terça-feira, 25 de maio de 2010

A COLUNA DO MARCO...

(Retirei esta imagem daqui)


EPISÓDIO MATINAL




Hoje foi dia de «gazeta» ao trabalho para tratar de assuntos pessoais. E ao percorrer a Baixa assisti a uma situação que classifico como triste, deplorável e ao mesmo tempo é a realidade dos nossos dias. Conto o episódio, não por ser interessante ou invulgar mas por vários motivos:

1º-A toxicodependência, infelizmente, atinge quase toda a população. Directa ou indirectamente, todos temos alguém na família ou conhecemos pessoas com este problema. Por outro lado, sofremos consequências como roubos e furtos, insegurança na via pública, etc.;

2º-Demonstrar o sentimento de impunidade, de criminosos como traficantes, que  vigora actualmente;

3º-Estas situações não são exclusivas de grandes cidades como Lisboa e Porto;

4º-O medo ou conivência de represálias de comerciantes e proprietários de estabelecimentos de restauração.
     A situação foi a seguinte: cerca das 10 horas, estava na Praça 8 de Maio, a ver a montra do Olímpio Medina, e ouvi uma pequena algazarra na Rua Direita. Como bom “portuga” fui «corujar». Então, um senhor de meia-idade discutia com dois indivíduos. Um era seu filho, o outro um traficante de droga (um tipo forte com um boné do Benfica, cliente habitual e diário do café/taberna referido). O pai, nitidamente um homem de trabalho, dizia ao filho: «dei-te o dinheiro para pagar a luz e tu vens comprar droga! e dás cabo da tua mãe, qualquer dia dá-lhe uma coisa!».
O criminoso (não encontro outra palavra) afirmava para o «cliente»: «leva daqui o velho, senão fodo-o e tu és parvo ou quê? Queres dar-me “cana”? trazes para aqui o caralho do velho?!».
 Isto durou alguns minutos e juntou-se meia dúzia de indivíduos, que impacientemente esperavam pelo fim da discussão para se abastecerem. O (…) (é o criminoso, segundo sei já com antecedentes pela mesma prática) lá despachou o velho e começou a distribuição. De uma forma, devido ao à-vontade e naturalidade como o fez, que me  chocou. Virou-se para mim e disse «nunca viste? está a andar!». Sucintamente, foi isto que se passou.
     Este episódio dá que pensar, pelo menos a mim! Para além dos motivos que já referi acima, lembro que o local fica a 70 ou 80 metros da esquadra da PSP. Ou seja, a desculpa da distância da polícia em relação à cena de crime (sim, o tráfico de droga  é crime!) não se aplica ao caso. Além disso, acho uma vergonha ocorrer este tipo de crime (ou outro qualquer) à porta de instituições que os deveriam evitar, ou, pelo menos, precaver. Como já disse, o sentimento de impunidade e de estar acima da lei deste bandido é chocante. Para ele é normal vender droga. É mesmo o único trabalho que tem desde alguns anos. Ajudar os desgraçados a dar cabo da sua vida e dos seus familiares, é normal.
     Um aspecto que me surpreendeu foi o facto do proprietário do estabelecimento não dizer absolutamente nada, e continuar a atender o traficante normalmente, como se nada fosse. Aqui só existem duas possibilidades ou opções: ou é conivente, e não se importa que trafiquem  à sua porta, ou tem medo de represálias. Não sei qual é a realidade, mas sei que o dito traficante é cliente diário, e dos «bons». Gasta muito em bebida, principalmente. Sei sim qual seria a minha reacção se fosse dono do café: proibia a sua entrada e não lhe venderia nada; para além de comunicar e facilitar a investigação às entidades de segurança pública.
     Em resumo, existe tráfico de estupefacientes na Baixa, mesmo em frente à CMC, e a poucos metros da esquadra da PSP. Os criminosos são conhecidos de todos os que circulam e vivem na Baixa. A novidade não é o facto de existir tráfico é a forma como já é feito. Ou seja, à vista de todos e sem medo de ser detido, ameaçando até os pais de toxicodependentes. Outra novidade é que já não vão para becos e ruas mais recatadas, o tráfico é feito á porta de estabelecimentos de restauração. Este aspecto, a mim pelo menos surpreende, como é possível autorizar esta actividade na sua própria porta?
     Por último, a pena que tive daquele pai! Via-se que era um  homem de muito trabalho, humilde e modesto. Em nítido sofrimento pessoal. Completamente destroçado. Visto que o bandido vai continuar a vender droga, espero que o  filho tenha alguma vergonha da situação que fez o pai passar e reencaminhe a sua vida.
Um cidadão revoltado e preocupado.
Marco 

Sem comentários: