sexta-feira, 9 de setembro de 2011

UM POVO MODERNAÇO E (SUB)DESENVOLVIDO

(IMAGEM DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)




 Sempre que leio notícias destas –leia aqui o JN, em que um pai entrega o filho em esquadra por ser homossexual- fico em choque e questiono-me sobre o tipo de sociedade que temos actualmente e criada nas últimas décadas.
É evidente que não se poderá nunca generalizar em modelo. Para todos os efeitos será sempre um caso isolado. Mas dá que pensar. Repare-se que este pai, na sua formação intelectual, é engenheiro, o que quer dizer que, em princípio deveria estar preparado para ter outra compreensão e abrangência para as inclinações sexuais do filho.
Apesar do grande salto que a sociedade portuguesa deu na última década continua a assistir-se a casos como este. Provavelmente este homem até se insurgirá contra o facto de se continuarem a condenar à morte mulheres por apedrejamento no Irão. Se calhar este homem até será contra todo o castigo que conduza à pena de morte, e até pugnará pela liberdade individual. No entanto, na sua própria casa, como a condenar em juízo próprio e sem possibilidade de admitir o contraditório, imiscuindo-se no que é mais íntimo na vida do seu familiar, renegando a sua consanguinidade, vai entregar o filho, como se de um leproso se tratasse, à polícia para que esta resolva o problema, trate o “aborto” e lhe dê subsequência.
Para esta intolerância, poderá sempre invocar-se a cultura de “macho-latino” preponderante no nosso seio colectivo. Podem arranjar-se mil argumentos desculpabilizantes, mas casos como estes –que não são tão poucos quanto parece- mostram à saciedade que apesar de se ter caminhado em direcção ao desenvolvimento, este é mais formal que material. Ou seja, confundiu-se o ter com o ser. Não se apostou nunca na educação intrínseca, no respeito pela diferença, na forma de ser do outro, mas sim no extrínseco que vem de fora, no lugar que cada um estatutariamente ocupa na comunidade.
Será certo que, com o tempo, certos paradigmas errados que estão no nosso inconsciente acabarão por cair, mas levará muitas décadas. Continuamos um povo rústico, atrasado e subdesenvolvido. Que não esquece nem se separa da sua essência. Uma espécie de burro a quem se colocou uma sela de luxo e se transformou em cavalo de corrida.

1 comentário:

ψ Psimento ψ disse...

Esta é uma noticia que em muito me chocou por vários factores.Primeiro penso que há pessoas que não estão minimamente preparadas para serem pais e espero sinceramente que o rapaz não volta para casa tão cedo. Nesta fase da vida dele uma experiência tão severa de rejeição de uma figura de relevo poderá ter consequência para a vida toda. Este relação pai-filho foi irremediavelmente destruída por este episódio. Depois, como foi referido o facto do senhor ter uma formação superior também me deixou algo surpreso, pois a homofobia na sua base não é mais do que ignorância na sua forma mais básica. Espero que os serviços sociais estejam a dar o devido apoio psicológico ao menor e que o progenitor tenha alguma consequência pelos seus actos. Certo é que mais tarde se irá arrepender do que fez, talvez seja tarde porque se o amor de um pai não é incondicional, o de um filho também não será...