sábado, 15 de maio de 2010

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)

(Foto de Leonardo Braga Pinheiro)


Marco deixou um novo comentário na sua mensagem "HOJE DE MANHÃ CHOREI": 

 É verdade Luís, em pleno sec. XXI existem pessoas que não têm de comer. Ficam sem as condições básicas de sobrevivência e higiene por falta de pagamento de água e electricidade. Todos os casos me custam tomar conhecimento mas recentemente ouvi um que me chocou profundamente. A pessoa em causa, cujo nome não vou divulgar porque é um senhor conhecido na Baixa e de certeza (conheço-o pessoalmente) e não me iria perdoar por orgulho e vergonha. Como dizia, é um antigo comerciante com duas casas comerciais que davam emprego a várias pessoas. Teve o seu período áureo até meados dos anos 80. Com a abertura das grandes superfícies começou o declínio. Teve a «ajuda» de funcionários em quem depositava toda a confiança (foi o seu erro), que na sua ausência tratavam a caixa como pessoal. Era um patrão como já não existe: sempre pronto a ajudar os seus empregados. Quer adiantando dinheiro, quer avalizando empréstimos bancários. Aos filhos quis que tivessem o que nunca teve em criança. Ajudou-os a formarem-se e a começar vida. Indigentes e sem-abrigo sabiam que uma moedinha no mínimo cairia quando solicitada. Resumindo, foi sempre uma boa pessoa. Nunca foi um patrão explorador, pois como se costuma dizer veio do nada. Actualmente, nada tem. Vive de uma reforma de cerca de 250 euros. Perdeu o comércio porque não soube parar. Teve sempre esperança como dizia «isto há-de melhorar» ou «melhores dias virão». Mas não vieram e para não ficar a dever nada a fornecedores e funcionários (a estes nunca faltou, por vezes com sacrifício pessoal e familiar), acabou por alienar todo o seu património. Era, e ainda é, muito orgulhoso, sério, honesto e com uma dignidade acima da média. Hoje está sozinho. A família incompatibilizou-se com ele, pois não aceitaram a venda do património para liquidar as dívidas (gaba-se de não ter ficado a dever nada, nem ao Estado). Os filhos não lhe ligam (não sou pai, mas deve ser uma dor horrível), os empregados que ele ajudou (a maioria) já não o conhecem. Mas este Homem, viúvo, que vive num quarto, não tem de comer nalguns dias, continua a colocar a sua melhor gravata e o único casaco que tem para ir ao café, vivendo uma ilusão: «melhores dias virão». Tem um único desejo que os filhos se lembrem dele um dia.
Abraço
Marco

P.S.-Isto não é história nem ficção. É a realidade actual de um antigo comerciante, a quem a vida não recompensou de todo o bem que fez. O que me surpreende é a sua falta de revolta e a sua aparente tranquilidade. A vida é tão injusta!

1 comentário:

Jorge Neves disse...

Toda a razão Marco, a vida é mesmo injusta.Quando conhecemos alguem que nem se revoltar consegue não é nada bom.