Sentada num mocho, um banco pequeno, Fernanda Mendes, a dona desta loja, vai fitando os poucos transeuntes que entram na Rua Adelino Veiga. Não precisa de dizer, eu adivinho que o negócio não está grande coisa. É verdade, Fernanda, ou estou enganado? Às tantas, a caixa registadora já fez “plim”, hoje, várias vezes, e eu estou para aqui a lamuriar, interrogo. “Antes estivesse senhor Luís”, diz-me. “Isto está muito mau! Já viu que só se vêem lojas chinesas por aqui? Ainda por cima, consta-se, que as antigas Galerias Coimbra vão ser ocupadas por mais um comerciante da China. Como é que se pode?”. Interroga-me em apelo. "Olhe, vou estando cá até dar para a despesa. Quando vir que me estou a afundar, com muita pena minha, mas encerro de vez!"
Esta pequena loja foi, até há 12 anos, desde que a Fernanda tomou conta do negócio, a antiga “Casa das Bonecas”. É uma loja “sui generis”, para lhe aceder tem de se descer três ou quatro degraus. Ou seja, funciona abaixo do nível da rua. Até aos anos de 1980 –antes de ser construída a Barragem da Aguieira- sempre que havia inundações na Baixa, este estabelecimento de reparações de bonecas, guarda-chuvas e outros pequenos serviços, era sempre o primeiro a ser sacrificado pelas águas invasoras. Hoje, felizmente, embora não deixe de preocupar quem trabalha no Centro Histórico por causa do elevado assoreamento do Mondego, pelos menos, andamos todos mais à vontade.
Antes de me ir embora, interrogo a Fernanda: Porque é que o Ronaldo ri? –amplie a imagem. “Ele bem pode rir, sim! Não sei se o seu sorriso é de mim, se é de todos nós!...”
1 comentário:
É o que eu digo. Dizem que os supermercados e os centros comerciais estão a dar cabo do comércio tradicional, mas eu já não sei o que é que provoca mais estragos, se são os centros comerciais e os supermercados ou se são as lojas chinesas, que nascem por aí como cogumelos em tempo húmido.
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