(A DONA ADELAIDE É UM BOM EXEMPLO PARA QUEM O QUISER VER)
O senhor Eduardo é um invisual que, já há muitos anos, costuma estar a pedir esmola no gaveto entre o Largo da Freiria e Rua das Padeiras e a meio da Rua Eduardo Coelho. A sua ladainha já faz parte de uma outrora cidade desaparecida. Aquela urbe que só os mais velhos se lembram, aquele centro histórico que estava inculcado nos nossos sentidos. Era através dos cheiros –os odores das bifanas e do carapau frito, provindo da “tasca da Maria”; dos ruídos ensurdecedores dos pregões das peixeiras vindas da Figueira da Foz; dos incómodos pingos de água, provindos das roupas estendidas nas varandas dos andares superiores. Hoje praticamente tudo desapareceu. Desse tempo, só resta mesmo o Eduardo com os seus pungidos lamentos: “uma moedinha, senhor! Por amor de Deus, senhor!”.
Hoje, próximo do meio-dia, lá estava ele na sua repetida carpideira, “ajude o ceguinho, senhor!”, quando passaram dois polícias municipais e o admoestaram porque o Eduardo não podia estar ali a pedir. “O senhor não pode estar aqui”, diziam. O cego, irado, lá ia retorquindo como podia: “isto é pior que a Pide. Não posso estar aqui porquê, se sempre estive cá?”. Os cívicos é que não foram de modas e não aceitaram a sua argumentação. “Faça o favor de sair e que a gente não o veja mais hoje!”, avisaram.
Um pouco à frente da rua, um comerciante questionava-me: “o que é que eles querem com o Eduardo? Se fossem mas é apanhar laranjas para o Choupalinho é que campavam! Agora estarem a chatear o pobre homem!”. Ao lado uma senhora, que ia a passar, parou e disse: “ai, coitadinho do senhor! Está a fazer mal a alguém? Se ele tivesse vista até podia roubar, agora assim, invisual, coitadinho! Isto é uma injustiça!”.
E você, que acha disto? Estas pessoas têm razão não têm? Coitadinho do Eduardo…não é? É assim que pensa? Se é, meu amigo, desculpe lá, mas pensa muito mal. Você é igual àqueles que quando são assaltados vão a correr para a esquadra da PSP e, nessa altura, até lamenta a profunda desautorização que as polícias sofrem. Mas, num “reviralho” incompreensível, quando a mesma PSP actua –às vezes um pouco desproporcionado, admita-se- é você também que corre logo a colocar-se ao lado dos delinquentes.
Pois! Pois!
Temos mesmo de tentar ser um pouco mais coerentes. Vamos voltar ao Eduardo, invisual. Acontece que este homem recebe uma reforma –admito que seja baixa. Conta-se por aqui que até tem algum património ali na zona onde mora. Se é verdade ou mentira, não sei. Mas, uma coisa temos de admitir: a “pedinchise” não é uma mais-valia para as cidades –nem futuro para ninguém-…antes pelo contrário. Temos bons exemplos de pessoas muito pobres –como por exemplo a dona Adelaide- que, numa dignidade indescritível, trabalharam toda a vida, sem nunca caírem no facilitismo de pedir na rua.
Gostou da lição? Faça o favor de a estudar. Se você é cliente desta “mercearia”, que oferece ideias e ajuda a pensar de outra maneira, não conte com descontos à “la gardere”…
2 comentários:
Como cliente da sua "mercearia" digo que há as duas faces da moeda: a primeira e mais comum, o esmoléu em geral inicia-se por necessidade e depois por vicissitude, acredite, tem muitos que dispõem de bens a mais que o trabalhador, e o outro é que realmente é a vagabundagem pura, o ocioso, aquele espertalhão qe foge do trabalho. Ambos causam-me grande desconfianças.
