(IMAGEM SURRIPIDA POR AQUI NA NET)
Os portugueses são de modas ou correntes de pensamento, de uso breve em acto de contrição, como quisermos chamar-lhes. Por momentos, lembremos a década de 1990, com a independência de Timor. E, agora, recentemente, as causas do Haiti e a da Madeira. Não penso que o princípio esteja errado –antes pelo contrário- o que ponho em dúvida é a honestidade do sentimento da caridade. O que quero dizer é que, ao que me parece, só nestas alturas de campanhas de grande envergadura, normalmente lançadas pela televisão, numa mimética indescritível, é que a consciência de piedade parece despertar colectivamente. Fora disso, a maioria, no dia-a-dia, parece alhear-se ou borrifar-se para o que se passa à sua volta, ou na casa do seu vizinho. Claro que, em descargo de consciência colectiva, lá vamos respondendo na interrogativa –e sobretudo você que me está a ler-: “olhe lá, ó seu “merdanas”, e o que é que isso tem de mal? Ainda bem, ao menos que haja um momento em que as pessoas respondam aos apelos. Era melhor que nunca respondessem?”. E claro, perante esta argumentação quase provocadora, fico meio emudecido. A gaguejar, titubeante, lá vou respondendo: é verdade, mas era muito melhor que o sentimento de inter-ajuda saísse lá de dentro, do âmago da alma, perante uma qualquer situação diária, e não reagisse apenas quando tocada pelo choque eléctrico da publicidade. Se fosse assim, as pessoas seriam mais humanas e o sentimento profundo seria mais natural. Entende o que quero dizer? Não entende? Pronto!, deixemos este assunto e vamos retomar o que me trouxe aqui.
Agora, depois do presumível afogamento do Leandro no Rio Tua, do aluno de uma escola em Mirandela, por sofrer "bullying" por parte de colegas, por ser alvo de pressão física e psicológica, não se fala de outra coisa. Até parece que este fenómeno nasceu há uma semana. Durante mais um mês, mais coisa menos coisa, vai falar-se disto, depois esquece-se e volta tudo ao mesmo.
Hoje o Diário de Notícias online escreve que mais um professor foi agredido violentamente por um aluno de 12 anos. Isto é notícia? Não. Nem sei por que razão o jornal lhe dá importância. Se ao menos o mestre tivesse morrido, ainda vá que não vá, agora ter ficado temporariamente incapacitado e ter de usar muletas…desculpem lá!, mas isto não é notícia!!
Quantos professores já foram agredidos nos últimos anos? Pois, dezenas largas, sim. Alguém faz alguma coisa? Fazem pois! As escolas abrem um processo disciplinar, falam com os pais e, coitada da criancinha, lá tem ela culpa de ter sido gerada e crescido no meio daquela família disfuncional –é tão gira esta palavra…”disfuncional”, adoro-a…”que não funciona de forma normal”. Aquela criança é simplesmente vítima da sociedade. Ah, pois é! E tudo vai correndo alegremente neste país disfuncional, em que nada parece correr bem e pouco parece funcionar normalmente.
É difícil de ver que estes dois casos, “bullying” e agressão aos professores, estão interligados? Terá de se comprar uns óculos graduados para ver que as políticas educativas das últimas décadas, nos absurdos direitos da criança, levados ao extremo, iriam dar nisto? Juro que gosto muito de Portugal, quanto mais não seja pelas leis que cá se fazem –no calor das refregas, igual às campanhas solidárias- que depois não prestam para nada, ou melhor, servem para obstaculizar e criar problemas ao cidadão comum. Gosto deste país, já disse! Faz-me lembra o meu vizinho Etelvino, que sempre que a Renault lançava um modelo novo, ele trocava de carro. Claro que passados uns meses, lá iam buscar o popó, porque ele não pagava. Mas isso interessa alguma coisa? O prazer de ser o primeiro a estrear o modelo já ninguém lho tira. Ó larilas! E nós, cá no rectângulo, somos iguais. Fomos sempre assim. Não há nada a fazer. Temos de ser os primeiros em tudo, para que o mundo veja como somos os maiores. Para não recuar mais para trás, fomos assim na abolição da pena de morte, em 1867. O que interessou foi ter saído a lei lá no Código de Seabra. Isso é que interessava. Se depois se continuou a matar pessoas nas colónias, isso eram pormenores, até porque eram pretos e, isso, não tinha nada a ver com o caso.
Na lei do Ruído, a nível europeu, fomos os primeiros, em 2000, a legislar com uma lei inovadora, fomos, não fomos? Isso é que interessa. Depois disso ninguém cumpre? Ora, isso não é importante, são meros pormenores de interpretação.
Tornámos a “violência doméstica” em crime público, de modo a que as vítimas não pudessem desistir da queixa? É verdade. Uma boa medida! Se uma grande maioria dos inquéritos não dá em nada e continuam a morrer mulheres quase diariamente…bom…isso não tem nada a ver com o caso.
Já nem falo da Expo 98, nem dos grandes Estádios de Futebol, isso para aqui não interessa mesmo nada.
O que é que isto tudo, esta palermice, tem a ver com o “bullying”? Sei lá! Quanto a mim nada. Aliás, palavra de honra que já nem sei porque é que comecei a escrever este texto. Desculpe lá…
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