dos anos de 1960/70, lamentou Agostinho Lopes, deputado comunista e convidado para estar presente em Coimbra.
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