terça-feira, 5 de abril de 2011

BAIXA: A CARTA SURPRESA

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 Hoje, de manhã e pela mão do carteiro, os comerciantes da Baixa foram surpreendidos por um envelope aberto e com o endereço de “Sr(a) Comerciante da Baixa de Coimbra”.
Lá dentro um convite, “venho convidá-lo(a) a participar no encontro debate de todos os comerciantes da Baixa de Coimbra, que estou a organizar para o dia 16 de Abril de 2011, às 16 horas, em local a definir na Baixa de Coimbra”.
Conforme se pode ver na carta em destaque, vários temas são apresentados “como meras sugestões, porque os temas a debater são definidos pelas intervenções e cada um dos comerciantes”. 
No fim a missiva é assinada por Sérgio Reis.

QUEM É O SÉRGIO REIS?

Por impossibilidade de agora ser contactado telefonicamente, falarei do pouco que sei acerca do Sérgio Reis. Conto, mais tarde e logo que seja possível, apresentar o seu currículo.
Conheci o Sérgio há cerca de quatro meses. Disse-me estar preocupado com a situação do comércio tradicional e mais especificamente a Baixa. Confidenciou-me que, embora não estivesse ligado directamente ao comércio de rua –era comercial, salvo erro, vendedor numa firma próximo da cidade-, via com muita apreensão o possível licenciamento de autorização camarária na abertura das grandes superfícies ao domingo todo o dia.
Falámos sobre a situação comercial no Centro Histórico. Mais tarde almoçámos juntos e, às suas interrogações, tentei responder com sinceridade. Manifestei-lhe toda a minha disponibilidade. Para além disso, dei-lhe por sugestão falar com o presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, Armindo Gaspar. Sei que mais tarde se encontraram e que tiveram uma reunião na sede da agência e onde esteve presente toda a direcção.
Entretanto foi-me enviando alguns textos que publiquei aqui no blogue.

-COMERCIANTES SÊ REVOLUCIONÁRIOS. AGARRAI EM VOSSAS FORÇAS E LUTAI -TÍTULO DA MINHA RESPONSABILIDADE.

E O QUE PENSAM OS COMERCIANTES DESTA INICIATIVA?

Fui então ouvir os comerciantes que hoje receberam o convite. Não sei se teria sido extensível a toda a Baixa, mas a verdade é que nem todos receberam.
Comecei na Rua das Padeiras. O primeiro comerciante que manifestou opinião disse: “Se está com boas intenções, devemos ouvi-lo. O que este homem está a fazer, este trabalho, deveria ser feito pelas entidades responsáveis pela defesa dos comerciantes, nomeadamente a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e pela APBC. Estas duas entidades são quem deveriam tomar esta atitude. Isto é como o nosso país, se não se sabe governar, que venha quem o souber fazer. Vou fazer tudo para estar presente no debate.”
Outro empresário na mesma rua começou por dizer que estava surpreendido com esta missiva, obsessivamente, interrogava-me: “quem é este Sérgio Reis?”. Ao perguntar-lhe o que achava da mensagem, em resposta, disse: “a ideia é boa. Simplesmente, a meu ver, é um caso isolado. Falei já com alguns colegas e todos estranharam como é que uma pessoa de fora se interessa pelo comércio. Às tantas é alguém que se quer lançar na política. É esquisito como é que uma pessoa sozinha e vinda de fora se vem meter nesta questão. Por outro lado, tenho de dizer, é meritório. Precisamos de pessoas que se interessem pela situação do comércio já que quem o deveria fazer não o faz. Em princípio estarei presente no encontro.”
Outro ainda: “é uma causa avulsa. Estou céptico. As coisas não se resolvem assim. Sem apoio institucional nada se consegue. Só havendo conjugação de esforços. Claro que esta iniciativa vem pôr a nu a fragilidade de quem está á frente de instituições que deveriam defender os comerciantes e assobiam para o lado.
Isto é voluntarismo. É pena, mas não chega. Estas boas vontades só têm um lado bom: falarem da Baixa. É um sábado de Páscoa. É mau dia para esta reunião. Quase de certeza que não irei estar presente.”
Ainda na mesma Rua das Padeiras, outro comerciante proferiu o seguinte: “as intenções é que contam. Todos os temas que estão neste convite são questões que nos apoquentam. Mas há uma coisa: o que move uma pessoa que não está ligada ao comércio? Vamos lá ver se não é mais um a vender fantasias. Vamos ver. Não podemos fechar-lhe as portas. Devemos apoiar. Eu vou lá estar para ver o que é que sai dali.”
Outro ainda, agora uma senhora, “Fui surpreendida pela carta. Estou muito preocupada com o estado a que chegou esta Baixa. Não há dúvida de que é uma boa iniciativa. É de aderir, sim. Fala das nossas principais preocupações que nos afectam no dia-a-dia. É de ir para a frente. Em princípio estarei presente.”
E mais um ainda, “É interessante. Tudo o que se possa fazer pela Baixa é sempre bom. Precisávamos era de trazer a Fnac para aqui. Olhe lá, para que serve o Museu do Chiado? Nunca se vê lá ninguém. Porque é que a Câmara Municipal não convida a Fnac a instalar-se lá?”
Na Rua do Corvo, um comerciante que não recebeu convite pelo correio, ao ler a carta, disse o seguinte:”está dentro daquilo que penso para a Baixa. Já há muito tempo que defendo tudo isto. Estou de acordo com tudo o que aqui se promove.
Isto envergonha quem nos deveria representar. Esta carta é uma bomba. Vai criar uma guerra surda. Quem deveria tomar esta iniciativa deveria ser a ACIC, ou, em último, a APBC. Vou estar presente.”
Na Rua Eduardo Coelho, um outro comerciante pronunciou-se assim: “é um homem de boa-vontade. É mais um soldado, mais um Arcanjo para ser abatido, para levar pancada… como nós temos levado. Eu não espero nada disto. Estou céptico. Isoladamente não vai conseguir nada. Só se consegue fazer alguma coisa se for a partir de um movimento gerado na sociedade civil. Um grande movimento do tipo da manifestação em Lisboa, da geração “à rasca”. Numa grande manifestação, temos de mostrar o que queremos. Os estudantes já mostraram. A sociedade, pelo número de manifestantes na Avenida da Liberdade, também. A situação do comércio tradicional terá de passar por aí.
Estou na reserva. Passei de lutador a observador. Até ao dia da reunião irei decidir se estarei presente.”
Um outro comerciante, ali para os lados da Praça do Comércio, disse isto: “cada um puxa para seu lado. Não reunindo esforços, a conclusão será zero. No fim de andarmos a partir pedra a única coisa que sobra são os calos nas mãos. Verdadeiramente, acerca dos interesses que poderiam ajudar a resolver a nossa vida…como sempre, ficará tudo igual.
Por um lado, a ACIC não faz nada; por outro, a APBC tenta fazer mas, até agora, não há resultados para os comerciantes –referindo-se a não haver mais negócio com as festividades. Por outro lado, o jornal Campeão das Províncias, há cerca de um mês, lançou a ideia de se realizar um grande debate nacional sobre a Baixa. O que aconteceu, já que este semanário não escreveu mais nada? Desistiu, foi? Já estamos habituados a lançarem tiros de pólvora seca. É normal.
No entanto, saliento, estas iniciativas serão sempre de valorizar. É uma pena que ao longo do tempo, depois de conversa fiada e mais conversa, tudo se perca.”

