sábado, 20 de fevereiro de 2010
ESTE MUNDO INJUSTO DA BELEZA
Andava eu a viajar no meu bólide supersónico pelo ciberespaço quando, ao virar da esquina da travessa 31, encontrei a Angelina Jolie a mirar-se na montra da loja do senhor Alfredo. Perante o quadro surpreendente, eu nem sabia se havia de olhar para a rapariga se para o velho merceeiro. O homem estava de todo. De olhos esbugalhados, prestes a saltarem das órbitas, de boca aberta, a espumar baba sobre a camisa aos quadrados, nem sei o que me parecia o raio do velhote. Como não estava com paciência para procurar no meu cérebro, rapidamente comparei-o com o maltês, o cão da minha vizinha Efigénia. Quando anda com o cio fica assim, a espumar pela boca e a arfar…”hã…hãa”. O senhor Alfredo parecia uma múmia descoberta nas pirâmides do Egipto. Ai, palavra de honra, com aquele rosto esquálido, magricela de carnes, parecia mesmo a Nefertiti, que andou por aí há dias nos jornais, em pose horizontal.
Perante aquilo, aquele quadro cénico, fiquei também embasbacado. Queria mandar um piropo à Angelina ou um assobio, mas não saía nada. Reparei que entraram três ciganas no estabelecimento do senhor Alfredo, começaram a encher os casacos com mercearia e o homem nada. Não dava acordo de si. Lá em cima, sobre a cabeça do octogenário, o Santo Onofre, de mãos erguidas ao céu, pedia ao Pai que fizesse acordar o senhor Alfredo, mas nem com milagres o homem lá ia. Só tinha mesmo olhos para a Jolie.
Não gostei daquilo. Mentalmente pensei que vivemos num mundo injusto, onde se corre atrás da beleza exterior, da futilidade. Felizmente que a maioria das mulheres nem se dá conta da arma terrível que transportam no corpo e com que a natureza as contemplou. Ai dos homens, como eu e o senhor Alfredo, pobres de espírito, estavam tramados perante um exército de beleza ambulante. Perdíamos tudo, era pior que o jogo do Poker.
Liguei novamente o meu bólide supersónico e pus-me à estrada, como quem diz, fiz-me ao espaço, e, nem de propósito, ia a passar ali na Ribeira da Pena Longa, não sei se conhecem, ali para os lados da capital, e zás!, dou de caras com esta rapariga, simpática, que tinha um grande cartaz à frente: “Quero ser amada”. Está certo, acho que tem muita razão. Mentalmente, comparei-a com a Angelina Jolie. Que diabo, nem são muito diferentes. Pronto, está bem! Há ali umas diferençazitas, mas que raio, esta rapariguita da Pena Longa nem é nada de se abandonar ao vento. Os homens são muito mauzinhos! Está certo, isto? Uma, a Angelina, tem carradas de esfaimados atrás dela e a rogarem pragas, de inveja, ao marido, ao Brad Pitt, a outra, esta inocente de Lisboa tem de colocar um anúncio a pedir a todos os santinhos homens, ao menos haja um, que olhem para ela. Tive tanta pena desta miúda, ai, juro pela minha avozinha que já lá está, e que nada a faça vir cá abaixo. Até naquela frase inocente se poderia ler o seu desespero: “Se estás para amar e ser muito amado, então tens aqui uma mulher bem-disposta para te dar tudo o que é possível. Escreve uma frase linda para mim e deixa contacto. Beijinhos”.
Não é uma ternura esta mulher? Ah, pois é. E deve ser muito honesta. Já viram que ela escreve “para te dar tudo o que é possível”. Se ela fosse uma doidivanas qualquer, prometia logo o céu, mas não, prefere ser muito racional como são todas as mulheres.
Estas injustiças, assentes em padrões e parâmetros de beleza não podem continuar. Isto é profundamente discriminatório. Tenho razão, não tenho? Pois claro que tenho. Coitada desta rapariga da Ribeira da Pena Longa…
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3 comentários:
Não tem anada a ver com o post, mas quando vi este blog lembrei-me de si...
A escrita é parecida...
Pedro Galveias
Olá Pedro. Deve faltar aqui, no seu comentário, qualquer coisa. Talvez um endereço. Envie para eu ir cuscar. Abraço.
Luis
http://asmoscasdocostume.blogs.sapo.pt/
PEÇO IMENSA DESCULPA... ENTROU UM CLIENTE E FALHOU...
ABRAÇO...
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