sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
PRECONCEITOS PRIMÁRIOS
Enquanto a sociedade continuar a direccionar ódios em pessoas de comportamentos diferentes, como conta aqui o Diário de Notícias, não passaremos de bestas com forma humana. A aceitação de indivíduos "anormalizados", isto é, que não aceitem os padrões métricos daquilo que entendemos como normal, é uma obrigação de cada um de nós. Respeitar a idiossincrasia individual é muito mais que uma obrigação moral ou legal. É o projectar no outro o respeito que exigimos para nós mesmos. É lógico que não falo de padrões comportamentais que tocam o patológico -abandono pessoal na falta de higiene, agressividade, desrespeito pelas obrigações individuais perante os outros no todo, etc-, refiro-me a comportamentos, assentes numa vontade lúcida, que se negam a aceitar a normatividade da maioria. Cada um tem o direito de ser aquilo que quer ser e não ser o que a comunidade lhe impõe que seja. Quem ousa ser diferente, deveria ser encarado como um artista -um performer que utiliza o seu próprio corpo, corporalmente, através dos gestos, em desempenho continuado, para mostrar a arte que é emanada intrinsecamente do ser. O problema é que não é assim. Se a pessoa é diferente, mas consegue impor-se na arte -exceptuando a corporal-, a comunidade, de uma forma hipócrita, até esquece a sua diferença e aceita-o como um dos seus, algumas vezes até exagerando no laudatório. Se não deixar rasto nas artes, letras ou música, se é um significante igual a mim ou a você, é tratado a pontapé, como foi o caso desta notícia do DN.
Não acha que vale a pena pensar nisto?
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