E O QUE DIZEM OS REPRESENTANTES DOS COMERCIANTES?

Acerca deste assunto, recebi informações de Paulo Mendes, presidente da ACIC, de que “há pouco tempo recebi um e-mail do Sérgio Reis, a falar-me desta iniciativa de realizar um debate sobre o comércio. Respondi que sem saber mais pormenores não iria envolver a ACIC. Apenas com alguns dados respondi que não estaria interessado. Até agora não obtive mais quaisquer informações.”
Armindo Gaspar, presidente da APBC, sendo confrontado com a carta, uma vez que desconhecia a sua distribuição porque não recebeu, declarou o seguinte: “conheci o pensamento de Sérgio Reis através do blogue Questões Nacionais e sobretudo pelas cartas que ele escreveu. Depois, mais tarde, encontramo-nos pessoalmente. Como considerei as suas ideias muito importantes, convidei-o para estar presente numa reunião de direcção da APBC –aliás, o mesmo que faço sempre que me aparecem pessoas com ideias úteis para o comércio. Nesta reunião conjunta apresentou os seus pontos de vista. Achámos bem, até porque é um cidadão comum interessado em contribuir e ajudar o mercado de rua. Ele transmitiu o seu projecto e não ficou nada decidido. Acolhemos de bom grado as suas ideias. Ficou tudo em suspenso. Isto é, sem compromissos de parte a parte.
Posteriormente o Sérgio publicou uma crónica aqui no blogue e a APBC ficou à espera de novos desenvolvimentos.
Agora, ao tomar conhecimento desta carta, que não recebi pessoalmente, fiquei surpreso. Acho que está a fazer isto isoladamente. Se fosse em parceria com a APBC, estou convencido, seria muito melhor sucedido. Até porque não lhe fechámos a porta. Acabo por não entender este procedimento, mas cada um, dentro da sua liberdade, fará o que bem entende. Uma coisa posso garantir, a direcção da APBC, da qual sou o presidente, estará sempre de braços abertos para receber estas e outras novas ideias e tentar colocá-las em prática.
Se for convidado –o que até agora ainda não aconteceu- é óbvio que estarei presente neste debate.” –depoimento de Armindo Gaspar, presidente da APBC.



1 comentário:

Sónia da Veiga disse...

Compreendo o Sr. Sérgio Reis: ele sente uma urgência tremenda e a ACIC deixou-o na mão e, como tudo ficou em suspenso com a APBC (notável nas suas iniciativas, mas já com tanto em mãos!), decidiu avançar.
Espero que haja muita adesão e que, independentemente de receberem convite ou não, tanto a APBC como a ACIC se juntem a este debate de modo construtivo. Esta não é altura para cumprimento de regras de etiqueta, mas sim de lutar pela Baixa!!!