segunda-feira, 4 de abril de 2011

EDITORIAL: O QUE FAZER COM ESTAS INSTITUIÇÕES?

Milhares de adeptos recebem dragões em festa



 Como ressalva, começo por dizer que não sou adepto de futebol –estranhamente, ou talvez não, também não me ligo a qualquer outro ramo desportivo.
Para mim, os clubes estão para desporto como os partidos para a política; como as igrejas para a religião; como as escolas estão para a educação. Ou seja, são instituições que, diariamente, no seu modelo, se por um lado nos desoneram de estar sempre a partir do princípio e são a ponte entre o passado e o futuro, em máxima, acabam por servir de exemplo a todo o cidadão. Por isso mesmo, em título atribuído pelo Estado, algumas destas, pelo valorativo para a comunidade, são entidades de interesse público.
O que se passou ontem no Estádio da Luz, ao serem apagadas as luzes e ligados os aspersores de rega no fim do jogo com o Porto, mostra bem como quem está à frente destas corporações entende o seu exemplo, como fim em proveito próprio, sem ligar para toda a sociedade portuguesa. Claro que, sejamos francos, não porque o Futebol Clube do Porto seja melhor. Se não antes pelo contrário, provavelmente será igual. E quem diz o clube dos dragões diz outro qualquer de Norte a Sul do País.
O futebol, como desporto de massas, é a sanita de todos os fulgores e de todos os estados de alma. Infelizmente o “holiganismo” que se assiste nesta modalidade é transversal a todas as restantes.
Ora com dirigentes assim, será surpresa o espectáculo indecoroso de agressões várias, destruição de automóveis e outros bens patrimoniais e ataques a áreas de serviço nas auto-estradas? Penso que não. O problema é que, aparentemente, todos assobiam para o ar. Começando pela Liga de Clubes, a seguir a Federação Portuguesa de Futebol e o Ministério Público, nenhum destes representantes move uma palha para actuar e mudar seja o que for. Quanto a mim, com uma responsabilidade redobrada do Ministério Público, enquanto representante do interesse do Estado em todas as suas valências, quer educacionais, quer de alteração da ordem pública. Estes grandes clubes são empresas e, por isso mesmo, com personalidade jurídica. Então, sendo assim, porque não actua o representante dos interesses da Nação e os castiga exemplarmente?
Já sabemos que alguns dos adeptos que foram identificados pela PSP ou visionados pelas câmaras de televisão irão ser apresentados a juízo, e individualmente responderão, mas e os seus mentores? Quando é que serão responsabilizados com dureza pelo seu mau exemplo continuado e fomentador de distúrbios?
Pessoalmente não defendo um sistema legalista, assente na contínua repressão comportamental, como se tudo se regesse por réguas estáticas. Não me julgo daquelas pessoas que, a todo o passo, estão sempre a dizer “no meu tempo é que era bom! No meu tempo esta indisciplina nunca teria acontecido!”. Nada disso. Tenho a certeza que, comparando a actualidade com o tempo recuado, de mesmo em democracia, há cerca de três décadas, hoje vive-se melhor. O que tenho dúvidas é que, a continuar com esta liberdade sem regras, inevitavelmente, esta apatia em omissão, não conduza ao caos.
Sem entrar em grandes tiradas filosóficas, sabemos todos que a liberdade implica responsabilidade por parte de quem dela usufrui. Como tudo, a liberdade é um bem esgotável. E não é um fim em si mesmo. Pelo contrário, tal como o direito, na sua utilidade prática, é um instrumento que permite vivermos harmoniosamente em sociedade sem o perseguir obsessivamente. A liberdade (tal como o direito) é elástica e será tão extensível quanto necessário será ao homem na sua discricionariedade. Perseguir a liberdade como fim em si mesmo será arbitrariedade. Tomá-la como instrumento flexível de regulação societária será discricionariedade.
Depois de andar para aqui às voltas em filosóficas nuvens perdidas, penso, dá para ver que os clubes de futebol, ou outra qualquer instituição similar que actue da mesma forma, perseguem a (sua) liberdade como fim em si mesmo. Enquanto órgãos de paradigma educacional, não respeitando o exemplo a que estão obrigados a dar a todos, actuando sem limites, são alimárias ditatoriais no pior que pode ter uma sociedade.
Enquanto estiverem sujeitos a coimas entre 250 a 2500 euros, que se não fosse triste daria vontade de rir, é óbvio, pelo montante irrisório, a prevaricação compensa. E o futuro?
Até quando iremos assistir a estes desmandos?


(PODE LER AQUI A DELIBERAÇÃO DO DIAP SOBRE ESTE CASO)

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