sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

EDITORIAL: UM SOL NUBLADO






  Como já era de esperar, a edição do semanário “Sol”, dentro de poucas horas, estará nas bancas. Mesmo com a providência cautelar, como se previa, o jornal sairá na mesma.
Quanto a mim, que sou um analista de vão de escada, não se entende como é que, num momento destes, Rui Pedro Soares, administrador executivo da Portugal Telecom (PT), faz uma coisa destas. É evidente que é um direito legítimo que lhe assiste, mas, politicamente, este gesto foi desastroso. Só se entende enquanto acção meramente individual, e sem conhecimento de José Sócrates.
Mesmo assim, depois do lançamento falhado do petardo “providência cautelar”, foi melhor para os visados nas escutas que esta medida preventiva não fosse acatada pela direcção do jornal e não surtisse o seu efeito suspensivo do que o contrário.
Mas, neste episódio miserabilista na imprensa portuguesa, ninguém se vai ficar a rir. É demasiado grave para entendermos este “voyeurismo” e, trocando os “bês” pelos “vês”, chamarmos-lhe “interesse público”. Cada uma das partes irá pagar com juros o que se passou no “Sol”, a iniciar os estragos logo na edição do fim-de-semana passado.
Vamos começar pelo governo, encabeçado por José Sócrates. É certo e sabido que, pelas nuvens de fumo malcheiroso lançadas, não terá condições para continuar. O seu prazo de validade estará por dias. Inevitavelmente. E aqui, devemos reconhecer que, nesta segunda legislatura, logo a partir do momento em que tomou posse em minoria relativa, estava a prazo. Fosse por isso ou não, mas ganhou as eleições quando todos os analistas previam a sua derrota e, logo aí, tornou-se um corpo estranho no sistema. Deixou de ser reconhecidamente aceite, pela maioria de votos ganho nas urnas, para ser apenas tolerado.
Com um Presidente da República que não tem conseguido manter a sua imparcialidade necessária e que tem criado alguma instabilidade institucional. Com um maior partido da oposição a procurar apenas a guerra política e o “bota-abaixismo” sem ter em conta o superior interesse do país, como se viu, agora, na aprovação da Lei das Finanças Regionais, dando azo a um maior endividamento da Madeira, só porque Jardim é um correligionário. Com este acto, “camaleónico” e subserviente, não merece nenhuma credibilidade.
Com uma imprensa adversa, em que, nalguns casos, jornalistas que deveriam manter alguma isenção, parecem cães esfaimados a desencadearem ódio pessoal, nenhum governo aguenta –é engraçado –sem graça- como é que em pouco tempo se passa de “bestial” a besta fedorenta. Era bom que se pensasse um pouco se esta imprensa, que faz cair governos, em nome da liberdade de imprensa, será de facto um bem maior para o país. E desde o 25 de Abril de 1974 demasiados casos aconteceram. Talvez valesse a pena pensar no assunto.
Com uma Igreja Católica a minar na sombra para que as medidas tomadas não fossem avante, nomeadamente o casamento homossexual, era evidente este desfecho sem história e sem glória.
Outra das partes que vai pagar caro esta aberração do jornal é o povo, que somos todos, enquanto entidade abstracta. O governo cai num momento tão difícil para a nossa débil economia, que, só por isso, deveria unir toda a oposição para manter o executivo. Subsequentemente, muito em breve, teremos o princípio do caos instalado, com juros a subir, desemprego, provavelmente deflação, e também a sermos postos na mesma bitola da Grécia, porque até aqui foram mesmo só ameaças.
Quanto ao semanário “Sol”, sem querer parecer ave agoirenta, mas o jornal, por causa de duas edições esgotadas, apressou o seu fim. Os portugueses não gostam de jornais que fazem cair governos de uma forma pouco ética, como é o caso. Lembremo-nos do desaparecido “Independente” que, quase sozinho, fez cair o governo de Cavaco Silva no início da década de 1990. Tenho a certeza que, a partir de amanhã, sexta-feira, o “Sol”, progressivamente, tornar-se-á opaco, sem brilho, e cada vez mais nublado. Os portugueses não lhe vão perdoar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Até PGR já assume que afinal deveria ter ido mais além nas escutas, não brinquem com o povo, mereçemos respeito carago.

Anónimo disse...

Uma situação destas, num país civilizado levava à queda de muita cabeça. Aqui, neste país das bananeiras, mais não passará do que uma simples futilidade. Porca Miséria

AS disse...

Lamento dizer isto mas o povo gosta de ver tanta miséria e tanta corrupção! Porque se não gostasse agia e não permitiria que um homem destes continuasse a governar o país!Enfim...

Anónimo disse...

Amigo Luís, acerca de «Sol nublado»
:eu sou um admirador da sabedoria popular e sou daqueles que acha que o povo tem sempre razão e aplicando esses conhecimentos que o meu falecido avô me repetia chegei a esta conclusão muito simples, mas, parece-me(perdoem-me a imodéstia) muito acertados.
«Quem não deve não teme»-os visados,P.M. e outros, deveriam ser os primeiros a permitir a divulgação de escutas de modo a que todos vissem que são «inocentes» das acusações e/ou suspeitas.
«Onde há fumo há fogo»-Será que tantos processos e suspeições são apenas uma cabala ou orquestração da oposição política?
Poderia continuar com mais alguns ditos populares que fariam todo sentido porque a «a sabedoria do povo é infinita», mas termino com «a verdade é como o azeite vem sempre ao cimo de água», e é aqui que (desculpe avô) começo a duvidar; o dinheiro, o estatuto social, o poder e outros aspectos estão nesta altura da vida do país a valer mais do que a força da razão, da honestidade e dignidade do povo. Em resumo, «paga o justo pelo pecador», ou seja, todos nós:os cidadãos deste país.
Abraço Marco