Segunda-feira, 24 de Agosto, 21h00, tempo frio. Uma chuva cai lentamente, como a castigar o vulto deitado na calçada. Parece um homem... ... mas não deve ser! Homem não dorme na rua fustigado pela chuva. Deve ser cão. É de certeza cão! Porque não salvam o animal?
UM CRISTO PRETO SEM CRUZ
Um homem dorme na rua,
estendido no meio do lixo,
parece que lá no alto a Lua
brilha pensando ser bicho,
estará triste nesta verdade crua,
talvez pense ser capricho
de humano que perpetua
o sofrimento em carrapicho,
nesta alma que se mostra nua,
como Cristo crucificado em nicho,
há uma necessidade que desagua
no interior de nós em cochicho,
um prazer sádico como charrua
a lavrar a terra seca, árida de mijo,
preto sem eira nem beira que evacua,
sem preocupação de parecer rijo,
demónio, em vagueio, que flutua,
espírito errante, vida em esguicho,
nesta ambiguidade promiscua,
modelo de sociedade rabicho,
que encaba quem nele se habitua.
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