Amanhã o Eduardo Sequeira Costa vai estar presente no programa “Querida Júlia”, de Júlia Pinheiro, na SIC.
A jornalista Joana Bairros leu aqui no blogue a história de Eduardo e achou que seria importante, enquanto modelo a seguir, transmitir a outras pessoas que se encontram na mesma situação e em grandes dificuldades.
Este homem, há cerca de uma vintena de anos, estava a fazer um percurso quase igual a qualquer um de nós. Estava empregado, casou, deste enlace nasceu um filho, pelo desvio do álcool veio a divorciar-se. A solidão tratou de minar o seu ânimo e veio a tentar suicídio. A seguir veio o desemprego e, como único caminho possível –fácil ou não-, depressa estava na rua a arrumar carros e a juntar-se a outros milhares de sem-abrigo.
Escrevi aqui a crónica do Eduardo há cerca de um ano e meio. Para além disso publiquei-a no Diário de Coimbra. Depois levei este caso aos serviços da Segurança Social. Neste préstimo de solidariedade, o Costa teve a ventura, como outros Eduardos, de encontrar pela frente pessoas extraordinárias, com uma sensibilidade à flor da pele, e que às vezes, no nosso egoísmo de estar sempre a dizer mal, nos passa ao lado. Esquecemos tantas vezes que qualquer um de nós, neste fio de navalha que é a vida, pode escorregar e ficar na mesma situação.
Vou apenas citar alguns bons funcionários do Centro Regional de segurança Social de Coimbra –e escrevo isto com convicção, porque já várias vezes o pude comprovar-, neste caso, que contribuíram positivamente para a recuperação do Sequeira. A Dr.ª Margarida, dos serviços de sinalização, a Dr.ª Inês, dos serviços gerais, o próprio director do Centro, Dr. Mário Ruivo, que é uma pessoa acessível e “terra-a-terra”.
Foi graças a estas pessoas, e tantas outras que não cito, com uma humanidade enorme, que se fez um bom trabalho a favor do Eduardo. Foi a expensas destes serviços que se começou por retirá-lo da rua. A seguir fez um tratamento ao álcool, e, aos poucos, foi recuperando a sua auto-estima e toda a sua dignidade social. Hoje está a trabalhar –e aqui não posso deixar de nomear o seu actual patrão, o senhor Luís Delgado, que há dias me dizia que não tinha nada a ver com o que estava para trás. “O que me interessa é o presente e o futuro. Quem de nós não errou?”. Bonito…muito bonito de ouvir. Um bom exemplo para outros empresários, grandes ou pequenos. O que interessa aqui é a compreensão e a bondade e entender que, afinal, o outro é apenas uma extensão de nós, com todos os defeitos e virtudes.
Passando a imodéstia, naturalmente que estou muito contente pela nova vida do Eduardo Costa. Com toda a franqueza, para além dele próprio, a possibilidade de ter dado o salto, repetindo, deveu-se essencialmente à Segurança Social.
Na parte que me toca, limitei-me simplesmente a ser a centelha de luz, o fósforo, que, na sua longa noite escura, chamou a atenção para o drama que este homem estava a viver. Fiz o mínimo, fiz o que pude –e parafraseando Torga, quem faz o que pode faz o que deve.
Uma grande salva de palmas para o Eduardo e que, na sua nova caminhada, não desanime nem se deixe abater.
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5 comentários:
Parabéns ao cidadão que se preocupa com o seu semelhante.Vi na Sic a entrevista com o Eduardo e é espantosa a modificação que se operou neste homem.Mais uma vez parabéns ao Luís e a todos os técnicos da Seg. Social que acompanharam esta caso.Um exemplo a seguir.
Ana Soares
Muito obrigada, Ana.
Com franqueza, os parabéns serão mesmo para o Eduardo e para os técnicos da Segurança Social. Sem estes, sem o seu redobrado esforço, nada se teria feito. Acredite mesmo, tal como digo no texto, fiz o mínimo. Claro que, bem sei, a maioria não fará este mínimo, mas isso é outra questão. Sei lá...talvez nem todos tenham um blogue...
Abraço.
Muito obrigada, Amigo Luís.
Estou sem palavras... apenas, e mais uma vez, com a lágrima ao canto do olho, como da primeira vez que entrou no meu Gabinete para tratarmos do "caso" do Eduardo e não sabíamos por onde começar... A vida difícil que todos nós enfrentamos, e sobretudo as situações desesperantes dos nossos "sem-abrigo", fazem-nos sentir quase uns inúteis com medo do insucesso. Mas existem pessoas como o Luís que nos dão força para irmos em frente e não desanimarmos. Foi graças ao seu incentivo que chegámos a este final feliz. Obrigada. Vamos continuar, sempre...
Margarida
Obrigada a si, Margarida, obrigada a todos os suas colegas pela forma estóica como se entregam a esta causa do bem fazer. Com toda a honestidade, tenho a certeza de que esta vitória, em jeito de homenagem, será para si, para uma Helena que escrevi uma "Carta a uma funcionária pública", para todos quanto, num ambiente extremamente difícil, se entregam de alma e coração à recuperação de pessoas como o Eduardo Sequeira.
Em meu nome, em nome de milhares de Eduardos por esse país fora, um grande e apertado abraço.
Obrigada aos dois por me terem tornado melhor profissional. Um beijinho, Filipa Cavaleiro
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