(FOTO DO JORNAL DE NOTÍCIAS)
O que se está a passar em Mirandela, com uma professora que posou nua para a revista “Playboy”, no mínimo, dever-nos-ia envergonhar a todos.
Como se sabe, e noticiava ontem e hoje o JN e o DN, entendeu o director da escola da Torre de Dona Chama, onde a professora exercia, solicitar à Câmara Municipal que tomasse uma atitude. Até aqui, pensei, tudo bem. Nem é de estranhar, ignorantes há muitos, a começar por mim. Afinal tratava-se simplesmente de um professor, num cargo de direcção, enviesado, que não via mais do que um palmo do que estava à sua frente.
O problema começa a extravasar quando, à noite, na TSF, ouvi falar a vereadora da educação, Gentil Vaz, e o presidente da autarquia da cidade de Mirandela, José Silvano, afirmarem, preto no branco, “que pelo alarme social causado tinham decidido o seu afastamento das actividades lectivas. Foi colocada no Arquivo Municipal. Foi necessário, porque já toda a gente gozava com a situação” –estas mesmas declarações vêm hoje insertas no jornal Público.
Antes de outras viagens analíticas, convém definir, se conseguir, o que é, afinal, o “alarme social”. Andei pela Internet e, roubando uma frase aqui e outra acolá, fiquei na mesma. Ou seja, não consegui um retrato claro do monstro. O que sei é que é algo, um movimento, que pode atentar contra a coesão social e à própria coabitação democrática. Para ser considerado como tal, tem de ter acoplado uma previsão apocalíptica imanente. Isto é, tem de ser algo que atente contra a ordem estabelecida no Contrato Social. Algo que, pelas suas consequências, em rotura, possa conduzir ao caos.
Só para se entender melhor, há meses, em Óbidos foi descoberta uma base militar da ETA, movimento de guerrilha urbana espanhol. Mesmo perante os explosivos apreendidos, veio o Presidente da República proclamar ao país que tal descoberta não era passível de causar alarme social.
Ora, por aqui, já podemos ver que umas fotos de uma mulher nua podem causar mais dano que uma bomba de deflagração com dinamite. Se isto não fosse tão ridículo até poderia dar vontade de rir. Mas, infelizmente, é o caso. Estamos perante um pacovismo, um atraso de mentalidade quase geral, uma indecência de alguém –refiro-me às pessoas que exercem cargos políticos e que fizeram tais declarações- que pelo múnus público que ocupam tinham obrigação de ver para além da bruma e não cederem, em servilismo eleitoral, a um povo subdesenvolvido e estúpido.
Num tempo em que se discute o TGV, Transporte de Grande Velocidade, constata-se que estas pessoas ainda viajam no comboio a vapor. Numa época, no século XXI, em que pelo mundo fora, e aqui, se legaliza o casamento homossexual, ali, ainda se penaliza a mostra do corpo, igualmente à Inquisição, a partir do século XVI.
O mais grave, e isso é que me incomoda verdadeiramente, é que esta intolerância perante os outros é transversal ao país e, pasme-se, atravessa todas as profissões e níveis de intelectualidade. Somos assim um país divido ao meio, entre o retirar água do poço com motor ou, através de esforço físico, à cabaça.
Ainda ontem, na RTPN, ouvi a Jornalista Inês Serra Lopes comentar que “neste caso a professora Bruna Real deveria optar. Ou decide ser professora ou mostrar o corpo”. Isto vindo de uma mulher é tão patético que, como homem, até me faltam adjectivos.
Tenho esperança que o destino se irá encarregar de compensar a professora Bruna. Tenho quase a certeza de que, por linhas tortas, vai alcançar a meta desejada e dar uma grande lição a quem a merece.
Já muitos comentadores o disseram, os portugueses, para além da internacional, não têm uma só crise interna, têm várias que impede o seu desenvolvimento e crescimento. O grave é que parece que estas pessoas agem pela mesquinhice, pelo sucesso de quem se distingue em qualquer campo. É o “bota-a-baixismo” militante. É o reflectir nos outros a frustração individual que alastra na comunidade. Infelizmente para Portugal, Mirandela é apenas uma pequena amostra de alheiras.
4 comentários:
Inadmissivel! Ainda dizem que vivemos numa democracia... :S
também fiz um post sobre isso..
Somos mesmo um país de atrasados.Se fosse capa de revista com um cachecol de um clube desportivo já não fazia mal. Cambada de ignorantes
Ela é tão boa!
Enquanto os preconceitos não deixarem de existir, haverá sempre situações destas. É inacreditável que se confunda a vida profissional com a vida pessoal. Se uma não interferir na outra, que mal é que tem?! A professora Bruna alguma vez faltou ao trabalho ou alguma vez deixou o serviço mal feito por causa da revista? Se não, para quê este alarido todo? É absolutamente ridículo.
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