sábado, 2 de julho de 2011

O ESCULTOR AZARADO






 Para os poucos que o não conhecerão, o Rui Nóbrega é um escultor autodidacta. É um artista simples como deve ser a simplicidade de tudo o que a natureza nos presenteia em modelo acabado e belo.
As cidades sendo macrocosmos no seu todo são, no entanto, compostas no seu interior por partículas de movimento que se diferenciam e conferem um colorido intenso ao seu “modus vivendi”. É assim que, quase perdidos nas suas ruas, encontramos artistas do melhor que há, às vezes, muito superiores a grandes nomes que fazem fortuna e gozam de glória por esse mundo fora. Quem, como técnico de laboratório a olhar o microscópio, tomar atenção às ruas das grandes cidades ficará apalermado com o criador que está à sua frente. Por aqui há de tudo: pintores, músicos, escritores, poetas, artesãos, escultores, etc. Muitas vezes, a falar com meus botões, interrogo como é possível querer que um país cresça, economicamente e em desenvolvimento, se todos os dias se desperdiçam talentos de excelência.
O defeito estará apenas em quem nos governa ou, dividido em responsabilidade, estará também no transeunte inculto, insensível, que apenas olha duas vezes para o mesmo sítio se atentar que mais alguém o faz também? Tenho a certeza que o problema residirá nestes dois pólos societários. Basta pensar que um qualquer artista anda uma vida inteira a querer mostrar a sua arte, a vender para lhe permitir sobreviver, com preços quase “mixurucas”, e ninguém lhe liga. Poucos querem saber do produto gerado pela sua imaginação e criatividade na acção.
De repente, ou porque foi apadrinhado por alguém em especial ou vai à televisão e, pumba!, o efeito é o mesmo de o eclodir de um vulcão. O mesmo público que o desconsiderava até aí passa a correr atrás dele em síndrome de carneirada.
Não se sabe se será karma ou não, a verdade é que, no nosso país, salvo raras excepções, os grandes artistas, em vida, vivem sempre na pobreza, a raiar a indigência –é certo que não é nosso exclusivo. Parece quase que, pela sua extrema sensibilidade, atraem tudo o que é desgraça. Pela força das circunstâncias, quando não imigram para outras paragens, têm de ir para a rua quase estender a mão à caridade.
O Rui Nóbrega, de que falei em cima, é o paradigma de tudo o que acabo de escrever. Em Agosto de 2009 encontrei-o na Rua Ferreira Borges a “mendigar” através de um cartaz, a pedir uma moeda a quem passava, para conseguir arranjar uma verba que lhe permitisse ir à Corunha, em representação da nossa região, à “Exposição Internacional das Artes”. Escrevi um texto para o Diário de Coimbra e, não só por isso certamente, mas pela justiça que cavou fundo nos leitores, o Rui recebeu um cheque de uma associação que lhe permitiu custear as viagens e passou a ser olhado de outra maneira.

CHEQUE À POLÍTICO

 Hoje, como habitualmente, encontrei o Rui Nóbrega, a descascar uma grande raiz de árvore, na Praça do Comércio, na Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais. Por detrás de si estava um stand com belas esculturas suas e, na bandeira do pequeno espaço, escrito em letras negras: “Rui Nóbrega”. O que, em princípio, quererá dizer que o artista já alcançou um merecido estatuto. Mas há ali qualquer coisa que não bate certo. Em frente ao pequeno ateliê está uma cópia gigante de um cheque de 15 mil euros sacado em nome de “ARTEMAR –Estoril 2010- Exposição Internacional de Escultura”. Por cima do cheque, num papel recortado toscamente, escrito à mão “Cheque à político – 1º prémio do concurso internacional”.
O que é isto, Rui? O que é que quer dizer? Interrogo.
-É um “cheque à político”. Então tu não vês?
-Ó Rui, tens de me explicar isso como se estivesses a falar com uma criança. Sou muito ignorante. Desbobina lá!
-Ó pá, então foi assim, Em Outubro do ano passado estive em Cascais a concorrer na 2ª edição da Exposição Internacional de Escultura, Artemar Estoril. Este evento era patrocinado pela Câmara Municipal de Cascais e pela Fundação Dom Luís I e outros mais.
Fomos vários escultores e cada um só poderia concorrer com uma obra…
-E como é que aparece este cheque no meio disto tudo? Interrogo.
-Ó pá, ganhei o primeiro prémio. Vieram os jornais e a televisão e entregaram-me este “fac simile” de um cheque no valor de 15.000 euros e, em complemento do prémio, a promessa de uma viagem à Austrália para ver as esculturas naturais do mar.
-E nunca mais te contactaram…
-Pois não. E ainda por cima não me devolveram a obra que levei a concurso no valor de 50 mil euros.
-Mas já contactaste a Câmara Municipal de Cascais?
-Ó pá, tanta vez. Numa das respostas até me trataram mal. Disseram que o que eu queria era vender a minha obra escultórica. Do pagamento do valor do prémio em cheque nem falam. Agora tenho o caso entregue a uma advogada.
-Continuas a não ter sorte…
-(abre um grande sorriso)… que queres? Nasci azarado. Deve ser isso. Só pode!


TEXTOS RELACIONADOS


"O RUI QUER IR A ESPANHA"
"O RUI NÓBREGA RECEBEU UM CHEQUE"
"FEIRA DE ARTESANATO..."


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Exm.º Responsável pelo Gabinete de imprensa da Câmara Municipal de Cascais


ASSUNTO: PEDIDO DE ESCLARECIMENTO


António Luís Fernandes Quintans, comerciante em Coimbra, vem por este meio solicitar a V. Ex.ª o seguinte esclarecimento:

1-O peticionário tem um blogue, http://www.questoesnacionais.blogspot.com/, no qual é administrador, que versa essencialmente todos os acontecimentos da Baixa histórica de Coimbra;

2-Ontem, sábado, dia 02 de Julho, numa feira de artesanato local, o aqui peticionário tomou contacto com uma grande cópia de um cheque de 15 mil euros sacado em nome de “Artemar –Estoril 2010, num stand representado por Rui Nóbrega, um escultor muito conhecido em Coimbra.
Ao serem feitas perguntas ao citado artista este fez acusações à “Artemar” e, em associação, à Câmara Municipal de Cascais, http://questoesnacionais.blogspot.com/2011/07/o-escultor-azarado.html;

3- Entende o administrador do blogue não estar reunido aqui o princípio do contraditório. Ou seja, é necessário o depoimento da visada Câmara Municipal de Cascais;

4-Assim, em conformidade, solicito a V. Exª o favor de me transmitir por escrito o que se passou efectivamente, para, num equilíbrio justo de defesa a quem é acusado, repor a verdade dos factos e ser publicado no blogue com a mesma saliência.

Com os melhores cumprimentos.

Coimbra, 03 de Julho de 2011

Segue assinatura do subscritor

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