Luís, não conheço o sr.Eduardo nem a sua situação, mas existem centenas de casos em coimbra de pessoas com dificuldades financeiras.Já imaginou se todos optassem pela pedinchise? Como é que as pessoas circulavam na baixa e poderiam efectuar as suas compras de uma forma normal, ou seja, ver as montras, escolher com calma, sem ser incomodadas?Eu falo por mim, mais depressa faço um donativo ou compro um produto solidário, do que dou uma esmola ou uma moeda a um mendigo ou arrumador.(bem, a arrumadores de carro em parques pagos,recuso-me absolutamente, por princípio).Mas, voltando ao caso em questão, talvez as prioridades de acção da P.M. não sejam as melhores, isso é discutível e todos nós teríamos prioridades e escolhas diferentes.Na minha opinião a luta contra a mendicidade e vagabundagem é sem duvida necessária, digo mesmo essencial para comerciantes e cidadãos.Parece exagerado?Olhe que não: ninguém gosta de ter um individuo, por vezes a receber o Rendimento Social Inserção sem nunca ter efectuado um unico desconto, sentado em frente á sua montra, não deixando os consumidores apreciarem devidamente os produtos e ao mesmo tempo a pedirem-lhes uma moedinha.Outro caso:(este passou-se comigo) num parque estacionamento pré-pago ao voltar ao carro para colocar o ticket, tenho um individuo junto do mesmo a pedir-me 1 euro(não uma moedinha, 1 euro mesmo) eu disse-lhe o que pensava:não iria pagar duas vezes, além de que ele não era funcionário do parque.Ele respondeu-me que não iria olhar pelo meu carro, se aparecesse riscado para não me admirar, e se ele visse quem foi não me diria nada porque não lhe paguei.Isto originou uma manhã de aflição.Enervou-me e deixou-me ansioso;só pensava que quando chegasse ao carro, iria-o encontrar danificado e teria problemas com o dito arrumador.Devo dizer que,por acaso, não tive qualquer problema: o carro estava intacto e o tipo nem olhou para mim, ignorou-me.
Outro aspecto, que quanto a mim reforça a actuação da Policia Municipal,é o facto de nos dias de hoje ninguém necessitar de mendigar para comer.Nunca existiu tanta ajuda aos mais desfavorecidos como actualmente.Amigos que trabalham na area da assistência social corroboram da minha opinião.
Concordo que é dificil arranjar emprego, que a vida esta complicada para todos. Mas em coimbra existem locais onde se fornecem refeições gratuitamente, oferecem vestuário e mudas de roupa, local também para tomar banho e se necessário ajuda médica.Ou seja, o essencial para não passar fome e frio.Agora, dinheiro eles não dão.E muitos daqueles que mendigam, não o fazem para comer, fazem-no para sustentar vicios(não só estupefacientes).Mas até neste aspecto existe ajuda:é fornecido pelo S.N.S., ou seja ,por nós todos, substitutos médicos para evitar que entrem em ressaca.
Em resumo, na generalidade dos casos a mendicidade é evitável.Se um individuo não tiver nenhum objectivo pessoal para a sua vida, actualmente pode comer e beber, dormir num quarto de habitação social e ter a devida assistência médica.Tudo isto gratuitamente, ou melhor, pago por todos nós, pelo menos aqueles que trabalham e fazem os seus descontos.Então pergunto:Se têm comida, dormida e médico e não querem trabalhar e ter responsabilidades, porquê pedir esmola?Recordo ainda que para além destas ajudas, muitos ainda recebem cerca de 190 euros do R.S.I..
Um pequeno exercício:Eu ganho cerca de 550 euros e tenho de pagar a minha renda, a minha comida e a minha roupa, facturas de água,gás e electricidade.Tenho ainda de pagar 2,20 euros cada vez que vou ao centro de saúde(e medicamentos se necessário).Um «arrumador de carros», esta nóvel profissão,tem comida fornecida pela cáritas, dormida pela casa-abrigo Padre Américo, outros dão-lhe umas peças de vestuário.Tem ainda assistência médica do S.N.S., não esquecer os 190 euros para o tabaquito e uns copitos na tasca.Fizeram as contas?Quem ganha mais?Eu ou um «arrumador»? Dá que pensar.Mas não muito senão torna-se doloroso e revoltante.
Abraço, Marco
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